Muitas causas se perdem, não pelo seu valor intrínseco, mas pela maneira como são defendidas. Assim aconteceu com a regionalização por nunca se ter conseguido contextualizar a sua inserção na realidade nacional.
Um dos males de que enferma qualquer debate sobre a regionalização é que sempre se usam exemplos para dar força à argumentação e nós carecemos deles. Os que existem estão longe de nós e não suficientemente divulgados. Os que estão próximos não se nos aplicam.
Desde logo porque a regionalização insular é de uma outra natureza que, pela descontinuidade, cria características tão marcantes que chegam aos aspectos psicológicos e sociológicos que, no entanto, não o são tanto que careçam de outro quadro legal.
Desde logo também porque a regionalização espanhola assenta essencialmente em unidades linguísticas, raciais, culturais ou sociais, com um longo passado de diferenciação, com alguma forte centralidade, mas também com outra dimensão e outro potencial próprio.
Nós, ao falarmos em regionalização temos de nos referir ao País todo e não argumentar somente com aquilo que serve o Norte e não servirá ao Sul ou ao Interior. Porque das características que fazem com que se crie no Norte um movimento mais forte, e que de algum modo tem cabimento para lhe dar razão de ser, é uma forte centralidade à volta do Porto, o que mais justificaria porém que se dividisse o País em duas ou três regiões.
Isto faz que ao discutir a regionalização, ao querer que novos aliados se juntam a um processo nesse sentido é necessário que esse aspecto passe a não ter qualquer relevância no argumentário respectivo.
O Porto, por ser o mais forte entre os fracos, não ganha nada em acentuar as suas particularidades, antes ganharia em que se deixasse diluir no caldo de cultura nortenho e fosse o pólo representativo de todos. Não ganha nada em se armar em farol em terra de cegos.
O cariz cosmopolita do Porto tenta ser uma cópia do lisboeta e, quando o não é, cai no ridículo “jardinista” de pôr vozes folclóricas a falar abusivamente por uma realidade nortenha que a maioria está longe de conhecer. O Porto assume as vitórias como fugas à ridicularia e à vulgaridade.
Tendo em conta que a cultura poderá constituir de algum modo o cimento para uma comunidade, não é a mistura aleatória entre o mais endógeno e a cultura sem pátria que pode dar frutos saborosos.
Todos sabemos que se torna necessário, para nos não deixarmos diluir na uniformidade, que a nossa cultura mais ancestral passe por um processo de modernização, adaptação e universalização para que as nossas raízes venham a frutificar um dia e tornem o ambiente reinante menos adverso.
Para já só vejo uma unidade com características suficientemente comuns e maugrado as tentativas e alguns “frustrados” sucessos divisionários dos vianenses, que é o Minho. Mas, como região, é demasiado pequena, embora bem maior que o Algarve. A única hipótese a Norte é mesmo o Norte.
O problema é que, assim sendo, não há qualquer razão para outras regiões. Todas serão artificiais e então o Algarve nem se fala. Mas a criar o Norte ter-se-ia que criar o Sul, sem qualquer referência a qualquer província existente, talvez a sul de Vila de Rei ou do Alto da Serra. E Lisboa, como zona metropolitana ficaria de lado.
A não ser que o Norte queira ser a maior região e para tal defenda a divisão a retalhos do resto do País. Não chega sermos egoístas. Se a única hipótese a Norte é mesmo o Norte, a Sul que se entendam? È necessário que defendamos coisas viáveis não caricaturas
Cedido pelo "Trigalfa"
Comentários
Provavelmente, tem. O Marcelo Caetano, que traçou este mapa, com o Alentejo e o Algarve, juntos a "fazer" de SUL. Também ele tinha quase razão. Aliás, quando escrevemos, todos temos um bocadinho de razão.
E os lisboetas a opor-se-lhe?
Não basta termos todos "um bocadinho de razão" (frase amorfa, típica do nacional-porreirismo que tão bem caracteriza a geração dos portugueses nascidos nos anos 40 e 50), é preciso colocar as questões certas e procurar, eficientemente, responder-lhes.
E uma das questões certas é:
lutamos por uma REGIONALIZAÇÃO DE PRINCÍPIOS, OU DE INTERESSES?
A. das Neves Castanho.
Para começar discordo da associação que faz em relação ao Porto. Se há cidade que defende os seus interesses é o Porto. Por gritar e reclamar bem alto os seus direitos torna-se o quê? Uma aspirante a capital com tendências como a lisboeta? A cidade do Porto não tem culpa de a sua voz soar mais alto na hora de reclamar os seus interesses e direitos junto do governo. É normal. É a segunda cidade do país e sente que pode fazer mais se a deixarem. E assim sendo, a sua voz faz-se sentir com mais impacto. O problema é que os outros, além de não terem tanta visibilidade, reclamam pouco. E quando o fazem, pelo que vezjo, em vez de dirigirem as suas reclamações para o sítio certo, dirigem-na a quem não deve, quiçá preocupados por uma hipotética centralidade que não existe e que não sabem se irá existir.
Dirijam a vossa discórdia ao destinatário correcto e não entrem em sentimentos mesquinhos de inferioridade. É o tipo de postura que irá enfraquecer os verdadeiros defensores da regionalização. Que são os que se preocupam com o futuro da sua região, mas também do país.
Não acredito que seja daqueles que admiram o nível de vida em Cuba e na Moldávia.
E olhe que a sua visão sobre a Moldávia é assim como a de um extra-terrestre que vá à Madeira e que só conheça a Câmara de Lobos, ou que venha a Portugal e só visite o Bairro de Angola, junto a Camarate!
A Moldávia é de facto o "último da tabela", mas de uma "Liga" (o antigo "Império" soviético) que, na sua maioria, JÁ NOS PASSOU A PERNA - da Polónia à Eslovénia, da Estónia à Hungria - e sabe com quê? Com aquilo que nos falta e que leva os nossos empresários (e eu próprio, em minha casa) a contratar as pessoas "de Leste": a EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO!
E as gerações do "nacional-porreirismo" deram-nos muito, mas prometeram-nos muitíssimo mais! Esse o seu erro fatal. E, a seu tempo, a História fará a verdadeira contabilidade de ganhos e perdas...
Mas o importante não é aumentar o criticismo, antes fazer os possíveis por inverter o rumo. É isso que, se não o fizermos a tempo, as novas gerações se encarregarão de fazer à sua maneira...
Onde?