Agendas trocadas no caminho da Regionalização

Por não terem sido alvo do voluntarismo do Estado, as regiões não ganharam áurea de efectividade. Por isso, raramente nos partidos se perfilaram líderes regionais. Os partidos apresentar-se-iam repartidos entre os “peões” locais e as carreiras orientadas para as instâncias nacionais, porque a região apenas figurava no limbo da simbólica constitucional.

Daí também que a regionalização tenha esperado o movimento cívico-político que nunca surgiu. Faltou-lhe energia colectiva, numa sociedade onde o Estado teve sempre forte primazia sobre a “sociedade civil”.

Enquanto projecto de reforma administrativa, a regionalização só com a aproximação da consulta referendária transbordaria claramente as fronteiras institucionais da política, mas aí já mergulhada numa confusa politização e, mais uma vez, onde as expectativas em jogo teríam a ver com tudo, menos eventualmente com regionalizar.

Regra geral, a regionalização acantonou-se a uma espécie de gestão interna ao sistema político, instrumentalizada pelos temas, actores e correlações de força a cada momento dominantes, e a quem, de uma forma ou de outra, sempre serviu.

Invariavelmente, acaba remetida a ambiguidades, paradoxos e impasses que são a prova de não corresponder a forças sócio-territoriais que ao Estado interessasse mobilizar ou satisfazer.

A situação esteve em vias de se modificar. O Partido Socialista, que se reconstituiu no período “cavaquista” com base numa elite muito territorializada, apontou a regionalização como a grande reforma do seu Governo. A vitória eleitoral de 1995 teve até uma componente - mesmo que residual para a decisão do sufrágio - de supremacia de um António Guterres regionalizador sobre um Cavaco Silva anti-regionalista, na boa tradição de se inflamar o discurso da regionalização nos momentos eleitorais.


(continua)

Daniel Gameiro Francisco
- Faculdade Economia da Universidade Coimbra

Comentários

Al Cardoso disse…
Tambem este governo socialista, parecia que queria inverter a situacao e inveredar pela verdadeira regionalizacao, no entanto parece que teve medo e parou, depois de ter gerado grandes expectativas. Aparentemente pensa que sera o "aborto", que lhe trara mais dividendos eleitorais.
Anónimo disse…
O governo parou? Nada disso. Está a desenvolver o maior processo de centralização que se possa imaginar. Só não vê quem não quer. Mas o "povão" merece. Sócrates por 48 anos...