Convém de vez em quando lembrar

145O problema da regionalização em Portugal começou a ser debatido a partir de 1976, quando a mesma apareceu consagrada na Constituicão da República Portuguesa (art.º 256 a 262). Nesse mesmo ano surgiram dois trabalhos relacionados com a delimitação das regiões. Um do Ministério da Administração Interna e outro do então CEP (Centro Estudos de Planeamento do Departamento Central de Planeamento. Porem, estes projectos nunca chegaram a ser discutidos na Assembleia da Republica.

O Assunto adormeceu a partir de então e até à nossa adesão à CEE, em l de Janeiro de 1986, altura em que a discussão é reactivada. Em consequência, todos os partidos apresentaram então, no Parlamento projectos de criação de regiões administrativas.

A oportunidade política da regionalização, pelo menos em termos eleitorais, e a necessidade de acertar argumentos com as directrizes das Comunidades Europeias, terão, porventura, sido as razões fundamentais que levaram os então cinco maiores partidos (CDS PCP PRD PS e PSD) a considerar nos seus programas eleitorais o problema da delimitação das regiões.

O facto de o problema ter sido relativamente esquecido após o governo português de então ter conseguido que as Comunidades Europeias considerassem o continente português como uma única região de objectivo 1, reforça a ideia de que a disussão política a seguir a 1986 era determinada por razões estratégicas que se prendiam com a necessidade de agradará Comissão das Comunidades.

Mas o cruzamento de interesses entre o poder político e o poder económico, o domínio do primeiro pelo segundo, a concentração do poder económico no litoral e os interesses historicamente sedimentados na exploração dos já escassos recursos do interior impediram o governo de avançar com a regionalização.

Como argumento oficial usou-se e abusou-se de dois factores que, tendo alguma razoabilidade, só valem pela negativa, como justificação necessária de quem tem que encontrar desculpas para aquilo que não deseja fazer. São eles a pequena dimensão geográfica e demográfica e a unidade linguística; mais tarde, já em 1995, o então Primeiro-Ministro Cavaco Silva viria a assumir claramente uma posição anti-regionalização, com o argumento dos custos e o de uma eventual guerra civil entre portugueses que, segundo ele, poderia resultar de conflitos de interesses regionais.

A esse respeito, aconselhamos a reflectir sobre os casos de Espanha, da Alemanha, Itália, da Suíça ou da Holanda, sem deixar de ter em conta que o modelo para Portugal deverá ter um âmbito bastante mais restrito que os dos referidos países.

Felisberto Marques Reigado

Comentários

Anónimo disse…
Não sabemos se Têm interesse no nosso contributo para a discussão, mas aqui vai ele.
A recordação do que foi a introdução do problema da regionalização na vida política portuguesa pode ser útil se não forem esquecidos os contextos dos momentos-chave e os interesses que nessas alturas se moviam.
A "constituição mais avançada do mundo" foi escrita e aprovada numa situação de forte disputa do país entre as duas superpotências da altura. As posições políticas dos principais partidos eram determinadas por essas disputas e a regionalização (aprovada por quase todos os partidos parlamentares, a excepção foi a reminiscência parlamentar do fascismo) surge como uma porta aberta para uma solução de divisão do país entre os dois contentores que faziam de Portugal campo de batalha. Os argumentos para a propaganda foram inventados e concertados pelos seguidores locais dos dois campos e por isso muito consensuais. quanto aos mapas aí a disputa era muito mais forte.
O "esquecimento" do assunto apenas surgiu como consequência da derrota de uma das partes. E quando volta a surgir? Como consequência da "unidade europeia", não de qualquer necessidade interna. Quanto mais una quer ser a Europa, mais pressões são feitas nesse sentido. Mas que unidade é essa? É a da concentração do poder no seu centro para o que é necessário enfraquecer as periferias (olhai por exemplo a Jugoslávia e a Checoslováquia). Trata-se de dividir para reinar. E o caminho da especialização em que a regionalização é um elemento essencial. O desenvolvimento harmonioso do país precisa de uma revisão da divisão administrativa do país, mas não essa. A criação de dois pólos principais que sirvam de motor ao país e onde se concentrem os esforços arrastarão todo o resto no sentido do progresso. São eles a região especial de Lisboa e a região especial do Porto, nada mais e sem as características das regiões europeias. Ou seja, o continente continuaria a ser uma só região para a Europa.
De forma simples e só com os traços elementares da questão política envolvida, esta é a nossa posição.
Anónimo disse…
O Algarve fica demasiado longe de Lisboa no contexto dessa reflexão.
Caro portopcpt,

Primeiramente convém perceber que as regiões administrativas constitucionalmente não passam de autarquias intermédias que funcionariam apenas no sentido de dar mais coerência à administração central através da possibilidade de descentralizar muitas das suas actuais competências para um patamar intermedio e democratico de poder.

Pessoalmente sou adepto de um modelo administrativo que, de alguma maneira, entronca também no seu pensamento, que é o chamado 5+2. As cinco regiões administrativas mais ou menos consensuais, mais duas regiões especiais - AMPorto e AMLisboa

Cumprimentos,
Anónimo disse…
Este 5+2, tem um custo muito elevado. Não em termos financeiros, mas em termos políticos. As 2 já existem e nunca deixarão de existir, independentemente do estatuto. Portanto, acho que neste período, deveria ser "proibido", falar em qq coisa diferente de "CINCO REGIÕES".
caro Anónimo,

Estou de acordo consigo. Nesta fase, temos que nos concentrar nas 5 regiões.

Cumprimentos,