Faro, Algarve, Ria e Turismo

Sérgio Martins, Técnico Superior, in revista Algarve Mais de Fevereiro 2007
www.algarveglobal.blogspot.com e www.regioes.blogspot.com




O Presidente da Câmara Municipal de Faro, Dr. José Apolinário, apresentou um Plano Estratégico de Faro para a Ria Formosa: um Parque/Passeio Ribeirinho; a criação de um Porto de Recreio na baia natural entre o Porto Comercial e a Zona Industrial do Bom João; a reconversão do Porto Comercial de Faro com valências turística e recreio; a reconversão da área industrial do Bom João; a melhoria do Transporte Marítimo para as Ilhas Barreira; a requalificação da Praia de Faro, Farol, Hangares e Culatra; o desenvolvimento de um Parque Ambiental no Pontal compatível com um Núcleo de Desenvolvimento Turístico; entre outros.

Faro necessita, de facto, de um Plano que vá neste sentido, com um alerta, cujo desenvolvimento não cabe por ora aqui. O Porto Comercial de Faro, assim como o de Portimão, desempenham um papel importante na economia do Algarve e ainda têm muito potencial por desenvolver. Essa valência comercial não deve ser ignorada.

Mas, não se deve entender a parte central desta problemática como uma manta de retalhos e acções isoladas sem interligação, nem se deve ficar pelas intenções. O Algarve também necessita que Faro avance.

Faro é a cidade mais próxima do nosso Aeroporto Internacional. Tem um potencial específico e complementar no Turismo do Algarve. Faro não deve, nem pode concorrer, com as praias e o golfe de Albufeira a Lagos ou de Tavira a Castro Marim. Nem sequer tem condições naturais para tal. Mas, Faro tem um Aeroporto às suas portas, tem a Ria Formosa, tem a Universidade.

O Aeroporto Internacional proporciona uma oportunidade a Faro. Turistas que não compram pacotes de praia ou golfe, turistas que não alugam carros e que procuram a cidade mais próxima, turistas que viajam nas companhias aéreas de baixo custo (“low cost”). A Ryan Air, EasyJet, Aer Lingus, Thomsonfly, Sterling, Transavia e outras, ligam o Aeroporto de Faro, diariamente, no Verão e no Inverno, a dezenas de aeroportos em Espanha, Irlanda, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Suécia, etc.

As companhias de baixo custo já são responsáveis por metade do tráfego do Aeroporto de Faro. Oferecem bilhetes baratos, por terem reduzido ao máximo os seus custos de operação (com vendas na Internet, etc.). E, ao contrário do que algumas pessoas podem pensar, têm transportado para o Algarve turistas com poder de compra, com formação superior, rendimentos de cinco mil euros mensais e que alojam-se em hotéis de quatro e cinco estrelas.

Esses turistas têm procurado principalmente sol, praia e golfe. Mas, podem-se atrair mais turistas, outros turistas com vocação para outro tipo de produtos. Bilbao atrai turistas com o Museu Guggenheim, Barcelona com a Sagrada Família e o Parque Güel, Madrid com os Museus do Prado e Rainha Sofia, Valência com a Cidade das Artes e Ciências (arte e ambiente), etc.

Obviamente que algumas destas cidades são de uma escala bastante superior a Faro. Como também o País Basco, a Catalunha, a Comunidade Valenciana são em relação ao Algarve. Mas, Faro e o Algarve têm o seu potencial, ambos à sua escala.

Faro necessita de um equipamento moderno ou de um conjunto de equipamentos marcantes, que no arco territorial do Aeroporto ao Porto Comercial, pode associar Ambiente, Náutica, Ciência e Tecnologia.

Faro tem a Ria Formosa, mas necessita mais do que um Passeio Ribeirinho e um Porto de Recreio. Faro necessita de um equipamento moderno e emblemático que bem pode associar o Ambiente, a Ciência e a Tecnologia. Um Centro de Ciência Viva para adultos, um Oceanário com a componente natural da Ria Formosa e visitas a esta, tudo devidamente dimensionado e realmente vivo com a incorporação da Universidade do Algarve e projectos reais de investigação. Faro uma Cidade de Ambiente e Ciência. Faro ainda pode complementar um conjunto de ofertas como a sua Cidade Velha, o seu Museu, o Teatro, as Ruínas de Milreu e a paisagem do Cerro de Nexe.

Quase que falamos, com as devidas diferenças, da Cidade das Artes e Ciências em Valência (Espanha). Faro tem condições naturais para uma associação de Ambiente, Náutica, Ciência e Tecnologia que tem bastante potencial turístico e que iria complementar a oferta do Turismo do Algarve para os turistas que procuram as cidades mais próximas dos aeroportos e que por cá não têm oferta para os motivar.

Não é só o interesse de Faro que está em causa, é o interesse do Algarve. E, ao mesmo tempo, a população do Município de Faro beneficiaria finalmente com a requalificação da sua frente de Ria e com o desenvolvimento inerente a um projecto destes.

Mas, também como vem sendo habitual, Faro e o Algarve estão atrasados. São ideias, estas ou outras com os mesmos efeitos, que já deveriam estar implementadas. A responsabilidade é de Presidentes de Câmara que nas décadas de 1980 e 1990 não tiveram grandes pensamentos estratégicos. A culpa é de um Algarve que não tem um Governo Regional eleito pelos algarvios com peso representativo, político e negocial, gerador de dinâmicas regionais e de um programa regional estratégico e optimizador de recursos.

O Algarve fica-se por ter a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, a Direcção Regional de Economia do Algarve, a Direcção Regional de Educação, a Administração Regional de Saúde, a Direcção Regional de Agricultura, etc., que já existem como um governo regional, mas que não são eleitas pelos algarvios e governam a nossa região um pouco à bolina.

A culpa é de todos nós, algarvios de nascença ou de adopção, quando votamos como votamos, quando assobiamos para o ar, quando não mexemos uma palha em prol do Algarve enquanto colectivo.

Comentários