Regionalização: Carlos Brito critica agravamento da desertificação

O antigo líder parlamentar do PCP, Carlos Brito, defendeu hoje a regionalização e acusou o actual Governo de promover reformas que «agravam a rarefacção de serviços públicos no interior».
Carlos Brito, ex-militante do PCP, e Manuel Lopes Porto, antigo eurodeputado do PSD, participaram hoje, em Coimbra, na apresentação do Movimento Cívico «Regiões, Sim!», integrando uma mesa presidida pelo deputado social-democrata Mendes Bota.

Para Carlos Brito, a criação de cinco regiões administrativas no Continente, coincidindo com o mapa das regiões-plano, «é uma reforma indispensável que pode reequilibrar as reformas em curso» que se têm traduzido no encerramento de serviços em zonas afastadas do litoral, designadamente nos sectores da saúde e da educação.

Insistindo na necessidade de contrariar a desertificação de extensas regiões do país, o antigo director do jornal «Avante!» sublinhou que «o próprio Estado tem-se retirado do interior, ficando as populações ao abandono».

«Nunca me conformei com o facto de esta reforma consagrada na Constituição da República não ter sido realizada até hoje», disse.

Carlos Brito e o antigo presidente da Câmara de Beja, José Carreira Marques, que foram ambos deputados da Assembleia Constituinte eleita em 1975, eleitos pelo PCP, integram a comissão instaladora do Movimento Cívico «Regiões, Sim!».

«Não andámos à procura de grandes figuras da política activa, mas antes de pessoas que têm valor na função que desempenham», explicou Mendes Bota, presidente do PSD-Algarve.

O porta-voz voz do movimento frisou, no entanto, que os 100 fundadores pretendem recolher as 75 mil assinaturas necessárias para que a Assembleia da República avance com o referendo da regionalização.

«A nossa iniciativa não é contra as direcções de nenhum partido político», disse.

O símbolo da associação, criada hoje em Coimbra através de escritura pública, é um mapa de Portugal estilizado com as cores da bandeira nacional: verde, amarelo e encarnado.

«Não há nenhum país evoluído da Europa que não tenha este nível intermédio de administração», enfatizou Mendes Bota, lamentando que os governos e os principais partidos recomendem para Portugal as «boas práticas» dos países mais desenvolvidos da União Europeia, em diferentes áreas da governação, mas não façam relativamente à criação de regiões.

Portugal, na sua opinião, «só em matéria de regionalização segue uma política do ´orgulhosamente sós`».

«Os grandes grupos económicos concentram-se na capital e os jovens do resto do país, entretanto, vão para Lisboa, Madrid ou Londres», disse.

Lopes Porto, em tom irónico, defendeu que o referendo da regionalização seja realizado durante a actual legislatura, «antes de haver 51% da população portuguesa em Lisboa».

«Não nos conformamos com um país regionalmente mais desequilibrado do que nunca, onde apenas 22 municípios detêm 60% da população, 75% do poder de compra e 60% da riqueza nacional», refere o primeiro dos 15 pontos do manifesto do movimento, divulgado em conferência de imprensa, na sede da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Para os fundadores do movimento, «é chegada a hora de voltar a ouvir os portugueses sobre a regionalização», nove anos depois do primeiro referendo sobre a matéria.

Paulo Sucena, ex-secretário geral da FENPROF, e Tiago Magalhães, professor universitário e antigo líder da Associação Académica de Coimbra, integram a lista de fundadores hoje divulgada.

Diário Digital / Lusa
26-04-2007 19:30:00

Comentários

Anónimo disse…
Estes parecem-me serem defensores coerentes da Regionalização. Não apenas de agora


Mas há sempre um Lopes Porto mais "irónico", que consegue borrar a pintura...


A. Castanho.