Todos os inquéritos sociológicos recentes nos quais é feita uma pergunta - obviamente redutora e descontextualizada - a respeito do espaço social com o qual os portugueses mais se identificam têm revelado, estranhamente ou não, um grau limitado de identificação com o espaço nacional. Embora estejam em maioria relativa, os inquiridos que se identificam prioritariamente com Portugal - sobretudo habitantes de Lisboa e populações do Sul - não chegam, em geral, a metade da população; os outros inquiridos se distribuem sobretudo pelas suas "terras" - aldeias, vilas ou pequenas cidades - ou pelas suas regiões, principalmente no Norte em volta do Porto; por fim, há um resíduo de excêntricos, no duplo sentido da palavra, que dizem identificar-se prioritariamente com o espaço europeu ou mesmo universal.
Em um dos mais recentes desses inquéritos, realizado em 1997 junto de uma amostra representativa da população jovem portuguesa (15-29 anos de idade), os resultados foram os seguintes (Fernandes, 1998:311, Tabela 1):
Por outras palavras, quando a identidade nacional não é ativada do exterior e o sentimento de pertença é referido à experiência quotidiana das pessoas, o que vem ao de cima é uma clivagem - pronunciadamente classista, aliás, sendo a distribuição aquela que os manuais de sociologia prevêem, segundo a qual a identidade nacional é um atributo das elites - entre múltiplos localismos e a identificação espontânea com a Nação. Só marginalmente poderei entrar aqui na questão da cidadania, mas bastará dizer que é significativa, do ponto de vista estatístico, a correlação inversa entre a força dos sentimentos de pertença local e um déficit, por vezes acentuado, do exercício dos direitos da cidadania democrática. Por outras palavras, quanto menor a identificação com o espaço nacional, menor também a propensão para o exercício da cidadania política (Cabral, 1997; 2000).
Em suma, por mais paradoxal que possa parecer em um país tão antigo como Portugal, com uma coincidência alegadamente perfeita entre Estado e Nação, a verdade é que o processo de nacionalização das populações - talvez devido aos profundos curtos-circuitos da cidadania, dependentes por seu turno dos atrasos da alfabetização de massas e do distanciamento entre estas e o poder político - encontra-se longe de estar completado em Portugal (Cabral, 2003). Por motivos históricos mal conhecidos e que não é possível aprofundar agora, o velho Estado português tem ainda muito que fazer no plano da "nacionalização das massas", lembrando às vezes a situação da França antes da Guerra de 1914-18 identificada por Eugen Weber (1976).
Manuel Villaverde Cabral
Comentários
A percentagem hoje é bastante mais baixa e a tendencia é descer.
O fenomeno selecção de futebol fez com que a maioria dessas pessoas infelizmente se ligassem mais a Portugal, defendendo com unhas e dentes mesmo quando Lisboa nos mal trata.
Recentemente o programa "os grandes Portugueses" também fez com que o povo nortenho ficasse mais identificado por Portugal em vez de sua região.
Eu noto na sociedade em geral e no meu circulo de amigos.
É caso para dizer maldito futebol
A identificação dos portugueses com Portugal (não confundir com patriotismo, muito menos com nacionalismo - isto aqui é um "blogue" sério), podendo ser de facto ainda mais forte, mantém-se em níveis seguros e ninguém tem dúvidas disso.
Outra coisa é, quanto a mim, a necessidade de uma maior identificação REGIONAL, ou regionalista, que aliás em nada prejudica essa portugalidade, antes a complementa e lhe dá reforçado sentido!
Como se pode constatar pela elevada identificação localista - sobretudo com o seu Concelho, mas também com a sua Freguesia - , obviamente devida à existência de Autarquias Locais politicamente consolidadas.
O caminho não deve, por isso, ser de oposição entre portugalidade e regionalismo. Esse é apenas um dos principais fantasmas que os anti-regionalistas continuam a agitar contra a Regionalização, à falta de argumentos racionais...
So que o trabalho aqui foi muito melhor feito que em Espanha e logo é natural que a maioria identifique-se com o país em vez da sua nação (Calécia, Lusitania e Algarve).
Mesmo que nos roubem e nos tratem mal continuamos a ter um amor louco a Portugal. Somos masoquistas.
Oxala esta Portugalidade acabe no futuro e possamos obter a independencia da Calécia.
Sozinhos e sem colonialismos desenvolveremo-nos muito mais.
Ao menos a Espanha nao tinha intençao de dividir naçoes, só queria junta-las sob um país e respeita-las mais que Portugal que trata todos como Lusitanos e nem região autonomas ainda criou.
Espanha é mais país do que o Portugal divisor de nações.