Região Norte


por, Luís Costa

Ciclicamente, surgem estudos e estatísticas que nos atormentam com a lamentável realidade em que mergulhou a região Norte do país nos anos mais recentes.

Já não bastava sabermos que o Norte, que há apenas duas décadas ainda integrava o grupo das dez regiões mais industrializadas da Europa, está agora - mesmo no quadro de uma União Europeia alargada 27 países - no grupo das regiões mais pobres.

Já não bastava sabermos que o Norte, nos últimos dez anos, tem andado a divergir no crescimento, quer comparemos com a média nacional quer com a média comunitária, apesar dos dinheiros de Bruxelas que supostamente deveriam estar a ser aplicados na região e a conferir-lhe uma renovada dinâmica.

Já não bastava sabermos que a política regional europeia, ao contrário do que tem sido a prática da nossa política doméstica, não é uma política de cúpula, mas uma política de parceria e descentralizada, onde as responsabilidades são compartilhadas - numa autêntica Europa de regiões - e em que os projectos são geridos no próprio terreno.

Já não bastava sabermos que praticamente tudo aquilo que é mau a nível nacional (desemprego, falência de empresas, baixos níveis de formação académica e profissional, abandono precoce da escolaridade, índices reduzidos de produtividade, escassa geração de riqueza) é pior ainda se olharmos unicamente para o Norte.

Já não bastava sabermos que nas dez sub-regiões mais pobres do país figuram quatro espaços territoriais nortenhos - Tâmega, Alto Trás-os-Montes, Minho-Lima e Douro - e que somente o Grande Porto integra o "top-ten" das sub-regiões mais ricas, mesmo assim em quarto lugar, praticamente lado a lado com o litoral alentejano, embora seja a segunda metrópole do país.

Já não bastava sabermos tudo isto e um trabalho realizado em parceria pelos institutos nacionais de estatística de Portugal e de Espanha vem dizer-nos que o Norte português desceu para a cauda de todas as regiões da Península Ibérica - incluindo as ilhas - no "ranking" do rendimento disponível bruto das famílias, por pessoa. Mais na vizinha Galiza, esse mesmo rendimento chega a duplicar idêntico rendimento na região Norte. E, claro está, de todas as regiões portuguesas a única que rivaliza com o rendimento disponível bruto das famílias espanholas é a região de… Lisboa.

É nestas alturas que me lembro de uma frase brilhantemente simples de Poças Martins, na altura a exercer funções autárquicas em Vila Nova de Gaia, por sintetizar na perfeição o drama de um país estruturado numa lógica político-administrativa praticamente imutável desde finais do século XIX "Temos uma divisão administrativa do território que não é adequada ao desenvolvimento. Assim, vamos de vitória em vitória até à derrota final".

Perante este quadro, vale a pena relembrar que, pela primeira vez nos últimos 30 anos, o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição mostram estar em sintonia quanto à necessidade de avançar com o processo político da regionalização.

É verdade que nenhum deles quer comprometer-se com calendários rigorosos, e até nisso parecem estar de acordo. O que, embora se compreenda do ponto de vista táctico (na suposição de que não existem ainda as condições necessárias a um bem sucedido referendo sobre a matéria) dá sempre para desconfiar quanto às reais intenções de Sócrates e de Menezes… até por ambos serem "cristãos novos" desta nobre e velha causa.

O certo é que a oportunidade existe, como nunca antes existira, e não pode de modo algum ser desperdiçada por quem acredita, com efectiva sinceridade, termos uma divisão administrativa do território manifestamente desadequada ao desenvolvimento. No âmbito do próximo ciclo eleitoral legislativo, que é já em 2009, os líderes dos dois maiores partidos portugueses têm de ser ferozmente confrontados com aquela necessidade - e com as suas promessas e profissões de fé.

Para quem acredita que da sobrevivência do Norte depende a sobrevivência do próprio país, a palavra de ordem só pode ser uma até 2009, paciência; depois de lá chegarmos, insistência. Caso contrário, embora correndo o risco de irritar aqueles que trazem sempre a Pátria na boca e a unidade nacional na ponta da língua, mas Lisboa no alforge, mais vale dar razão a José Saramago e admitir que, mais tarde ou mais cedo, acabaremos inapelavelmente anexados por Espanha. E, por este andar, quanto mais cedo melhor.
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Comentários

Anónimo disse…
CHI...
NÃO É POSSIVEL...
ESTOU A LER BEM?

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Anónimo 4
A meu ver quando a segunda maior cidade do país e a maior cidade do Noroeste Peninsular se encontra lado a lado com o litoral alentejano numa tabela de rendimento disponível bruto das famílias, por pessoa, algo evidentemente vai mal no reino.

Portugal perdeu o Norte. E, assim, acabará por perder a cabeça...
templario disse…
Mais valia....
os regionalistas do Norte terem coragem de questionar o que andou mal nas últimas décadas no Norte, denunciar os responsáveis, uma certa política caciquista prende de cumplicidades de favores e clientelismo, a selvajaria capitalista que a habita,

Será falta de coragem? Serão cumplicidades, jogos de encantamento, "lobbies" provincianos que se estão borrifando para os portugueses que neles votam e confiam? Livremo-nos da regionalização com tal gente. Não tardava, para justificarem o fracasso, que reivindicassem a união com a Galiza para continuarem a explorar o povo, apoiados noutros poderes bem conhecidos.
Rui Valente disse…
Caro Templário,
Não creio ser necessária coragem para os regionalistas do Norte questionarem o que andou mal porque os caciquismos, lobbies e selvajaria capitalista também abunda a Sul.
Quanto ao seu aparente medo da Regionalização, vou fazer-lhe um desenho para tentar compreender apenas uma das suas multiplas vantagens:
imagine que alguém (O Governo) me rouba e que quero deitar-lhe a mão para o levar à esquadra. Se esse "ladrão" estiver a 2 metros de mim sempre terei mais chances de o apanhar do que se estiver a 300 Kms a distância...não lhe parece? É uma questão de proximidade. Quem está longe foge com vantagem. Nunca ouviu dizer?
Anónimo disse…
Ah grande Norte. Pobre, mas vivo. O Grande Porto ao nível do litoral alentejano? Não admira.
Este "litoral" tem tudo. Agricultura e Pesca, Indústria, Serviços... de Tróia a Sines.
E trabalha. Trabalha, poupa e investe.
É das zonas mais modernas da nova europa... a sério. Mesmo sendo uma espécie de "bósnia"... Alentejo, emprestado a Setúbal...
Anónimo disse…
estou de acordo, anexados a espanha, quanto mais cedo melhor
ou entao mesmo a independencia do norte.
continuar tudo como está é que nao pode ser.
Anónimo disse…
CHI...
o que por ai vai..
Mas ainda há mais comentários...
Tenho a certeza...

o Suevo desapareceu?...
Chi... por onde andará?

Pró 5....JÁ.

Anónimo 4
Sam disse…
Eu digo-lhe o que faltou nas últimas duas épocas do Norte: auto-determinação e espaço para fazermos mais por nós. Termos um poder regional que permitisse controlar os investimentos e os gastos da nossa própria região, bem como os dinheiros que chegaram de Bruxelas. Não terá tido o governo a sua quota-parte no controlo do investimento desses dinheiros? Não teria havido um maior rigor nesses investimentos caso existisse um poder regional que realmente tivesse controlado esses investimentos em vez de estar preocupado com o seu próprio umbigo?
Anónimo disse…
Pois é, chi patrão (com que então de Moçambique). Regionalização, com realização de referendo, mais campanhas intensivas de esclarecimento (e nunca encobrimento) das populações e, como já sabem, 7 Regiões Autónomas, tudo se resolverá a bem, por longas décadas.
Nos comentários anteriores vejo muita dispersão e rabaldaria.

Anónimo pró-7RA
Sam disse…
Infelizmente não é isso a que se assiste e o tema regionalização não é suficientemente abordado na vida social portuguesa, apesar da sua importância cabal. Os meios de comunicação social olham-no com desprezo e como tema tabu. Sempre me pareceu que há muita gente que receia esse monstro chamado regionalização.
Anónimo disse…
Nem duvide, mas se não formos nós a fazê-lo (implementar a regionalização com a criação de 7 Regiões Autónomas) com a nossa iniciativas, esforço e combatividade, não será mais ninguém, muito menos os órgãos de comunicação social que estão demasiado preocupados com a actualidade: roubos, assassinatos, sequestros, desaparecimentos, misérias de infelizes compatriotas que tiveram a infelicidade de nascer neste país, incêndios, namorada do Presidente da França e outros temas mundanos que são os que pagam o salário dos jornalistas ao fim do mês.
Isto coloca a questão da capacidade de análise crítica das populações residentes nas regiões a criar: as 7 Regiões Autónomas, daí decorrendo a necessidade de um esclarecimento objectivo, contínuo insistente de todos os interessados na implementação da regionalização e de todos os restantes.
Portanto, a receita habitual: 7 Regiões Autónomas e pim nas Regiões Administrativas.

Anónimo pró 7RA.
Anónimo disse…
Não leia Miguel Sousa Tavares senão chama-lhe doido varrido mesmo nas 7RA.

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Anónimo 4
Anónimo disse…
MST nasceu no Porto, mas já não "é" de cá.

Anónimo N.
Anónimo disse…
Snr. Nóbrega,

O que propõe em 10 de Janeiro, deste ano, é bastante mais que "autonomia" é tão simplesmente "autodeterminação" que, como sabe, é a janela mais ampla para a independência.
É mesmo isto que o senhor Nóbrega pretende? Não me parece. Mas nem isso me atrevi a pedir e a defender; só me fico pela criação das 7 Regiões Autónomas, com o esclerosado conceito NORTE muito afastado do meu pensamento, porque mais próximo de Minho, Douro Litoral e Trás-os-Montes e Alto Douro. Ou então, se preferir, mais perto de Entre Douro e Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Posso integrar o senhor na lista dos apoiantes das 7 Regiões Autónomas do Continente, a somar às 2 insulares já existentes?

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Então, não pia à pergunta do teimoso?
Carlos do Nascimento disse…
Não ás 7 regiões.
Meu caro que escreveu o artigo,
concordo plenamente.
Portugal é um sem fim de multiculturalidades e temtar juntar o que á priori não funciona está errado.
Além disso esqueceu-se meu caro da região nortanha do Alto-Tâmega e barrosso que insisto deve ser considerada para região autónoma.