RESPOSTA 2

A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II
«Há evidentes vantagens socio-económicas e ambientais, aliás para toda a Região, em impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica, da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio!», editado por A. Castanho @ 4:08 PM

Comentário:
Em vez de estancar administrativamente o crescimento urbano e populacional, deixando por satisfazer a procura existente, por que não aumentar a oferta (sobretudo nas áreas mais próximas dos locais de trabalho)?


Até parece o “ovo de Colombo”, mas não é: trata-se efectivamente de uma das CHAVES PARA A COMPREENSÃO DO PROBLEMA (parabéns, caro comentador)!


Mas repare que, como demonstrei acima, estancar o crescimento populacional e urbano das áreas metropolitanas NÃO significa deixar de “satisfazer a procura existente” (aliás reconhecidamente mais do que satisfeita, como se sabe: Lisboa é já das Cidades europeias com maior número de fogos por habitante – somos mais ricos que a própria Alemanha???!!).

Por outro lado, “aumentar a oferta nas áreas mais próximas dos locais de trabalho” significa, precisamente, RECUPERAR O PARQUE HABITACIONAL DA CIDADE DE LISBOA, onde se localizam mais de metade dos empregos de toda a A. M. L. (e isto só na Coroa entre o Tejo e o arco Pç. Espanha-Entrecampos)!!

Mas não é nada disto que tem sido feito e sim uma autêntica pulverização dos habitantes por “urbanizações” cada vez mais longínquas e afastadas dos seus locais de trabalho, que desde Sesimbra a Sul já chega a Norte a Benavente e até Torres Vedras!...

Sem quaisquer vantagens para a diminuição da distância aos empregos, porque a mobilidade laboral tem crescido muito mais do que a mobilidade habitacional, por razões que se prendem, por um lado, com a crescente precarização dos vínculos de trabalho, a todos os níveis sociais, e por outro com a rigidez das leis e os valores das taxas que regem e oneram a transmissão de propriedade imobiliária e, sobretudo, o arrendamento urbano!


Isto porque:
- os municípios envolventes da cidade de Lisboa (onde se localiza uma parte considerável da oferta de emprego da Região de Lisboa), não tiveram a capacidade de atrair empresas em número significativo e de lhes proporcionar condições competitivas de localização;
- muitas empresas, por razões culturais e de status social, continuam a preferir exibir uma morada de Lisboa como sede social.


Aqui reside de facto o fulcro do problema (e o erro de análise do comentador!): apesar de em alguns Concelhos da A. M. L. se ter tentado, com maior ou menor sucesso, contrariar esta tendência (vejam-se os casos significativos de Oeiras, Amadora, Loures e Sintra, por exemplo), tal não se traduziu, ao contrário do “esperado”, numa maior proximidade entre habitação e local de emprego, infelizmente, e isto porque precisamente não é nada fácil mudar de casa ao ritmo com que, de há uns anos a esta parte, se muda de emprego!

Resultados: cada vez se tornou mais amplo o leque de pares casa-trabalho, ou seja, aumentou ainda mais a distância média das deslocações diárias (ou pendulares), deteriorando os níveis de eficácia dos sistemas de transporte colectivo (isto apesar dos vultuosos investimentos de que foram alvo, de rentabilidade actual mais que questionável…), e consequentemente os tempos mortos no dia-a-dia dos habitantes, já para não falar nos custos associados, dispêndios de energia “inúteis”, desempenho ambiental, custos indirectos e “invisíveis” (seguros automóveis, vítimas de acidentes de viação, dias de “baixa” por incapacidade, etc., etc….)!

Tudo porque de cada vez que se criam postos de trabalho na periferia de Lisboa, por exemplo abre um Parque Tecnológico, ou uma Zona Industrial, se deslocam para lá trabalhar pessoas oriundas de uma ponta à outra da A. M. L., amarradas que estão à compra da sua “casita” em Santo Ant.º dos Cavaleiros, ou em Corroios, ou em S. João da Talha, etc., e sem possibilidade económica para estar permanentemente a mudar de habitação PRÓPRIA, ou sequer alternativa para arrendar um apartamento num local mais conveniente.

Por tudo isto cheguei à triste conclusão de que os problemas de tráfego e transportes na A. M. L. nunca serão resolvidos pelos especialistas na matéria, pelo menos enquanto se não perceber que a sua solução não passa pelo aumento ou beneficiação das infra-estruturas e sistemas próprios deste domínio, mas sim pela modificação do enquadramento legal e fiscal da transacção de habitação!

Isto para já não falar do facilitado e exageradíssimo endividamento aos Bancos, que distorce irracionalmente os preços no mercado imobiliário e baralha os dados de análise aos especialistas de todos os quadrantes!...


Se a política for a da construção em altura (simulando, por exemplo, o impacte de ter Telheiras maioritariamente com R/c + 4 em vez de R/c + 3), conseguir-se-á “impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica [pela diminuição do número e do tempo de deslocação dos veículos privados dos “commuters”], da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio”, resolvendo todos os constrangimentos assinalados com o mérito adicional de se evitar a punição administrativa da procura.

Mas o que acontece é que de cada vez que se “suspeita” que vem aí um edifício (ou conjunto de edifícios) mais alto é um “ai Jesus” com vários especialistas de cidades (cineastas, actores, músicos, professores universitários, jornalistas, psicólogos, sociólogos, historiadores, arquitectos) a darem logo uma opinião negativa (pois claro!) sobre o assunto.

Se estes especialistas mandassem nos Estados Unidos da América, uma cidade como Nova Iorque nunca teria existido! As pessoas vivem pior em Nova Iorque do que nas cidades imaginárias dos nossos especialistas de cidades? Não, vivem pior em Los Angeles, o modelo de cidade que tanto os excita!


Antes de discutir os modelos urbanísticos, haverá pois que repensar todo o modelo de desenvolvimento para a A. M. L., tendo em conta todos os condicionamentos apontados, para que as coisas não continuem a acontecer “ao acaso”, com os resultados que qualquer um pode constatar: mas será que os actuais responsáveis políticos possuem alguma noção das realidades, para além da gestão da sua “carreira” e da vida interna dos seus Partidos?...

Penso sinceramente que não, e cabe-nos a nós “ajudá-los”, elevando os níveis de exigência, a começar pela elevação da qualidade da própria discussão…

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