PARA PENSAR EM FÉRIAS...



Paulo Julião, 10/Agosto/2007


Galiza - Portugueses já representam 20% dos estrangeiros

A dez quilómetros da fronteira portuguesa, o pequeno município galego de Oimbra, na província de Ourense, é talvez o melhor exemplo do intenso fluxo migratório de portugueses para aquela região de Espanha. Dos cerca de dois mil habitantes daquele concelho, mais de 10% são naturais de Portugal. Em toda a Galiza, os portugueses já representam 20% da população estrangeira e a explicação parece simples: melhores cuidados de saúde, um custo de vida mais favorável e salários mais altos.

Segundo dados oficiais do Governo Regional, a quantidade de cidadãos portugueses com residência na Galiza ascende actualmente a 15 470, distribuídos pelas quatro províncias galegas. Número que tem sofrido um claro incremento e que peca por defeito, segundo reconhecem as autoridades locais, até tendo em conta a situação ilegal de muitos dos trabalhadores portugueses que ali se fixam ou para lá rumam todos os dias. Certo é que, dos mais de 81 mil cidadãos estrangeiros a residir legalmente na Galiza, 20% são portugueses.

Bem-vindos à Galiza

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A tendência é alargada a toda a fronteira galega com Portugal. A província de Ourense, delimitada pelas regiões de Alto-Minho e Trás-os-Montes, conta já com 6150 emigrantes portugueses registados oficialmente. No caso da província de Pontevedra, fronteira ao distrito de Viana do Castelo, o número de portugueses ultrapassa os 5400. Os mais "abastados", conta o vice-alcaide de Oimbra, conseguem mesmo ter duas residências, em cada País, beneficiando igualmente dos cuidados de saúde prestados do lado galego, que disponibiliza mais de meia centena de unidades hospitalares de referência, entre públicos e privados.

"É muito bom tê-los por cá. São gente trabalhadora e adaptam-se muito bem", acrescenta. Reconhece, ainda, que muitos dos portugueses a viver na localidade são reformados: "Sobretudo antigos mineiros."

Crise de mão-de-obra no País

Do lado de cá da fronteira, este fluxo migratório de portugueses agrava a falta de mão-de-obra especializada, como reconheceu ao DN o autarca de Vila Nova de Cerveira: "Sobretudo a nível da construção civil. Há aqui empresas que já têm dificuldade em contratar trabalhadores, porque os melhores atravessam o rio e vão para a Galiza", conta José Manuel Carpinteira. Alguns mantêm a residência no concelho, admite, mas outros são "atraídos" pelas condições de vida do lado galego. "Recebem muito mais e para alguns é uma solução de futuro", admite o autarca, cujo município está separado da Galiza apenas pelas escassas centenas de metros da ponte internacional que liga a Tomiño. Para além da prestação de cuidados de saúde, em contraponto com o fecho de alguns serviços do lado português, como é o caso de Vila Nova de Cerveira. a necessidade galega de mão-de-obra especializada, sobretudo de construção civil, pescas e agricultura, com salários substancialmente mais altos, convida à partida dos portugueses.

E até o custo de vida favorece a "mudança." Exemplo disso é a compra de automóvel novo. Como referência, a venda do modelo Seat Ibiza 1.2 de 70 cv, era publicitada, esta semana, por cerca de nove mil euros. Em Portugal, o mesmo automóvel não é vendido por menos de 14 mil.

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