Maldita Regionalização?J Francisco Saraiva de Sousa
A blogosfera portuguesa produz discursos inflamados sobre a regionalização. Embora defenda a regionalização como um processo de aprofundamento das práticas saudáveis da democracia e da cidadania e do desenvolvimento económico e cultural das regiões, quando leio estas reacções metabolicamente reduzidas, sou confrontado com o lado mau da humanidade: aquele lado que corrompe os ideais forjados pela nossa cultura superior para nos libertar das trevas e da menoridade (Kant).
(...)
O Norte já está dividido, sempre esteve dividido, e, para dizer a verdade, existem mais afinidades entre Lisboa e o Porto do que entre o Porto e Braga, ou Vila Real ou Guimarães. Basta pensar nas ilustres figuras do Porto que têm participado activamente na governação de Portugal, nos seus intelectuais nobres ou nos seus empresários.
O Porto é profundamente liberal e este traço marca a diferença: o resto do Norte é conservador e retrógrado. Por isso, os seus distritos afundam e sempre afundaram o Norte, condenando-o a fazer parte de uma estatística miserável, atrás da Madeira do tio Alberto, politicamente da mesma cor. Querer que a capital do Norte fosse qualquer outra cidade que não o Porto seria a catástrofe e, nesse caso, mais vale o centralismo político renovado que o regionalismo mesquinho liderado por criaturas gordas, ladras, corruptas e profundamente incompetentes, numa palavra, analfabetas em todos os sentidos do termo.
Certas reacções ...., levam-nos a meditar a essência da democracia e a escutar a voz daqueles intelectuais que, como Hannah Arendt, aconselham muita moderação, propondo um conceito mais restritivo, portanto, mais elitista, de democracia. De facto, nem todos os habitantes de um país democrático são verdadeiramente cidadãos, até porque carecem de competências para participar racional e responsavelmente nos debates da esfera pública. De certo modo, a III Tese sobre Feuerbach de Marx colocava a questão: «A doutrina materialista referente à mudança das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias são mudadas pelos homens e que o educador também tem de ser educado». De facto, numa sociedade que dispensou o pensamento crítico, como a nossa, torna-se necessário educar efectivamente os portugueses para o exercício pleno da cidadania. Caso contrário, não vale a pena alterar o modelo administrativo ou propor referendos.
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Comentários
Para o autor, entre outras tiradas, os cidadãos do "norte" menos os do Porto não são bem cidadãos, e se calhar nem deveriam poder votar, afinal de contas são conservadores.
Será que esta gente sabe o que foi o liberalismo ou o que é um liberal?
É um facto que a Região Norte, à excepção da Area Metropolitana do Porto, é maioritariamente conservadora, isto para não dizer outra coisa.
Esta tese resulta por exemplo da leitura dos resultados dos referendos. Em 1998 dos distritos que, esmagadoramente, votaram pelo não à Regionalização, temos Braga, Viana, Vila Real e Bragança. Também uma parte significativa do distrito do Porto seguiu este caminho. No recente referendo à IVG, se analisar os resultados, verifica exactamente as mesmas tendências.
A sociologia tem uma série de teorias que explicam muito bem estes comportamentos.
Cumprimentos,
Não vale a pena entrar em muitos pormenores, até porque o texto não é da sua autoria.
Claro que a região norte é conservadora, agora pergunto-lhe porque razão é que considera que o Porto não é conservador e o apelida de liberal. Liberal no sentido económico? Se foi uma cidade de burgueses, é normal que tenha preocupações diferentes das dos pequenos agricultores.
O Porto, por ser uma cidade maior, sofre influencia não só de Lisboa mas também de Inglaterra e de outras paragens.
É precisamente por o “norte” ser conservador que os comunistas aqui nunca venceram eleições em autarquia nenhuma.
Querem ver que os comunistas ganharam a câmara do Porto e não soube de nada?
Eu concordo, e já o disse varias vezes, essa leitura dos mapas eleitorais é reveladora das diferentes etnias, mas dizerem que o Porto está mais próximo de Lisboa que de Braga não tem qualquer sentido.
Ou agora por o PS ganhar SEMPRE a autarquia de Braga, Braga passou também a ser liberal? Isto é a lógica da batata.
Agora parece ser “cool” e estar na moda falar-se do “Porto liberal”, ainda não percebi muito bem a que propósito, nem com que intenções.
É que se estão a falar da entrada/invasão da cidade pelas tropas liberais, é bom saberem que esse foi dos maiores, senão o maior desastre de sempre na cidade.
O autor deste post revela bem o que seria a regionalização se o povo caísse na esparrela de a aceitar. É por isso que os seus defensores lutam por uma irmandade prévia para tentar aprová-la no Parlamento nas costas do povo.
Os portugueses do norte sabem bem por experiência de centenas de anos o que sofreram com grandes senhores, burgueses bergessos e políticos que lhes voltam as costas quando chegam ao poleiro.
A «sua» Regionalização a 5 prometida pelo seu PS tem cada vez mais probelmas... Como sabe eu votarei e apoiarei qualquer Regionalização que apareça.
O proprio autor do post assume que:
"Assim, por exemplo, até já fui acusado de ser «alfacinha», num pequeno «debate» realizado num blogue, cujo nome omito para evitar uma polémica que não pretendo levar a cabo, não com o seu autor que respeito pela firmeza das suas ideias claras, mas com os «bairristas»
Porque será?
Atenção que da maneira que o texto é apresentado, dá a entender que a frase :
"«Sou Nortenho convicto e defensor da regionalização. Defendo acima de tudo a descentralização e o fim da discriminação política, social, financeira e cultural a que o Norte tem sido devotado.
O Sr. Saraiva de Sousa parece daqueles alfacinhas que fala de barriga cheia."
Esta frase não é do autor do post, é de alguem que não concorda com o autor do post, e que o chamou de alfacinha pelo menos é isso que ele dá a entender.
"Os portugueses do norte sabem bem por experiência de centenas de anos o que sofreram com grandes senhores, burgueses bergessos e políticos que lhes voltam as costas quando chegam ao poleiro."
De facto sabem bem, um estado governado como se de uma cidade estado se tratasse, e se o "volk" sofre à tantos seculos de certeza que não é por causa da regionalização, quando muito será por causa do tal modelo cidade-estado.
Afinal de contas, desde os tempos do Condado Portucalense que não temos autonomia politica absolutamente nenhuma.
O Condado Portucalense foi a ultima autonomia que tivemos, exceptuando as invasões francesas.
Só falta dizer que a culpa é dos regionalistas.
Mas como bons vassalos que são a unica medida que adoptam é a de... emigrarem, nem que seja para Lisboa.
Há tantos seculos que a historia é sempre a mesma.
Eu só disse que a Area Metropolitana do Porto é menos conservadora que o resto do Norte do país. Nunca disse que estava mais "próxima" Lisboa que de Braga e também não me ouviu dizer que era ou deixava de ser liberal.
É perfeitamente pacífico que a AM Porto é no Norte e lá deve permanecer.
Cumprimentos
Como sabe o meu modelo ideal de instituição das regiões administrativas passa pelas 5 regiões plano + 2 areas metropolitanas com eleição directa e com poderes alargados à escala intermunicipal. Este não é, propriamente, o modelo de regionalização proposto pelo PS.
Cumprimentos,
Não vale a pena agarrar estes argumentos e utiliza-los na sua cruzada centralista. A instituição das regiões administrativas em Portugal é inexorável. Portugal não aguenta por muito mais tempo este modelo politico-administrativo hiper centralizado, pois corre o risco de ver criarem-se clivagens, de tal forma profundas, que podem, mesmo, ameaçar a coesão nacional. Para preservarmos a unidade temos que promover a diversidade.
Cumprimentos,
Para que conste:
O PCP não ganhou a CMP, mas é com ovoto do PCP que Rio vai governando e esta heim?????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????
Este texto surgiu num contexto polémico. Apenas digo que sou socialista e a favor da regionalização. Acho que isso nem sempre foi compreendido por um ou outro interveniente.
Abraço e sucesso nesta luta pela regionalização.