Regionalização, é mentira

«A regionalização não é uma prioridade para os portugueses», afirmou Luís Filipe Menezes, no discurso de encerramento do XXX Congresso Nacional do PSD.

Para quem defendia, na sua moção de estratégia, no capítulo da «descentralização», assumir a regionalização sem preconceitos, aqui se mostra como, quando se obtém o poder, e Luís Filipe Menezes estava indigitado há pouco mais de quinze dias como futuro líder nacional dos social-democratas, se muda radicalmente o discurso, adaptando-o às circunstâncias, de forma a agradar a gregos e troianos, como se a um governante não assistisse o dever de se comprometer com aquilo que escreve ou afirma.

Quanto à questão da regionalização, ficámos entendidos – Luís Filipe Menezes defendeu e escreveu que o «PSD estará disponível para liderar este processo», mas, em abono da verdade, depois de ter recebido recados, nomeadamente de Manuela Ferreira Leite, resolveu inverter as prioridades. Os portugueses já não anseiam pela regionalização, coisa que irá discutir com as bases e, porque não, como o próprio afirmou, esperar pela alteração da Constituição Portuguesa para evitar a simultaneidade. Foi como que um recado para o seu vice-presidente Mendes Bota, pedindo-lhe desculpa por não assumir com coragem a descentralização, mas prometendo que o Algarve, se acabarem com a simultaneidade, será a primeira região a instituir no país.

Mendes Bota, líder regional dos social-democratas algarvios, tomou o partido de Luís Filipe Menezes nas eleições directas, mostrando-se seu apoiante desde sempre, porque ele era um regionalista, defensor da descentralização, ao contrário de Marques Mendes, opositor deste modelo administrativo para Portugal. O que se constata, mais uma vez, é que na política não há compromissos e muito menos valores. Tão só assistimos à ânsia de ocupar o poder a todo o custo, dizendo agora uma coisa que agrada a quem a ouve, para a desdizer amanhã perante outra plateia.

De acordo com a manipulação, como se se tratasse de movimentar marionetas, assim se constrói o discurso, sempre na perspectiva de que o que passou passou, importa é o agora. E porque não manipular o futuro de forma risonha, prometendo a criação de 150 mil postos de trabalho ou uma nova Constituição, num aceno aos que vêem no documento base da Nação um mal para o crescimento do país.

Luís Filipe Menezes afirmou, na sua moção de estratégia: «o PSD defende que as regiões administrativas poderão ter um papel muito importante na gestão e coordenação dos múltiplos órgãos descentralizados da administração pública, e no estímulo da competitividade criativa e positiva entre diferentes partes de Portugal, contribuindo assim para uma verdadeira coesão económica e social do país». O líder do maior partido da oposição afirmou, mas não se mostrou coerente com este enunciado, porque os tais sulistas, elitistas e liberais lhe sopraram ao ouvido e, quem tem aquilo, tem medo.

Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar.

Luís Filipe Menezes afirmou ao país que o estilo do PSD é de firmeza e esperança, mas, se em algumas coisas deixou transparecer ideias, noutras ficou aquém do desejado e até as retirou do seu discurso. Começou a moldar a sua figura ao espectro político das elites social-democratas, para conseguir balançar-se entre uma esquerda e uma direita, sem ferir susceptibilidades. É uma espécie de sopa onde se vai colocando os ingredientes de forma a ficar saborosa para que todos a possam papar.Regionalização, como prioridade no PSD, é mentira.
Há que encarar com frontalidade que Luís Filipe Menezes receou avançar com a descentralização, pegar na lei de Cavaco Silva e dar-lhe expressão na Assembleia da República. Abriu-se aos autarcas, porque tem que contar com eles. A vida de Lisboa pode trazer-lhe contratempos e nada melhor do que se manter próximo das bases. Fala num conclave nacional dos autarcas social-democratas, porque Luís Filipe Menezes precisa de ter alguma coisa palpável onde se agarrar. Sem grupo parlamentar, sem uma maioria no Comissão Política Nacional, resta-lhe a área onde se movimentou nos últimos anos - os autarcas.

Comentários

Completamente de acordo. Este senhor Menezes é um verdadeiro cata-vento.

Sabendo que o PS não vai nessa história da não simultaneidade e vai inscrever o referendo à regionalização no seu programa de governo para a próxima legislatura, o que irá fazer Mendes Bota e o seu movimento "Regiões Sim"?
Victor Alves disse…
Venha a Regionalização! Abaixo o Centralismo!
L. F. Menezes está hesitante e numa encruzilhada decisiva: ou se afirma rapidamente como político com pensamento próprio, ou se afunda numa caldeirada onde cabem tudo e todos e que, por isso, não vai agradar a ninguém!


E o benefício da dúvida, quanto muito, só vai durar até ao próximo Verão. A partir daí, o seu futuro político estará traçado...


A Regionalização pode ser a pedra de toque da "nacionalização" de Menezes enquanto líder político: se falhar aí, ninguém o acreditará em nada mais!