Reforma da Administração Central do Estado (3/3)


Modelo distrital e reforma eleitoral

Como é do conhecimento geral, até se levar a efeito a regionalização, manter-se-ão os governos civis, tal como definido no Artigo 291.º da CRP - (Distritos):

“1. Enquanto as regiões administrativas não estiverem concretamente instituídas, subsistirá a divisão distrital no espaço por elas não abrangido.
2. Haverá em cada distrito, em termos a definir por lei, uma assembleia deliberativa, composta por representantes dos municípios.
3. Compete ao governador civil, assistido por um conselho, representar o Governo e exercer os poderes de tutela na área do distrito.”

Ao problema da desconexão do território, soma-se o problema duma divisão distrital não correspondente com a divisão territorial administrativa, sendo esta, na prática, apenas sustentada pelo sistema político-partidário, pois os círculos eleitorais são de base distrital. Não se elege deputados (representantes). Vota-se em partidos políticos, que escolhem deputados, em sistema de candidaturas em lista fechada, candidaturas estas, sobretudo decididas pelas hierarquias partidárias que impõem a disciplina partidária, transformando as decisões políticas, não no resultado duma representação territorial, mas no produto centralizado duma elite política.

Como tal, a reforma do sistema eleitoral constitui um passo fundamental da nossa democracia parlamentar, com consequências na competitividade da economia nacional.

Pode deduzir-se que a baixa competitividade do país, causa duma estagnação económica de natureza estrutural, seria significativamente desenvolvida se, simultâneamente, se implementasse com sucesso a actual reforma da administração central (efectiva desconcentração a nível regional e efectiva descentralização para os municípios, freguesias, áreas metropolitanas e associações de municípios , com atribuição de competências de verdadeiro poder) e se implementasse a reforma do sistema eleitoral.

Porém, ainda se está numa fase inicial de uma reforma da administração pública. Ela só se poderá desenvolver plenamente, quando for implementada a descentralização para os vários níveis e se criarem as regiões administrativas. Mas é uma realidade política que o processo de descentralização da administração central do Estado está a ser condicionado pela ausência de regiões administrativas. É toda uma reforma que progride a velocidade inferior ao desejável, tal como a economia nacional, num Estado de tradição centralizadora, num sistema político -partidário também bastante centralizador e num ambiente de desconfiança da administração central em relação ao poder local.

mokkikunta.blogspot.com

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Descentralização para o nível local e sub -regional (2/3)

Comentários

disse…
Acho imperativo avançar com a regionalização. Acho que os Governadores Civis não têm o poder que deveriam ter. Acho que não faz mais sentido existir um parlamento a nível nacional pois pretende-se que sejam adoptadas certas leis a nível europeu e fora essas leis, penso que deveriam ser os parlamentos instalados nas regiões a criar essas leis. À que saber que o crime não tem que ser punido com a mesma pena ao longo do país, como existe nos EUA, eu penso que deveremos avançar para uma solução deste tipo. Temos que fazer evoluir o nosso estado e não é com pessoas que querem ganhar demasiado que vamos continuar deixar na sua decisão se há ou não a regionalização. Os pobres, os trabalhadores da terra também têm direito a dar a sua opinião. Para fazer a interligação entre os poderes regionais e os poderes europeus será preciso manter um pequeno grupo parlamentar a nível nacional, mas com ganhos idênticos ao oferido pelos futuros deputados regionais, os deputados ganham demasiado, tem que se criar mais administração pública sim, mas com salários muito mais reduzidos. Com as regalias que tem um funcionário a esse nível, um salário entre 1500 a 2000 euros (não acumulável com outras funções) é mais que suficiente; as pessoas têm que aprender a trabalhar com gosto e não a trabalhar pelo dinheiro. E tenho dito.
Este post e respectivo gráfico ilustram com eloquência o atrofiante centralismo que impera no nosso país. E não falamos de política propriamente, falamos dos processos de arrecadação das receitas e decisões de despesa pública, onde é por demais evidente o peso avassalador da Administração Central.