Hélder Nunes, director do barlavento - semanário regional, 14.09.2006
A abertura política do ano escolar, este ano, foi no Algarve. Na terça-feira, a ministra da Educação esteve de manhã a marcar a sua presença e, na parte da tarde, o primeiro-ministro José Sócrates veio inaugurar uma nova escola, construída pela autarquia.
A questão que se coloca é: porquê o Algarve? Que motivos de força maior trouxeram logo dois governantes ao Algarve?
Numa leitura simples, apenas se pode concluir que o Governo, afinal, sabe que o Algarve existe, que está cá em baixo e, entre os seus botões, depois de tanta marginalização de que temos sido alvo, porque não ir ali marcar uma presença mediática, que permita às televisões apanharem umas imagens e falarem da região e da obra que ali se vai fazendo?
Na simplicidade da política, esta podia ser a análise, mas a vinda de José Sócrates é um sinal do governante arrogante, que vem atirar areia aos olhos dos algarvios, como que a dizer-lhes que não estão esquecidos.
Se lhe perguntarmos pelo Hospital Central, responderá que será uma realidade lá para 2009/10, dentro desta legislatura; porque razão não reconheceu a GAMAL, Grande Área Metropolitana do Algarve?
Teremos como argumento o facto de não se justificar uma região onde, por acaso, a maioria das Câmaras não é socialista; porque razão há um Protal, contra o qual estão as autarquias, na sua quase totalidade?
Obteremos como resposta que o poder está em Lisboa e de lá serão coordenados todos os projectos de interesse nacional, cá na região não existem cabeças pensantes; quais os verdadeiros motivos porque são retiradas competências à região, levando os centros de decisão para Évora e Setúbal ou Lisboa?
E as justificações serão dadas na base do centralismo e da eficácia que é preciso criar, mesmo que, para tal, um algarvio tenha que sofrer as passas do Algarve para obter um documento; como é possível adjudicar a prospecção de petróleo na costa algarvia, sem estudos de impacte ambiental e escondendo os documentos dos deputados e do interesse público? Possivelmente, ir-se-á falar em segredo de Estado ou coisa que o valha.
José Sócrates, politicamente, não é ingénuo, sabe que o Algarve, sendo uma das regiões que mais contribui para o enriquecimento do país, de um momento para o outro, por questões estatísticas, foi atirada para a plataforma dos ricos.
Isto quando, na realidade, estamos a um nível de desenvolvimento muito débil, com uma Barragem, de sua autoria, parada por falta de pagamento ao empreiteiro, com uma serra onde a reflorestação, se existe, está no papel; com a desertificação a entrar pelo Barrocal, com o POOC de Sotavento metido teimosamente na gaveta, e muitas autarquias a reivindicarem melhorias para a qualidade de vida dos seus munícipes, mas presas em endividamentos e com projectos por aprovar na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, nas Estradas de Portugal, em Institutos disto e daquilo.
O Algarve está entalado entre o Alentejo, que vai continuar a ser apoiado, e a Andaluzia, na Espanha, que terá apoios idênticos.
Perante duas regiões periféricas e concorrentes, com os espanhóis a assaltarem o Algarve de todas as maneiras e feitios, resta muito pouco a esta região – o turismo e a sua agricultura, que pode e deve ser retomada com um programa pujante, que até se pode chamar Plano de Desenvolvimento Rural.
A região não pode viver dos caprichos de uns senhores que estão sediados em Lisboa e que resolvem - mais um exemplo - promover um pseudo-programa de animação, a que chamaram PortugalSummer.
O desastre deste programa foi lastimoso, nele foram gastos milhares de euros, mas o proveito promocional da região foi negativo. E ninguém pede contas? As Associações do sector, a ATA, devem exigir deve e haver daquela brincadeira.
Não tenhamos dúvidas: José Sócrates montou mais uma operação de propaganda, calhando desta vez ao Algarve, a região onde se tem registado o maior número de nascimentos, muito por causa dos imigrantes, e onde as contestações, seja contra o que for, estão paradas.
É que os algarvios só quando lhes começam a pisar os calos e a sentir que vai mesmo ser verdade aquilo que se anunciava, é que resolvem, ainda assim timidamente, refilar.
A vinda de Sócrates ao Algarve, nesta altura do ano, em que o Verão está a acabar e até correu bem à maioria dos hoteleiros, é pacífica.
Noutras regiões do país, contesta-se o encerramento de escolas, de maternidades, e José Sócrates está sem paciência para enfrentar o povo contestatário. Logo, nada melhor do que um mergulho no calmo e sereno Algarve, onde é preciso de tudo, mas por força do clima e da vida citadina, se vive em regime de sazonalidade.
Comentários
E sempre melhor dar umas esmolitas aos amigos, para mostrar que se esta a fazer trabalho.
Triste Algarve e triste Beira minha.
Como sabe a Regionalização não fazia parte do programa de governo sufragado nas ultimas eleições legislativas.
Neste momento, o que existe é uma promessa do Partido Socialista de inscrever esta temática no programa eleitoral para a próxima legislatura.
Existe também nesta legislatura a intenção de preparar terreno para a Regionalização. Isto, entre outras medidas, através do reforço das competências das actuais CCDRs e da operacionalização do PRACE.
Todavia e em boa verdade, até agora pouco se tem visto.
Cumprimentos,