A política de abandono do interior

Não há hoje pequena cidade do interior de Portugal que não lute pela manutenção de alguns dos serviços de interesse geral.

Vão-se as maternidades, fecham-se as escolas, acabam os pólos universitários, desiste-se da construção do novo hospital, um teatro que falece, o fim de mais um centro de juventude, o quartel que desloca os últimos magalas...

Tudo em nome da reorganização administrativa.

Paulatinamente vai morrendo o interior. Para gáudio dos que nas capitais já reclamam pelo fim de municípios e freguesias, indiferentes a quem ali vive.

País de paradoxos, o nosso!

O litoral dos mais sobrepovoados da Europa (vd. aqui o alarmante relatório da Agência Europeia do Ambiente sobre a situação das zonas costeiras, ou por aqui alguns passos significativos desse relatório) apresenta hoje factores de risco e decréscimos assinaláveis da qualidade de vida.

Porém, esvazia-se o interior para que todos os dias aportem mais pessoas ao continuum urbano do litoral, exercendo assim maior pressão sobre estas zonas problemáticas.

Paradoxo também porque sendo a realidade aquela que é, a proposta de Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território do mesmo governo que todos os dias fecha mais um pouco do interior, diz nem mais nem menos do que isto:

"A promoção da coesão territorial pressupõe a capacidade de as cidades dinamizarem processos de desenvolvimento regional e assegurarem o acesso generalizado a serviços de interesse geral, incluindo os serviços económicos. Por outro lado, a eficiência das intervenções de desenvolvimento regional depende da forma como as diversas acções se reforcem mutuamente, o que implica a concentração de intervenções tomando a rede de cidades como referência.

Nas áreas de urbanização difusa torna-se necessário estruturar polarizações urbanas que racionalizem as redes de infra-estruturas e equipamentos. Nas áreas de menor desenvolvimento, o reforço das cidades é condição de suporte ao desenvolvimento das actividades económicas e do emprego e de renovação demográfica, social e cultural.

Para além de uma atenção particular ao desenvolvimento das cidades de média dimensão, importa reconhecer o papel dos pequenos centros, sobretudo no desenvolvimento sustentável do espaço rural".



JM Ferreira de Almeida
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Quarta República

Comentários

Al Cardoso disse…
E tudo isto, que embora com palavras menos doutas, tenho afirmado no meu humilde sitio.

Nao sera a esvaziar o interior com o pouco que ainda possui, que se lhe dara possibilidade de algum desenvolvimentto, para estancamento da desertificacao.

http://aquidalgodres.blogspot.com
Caros amigos, com papas e bolos...

Menos demagogia, por favor: grassa uma enorme "confusão" na cabeça de JM Ferreira de Almeida! É tão grande o emaranhado de ideias erróneas que nem vale a pena tentar desbravar a partir do que ainda resta dos aceiros...

Mas atenção, urge desmontar os efeitos perniciosos destas opiniões, pois com este estilo de prosas pretende-se tão-só atingir um objectivo: denegrir este Governo!

Repare-se na mensagem subliminar: o mesmo Governo que elabora estes belos objectivos (no PNPOT) "esvazia" o Interior e "encerra um a um" os serviços essenciais!

Tanta demagogia num só parágrafo é obra! Entendamo-nos: os objectivos do PNPOT podem ser ilusórios e (perversamente) ingénuos, mas são absolutamente inócuos.

A falácia está em pretender que a desertificação do Interior é não só o fruto de uma intenção deliberada, que obviamente não é, como resultante da acção deste Governo!

É o resultado sim da acção e da OMISSÃO mas de muitos Governos, mas também e principalmente o fruto de orientações de desenvolvimento que radicam muito fundo na nossa História (desde a famosa época dos Descobrimentos...) e nunca ninguém se preocupou em corrigir!

E é claro que são igualmente consequência dos condicionamentos macro-económicos com que o País se confronta. Para os quais só o G8 e outros centros de decisão equiparáveis poderão encontrar soluções adequadas...

Por outro lado, culpar o Governo por encerrar serviços que já não apresentam níveis de procura mínimos aceitáveis e, ao mesmo tempo, crucificá-lo se ele não diminuir a despesa pública não é mais (nem menos...) do que exigir Sol na eira e água no nabal, se é que me faço entender...

Quanto à do suposto "gáudio" dos citadinos por verem morrer o Interior, só pode mesmo resultar de alguma patologia maquiavélica apanhada em algum ambiente menos próprio...

Toda a gente sabe que a maior parte dos citadinos têm não só a maior estima como até ligações ao interior e sofrem com o seu esfarelamento, tanto ou mais do que os que por lá (sobre)vivem.

A macro-cefalia portuguesa é uma fatalidade, não um desiderato dos "iníquos" e "sádicos" habitantes das "capitais", que têm "inveja" da pureza campestre e querem "destruí-la". Isto dava um autêntico conto de fadas de terror...

Mas para salvar o Interior, caro JM Ferreira de Almeida, é de facto preciso que nós todos, habitantes das Cidades incluídos, percebamos que o nosso nível de vida tem de sofrer com isso. Que temos de comprar menos jipes e tele-móveis se quisermos continuar a poder olhar para o mapa de Portugal e não ver uma língua litoralizada.

Que manter o Interior pode custar caro, mas esse investimento será bem recompensado, a longo prazo.

É necessário uma espécie de pacto social, para que o Interior sobreviva!

Eu estou disposto a pagar o preço: implemente-se a Regionalização JÁ e crie-se um IMPOSTO ESPECIAL para financiar políticas de atracção de população para o Interior, com base numa rede de pólos (Cidades e Vilas) de referência!

Siga-se o exemplo de Berlim-Oeste (entre muitos outros, a começar por Israel), antes da queda do Muro, onde o Estado Federal Alemão Ocidental investia maciçamente para apoiar a fixação de estudantes, artistas, investigadores, etc. e, assim, evitar o declínio demográfico do que era uma autêntica "ilha" encravada em território inimigo, que custava caríssimo manter (recorde-se que, nesse tempo, até as couves e a fruta tinham que vir da R. F. A., pois não havia relações económicas entre Berlim-Ocidental e os seus próprios arredores...)!
Anónimo disse…
a política das migrações do interior para as grandes cidades é um "toca o disco e vira o mesmo" pois mais rápido k o k se pensa, e já começou, dá-se o inverso.