Do "café" para a "agenda cívica"

Começou a segunda parte.

Fiquei muito satisfeito com a criação do Movimento Cívico "Regiões, Sim", e tenho fé nas suas motivações. Enche-me de esperança voltar a ver as pessoas a deixarem de abordar o assunto resignadamente, com os amigos, apenas no café, para passar a interiorizá-lo na sua própria agenda cívica.

Deixemos de ser acanhados, e deixemos de temer que a injusta acusação de ser um "egoísta regionalista" se sobreponha à de ser um "racionalmente regionalista", e daí temer correr o risco de ser rotulado como "anti-nacionalista", podendo até passar a considerá-lo na sua auto-avaliação, ter crise de identidade, etc.
Esta falácia promovida pela ausência de demais argumentos, por quem tem um actual sistema esgotado, é pessoalmente desconsiderante, e democraticamente repugnante.

Todos estes movimentos e blogs que têm surgido em torno desta questão, a qual não deveria existir pois está legitimizada na Constituição e prevista no Programa do Governo, acabam por surgir porque persiste o real "medo" de que este assunto possa ainda ser ardilosamente arrumado para o canto, por mais 10 ou 20 anos.

No referendo de 08/Nov/1998 fomos (portugueses) brandos: Não tinhamos ainda a dura factura "regional" que o aparecimento de uma crise económica 4 anos mais tarde viria a emitir, e que nos seus detalhes (resolução da crise) teve linhas como "criação de uma grande capital europeia", "canalização de fundos para investimentos visívelmente catapultadores" e "racionalização de custos reduzindo os que não coloquem em causa os dois items anteriores".

Tudo bem, fomos brandos porque julgávamos que o mundo não se iria transformar como se transformou, e as promessas de descentralização em direcção à convergência regional (já há 9 anos divergente o suficiente para levar a questão a referendo) foram nefastamente convincentes.
Tão convincentes, que garantiram ao centralismo, pelos Governos seguintes, espaço para poder confundir o "Não às regiões" com o "Sim às não regiões". Isto, ao ponto de se convencerem que uma obra na capital se estende a todas as cidades, por igual benefício. Ao bom estilo "Ota", já que afinal Portugal não tem regiões.

Mas o tempo, mais do que nos garantir que compramos mal, garantiu que pagamos caro.

E agora, o que não falta é legitimidade para acelerar a questão, dado que aquilo que foi o maior argumento pelo "não às regiões" sucumbiu, e já não venderá segunda vez.

Por último, fico muito feliz pelo facto deste Movimento Cívico nascer em Coimbra, cidade a que como todas as outras, se deve o apreço às suas gentes, história e dedicação.
Como portuense, tenho sempre receio que estes movimentos, por nascerem na minha cidade, sejam desvalorizados, dado o Norte ser convenientemente usado pelo centralismo pelo seu carácter "teimoso", dando a ideia que este tenta convencer de forma interesseira as demais cidades para a "sua" causa, num acto interpretado como abusivo por pensar estarem estas bem servidas no actual sistema central.

É bom que todos percebam que esta questão é, sobretudo, nacional.

Comentários

Excelente abordagem a esta temática.
Al Cardoso disse…
Cada vez gosto mais de Coimbra!