Daniel Gameiro Francisco
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Em 1998 as propostas partidárias de divisão regional não eram coincidentes. Enquanto o PSD propunha uma delimitação definida pela área de actuação das CCR's, cinco grandes regiões a ligar o litoral ao interior, o PS recuperava basicamente o território das antigas "Províncias” e fundava nele a regionalização. O PCP, após ter inicialmente partilhado da tese das CCR's, com duas áreas metropolitanas separadas para Lisboa e Porto, optou por consagrar a divisão distrital como ponto de partida para a criação das regiões, considerando a realidade distrital demasiadamente sedimentada para não ser levada em conta. Depois, a fim de aprovar o projecto na Assembleia da República, aceitaria o modelo socialista, conseguindo salvaguardar a sua proposta de um Alentejo único.
Da discussão em torno da geometria regional, alguns aspectos merecem ser destacados, porque se prendem com factores que dificultaram decisivamente a regionalização.
Em primeiro lugar, as incompatibilidades no traçado das regiões significam que não emerge do terreno um perfil regional sem equívocos. Só o Algarve é uma região consensual, correspondendo a um distrito, a uma Província e a uma Comissão de Coordenação. Em todas as outras há divergências e conflitos.
No Alentejo, PS e PCP mediram forças pela hegemonia regional, o primeiro propondo a manutenção da divisão provincial, Alto e Baixo Alentejo, o segundo pugnando pela unidade administrativa de toda a região.
No Centro, a Beira Interior parece depositar uma forte crença nas suas capacidades enquanto região, estando todavia enfraquecida pelos macro-indicadores económicos e pelas dissenssões existentes entre Castelo Branco e a Guarda.
Em Trás-os-Montes, impera a irredutibilidade em não pertencer a uma Região Norte, previsivelmente dominada pelas elites situadas na órbita do Porto, no que parece corresponder a uma identidade transmontana vivamente interiorizada.
No Minho, a aceitação de uma classe dirigente situada no Porto é igualmente repudiada.
Descendo até ao Porto, constatamos que a regionalização faz essencialmente sentido se instituir uma vasta Região Norte, do litoral portuense ao nordeste transmontano, quer junto das elites social-democratas, quer socialistas.
Isto para não referir "activismos" mais circunscritos, como o dos municípios das duas margens do Douro, favoráveis à preservação da unidade duriense, ou casos como Seia e Gouveia, resistentes à integração na Beira Interior.
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