Carta Aberta (2)

Caros regionalistas:

Como país pequeno que somos, é natural que todas as regiões apresentem afinidades entre si. Afinal, ao contrário de outros países em que tal não acontece, falamos a mesma língua no Minho e no Algarve (com a excepção do Nordeste Transmontano), e, pelo facto de mantermos as nossas fronteiras praticamente inalteradas desde 1297, herdamos, do Minho ao Algarve, a mesma cultura e a mesma experiência histórica.

Mas não é isso que está em causa. O que está em causa é que as más políticas que seguimos ao longo destes mais de 700 anos, levaram a que Portugal se tornasse um país de contrastes. E com o passar do tempo, esta realidade, em vez de se atenuar, acentuou-se, particularmente na segunda metade do século XX.

Se olharmos globalmente para o nosso país, sem olharmos à região onde habitamos e às políticas que defendemos, há uma realidade que salta logo à vista: o contraste entre o Litoral e o Interior. Este é, sem dúvida, o pior problema que Portugal enfrenta na viragem do século.

Mas o Interior pode muito bem ser a chave para os problemas que Portugal atravessa: para um desenvolvimento sustentável, Portugal precisa de estabilizar a sua balança comercial, diminuindo as importações. E, se olharmos para o que Portugal importa, vemos o que (quase) parece impossível: a seguir aos combustíveis, estão os produtos alimentares e matérias primas. Como é que isto é possível? Será que Portugal não tem capacidade para produzir nada disto?

Já os Romanos e os Árabes usavam o Interior do nosso país como "celeiro", onde produziam os cereais (que agora, com o incremento dos biocombustíveis, se tornaram um produto bastante rentável) e todo o tipo de produtos agrícolas, e criavam gado abundantemente em extensas pastagens, tal como acontece na vizinha Espanha, com incentivos dados pelos GOVERNOS REGIONAIS.

Em Portugal, é o que se vê: abandono, desertificação e envelhecimento do Interior.

É, por isso, ao Interior que a região faz falta, é aqui que é urgente fazer algo.

Por isso, para o Interior, não basta fazer uma regionalização a cinco: de que serve a uma pessoa da Guarda ou de Bragança deixar de ter o poder em Lisboa para passar a tê-lo em Coimbra ou no Porto? Mudam os sítios, mantém-se o esquecimento.

Em Portugal, tem-se muito a mania das soluções de fachada, para satisfazer as estatísticas. E esconde-se a verdade nua e crua, o país real, e a brecha enorme que diferencia claramente as regiões do Litoral e do Interior. É isto que tem provocado o nosso galopante atraso, e a continuar assim, vamos perder o "comboio da Europa".

É urgente regionalizar, mas regionalizar a sério, sem mais soluções "administrativas" e de fachada: levar as decisões para onde elas realmente devem ser tomadas, ou seja, para o terreno.

Se este primeiro caso atingia mais as regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro, Beira Interior e Alentejo, o caso seguinte é bem diferente, e afecta as restantes regiões.

Ao longo destes anos, Portugal deixou-se levar por uma lógica centralizadora. Mais: desde que a capital se mudou de Coimbra para Lisboa (1255), que o resto do país foi votado a uma espécie de esquecimento. E, com o passar dos séculos e a atenuação das distâncias, esta tendência, por incrível que pareça, ainda se acentuou mais. Pólos que outrora haviam sido centros de dinamismo, como o Porto, Coimbra, Aveiro, Braga, Leiria ou Santarém, por exemplo, perderam importância face à centralização galopante operada a partir de Lisboa, onde se concentraram os centros de decisão, o que arrastou as empresas e, consequentemente, a população.

Tornámos-nos um país desequilibrado. A Regionalização deve ter o dom de levar o Estado mais perto dos cidadãos, e de impedir que quem quer ter sucesso, tenha de ir para Lisboa, que é o que acontece neste momento.

Por tudo isto, é urgente regionalizar, sem mais delongas.

Com os melhores cumprimentos,
Anónimo (Beira Interior), pelas 7 Regiões.
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Minicipalistas,

Sem mais nem menos.
Aos que acusam a regionalização de "retalhar" o País, com base na solução das 7 Regiões Autónomas, só tenho que lembrar que o mais grave retalhamento actual e passado consiste exactamente nas profundas assimetrias regionais existentes, especialmente entre o interior e o litoral e, especialmente, entre o resto do País e Lisboa.
Aos que acusam a regionalização de pôr em causa a unidade nacional, acuso-os de estarem a deturpar intencionalmente os seus objectivos que sempre serão e deverão ser altos desígnios nacionais:
1) Desenvolvimento económico e social
2) Conhecimento e tecnologia
3) Equilíbrio social
A unidade nacional baseada nos valores representados pelas valores linguísticos (nunca ao acordo ortográfico, o qual põe em causa tais tradições), pelos valores culturais e tradicionais, pelos valores religiosos e morais e estes associados e por outras manifestações das tradições populares nacionais, regionais e locais nunca será posta emcausa. Pelo contrário, os poderes políticos regionais e locais, conhecedores profundos de todos esses valores, serão os únicos e os mais directos e interessados responsáveis a reconhecer o seu aprofundamento, legitimidade e preservação no tempo, incutindo uma maior, melhor e mais profunda identidade das actuais e, sobretudo, das futuras gerações com a região de onde são naturais e à qual não hesitam em fixar-se.
Por fim, aos que acusam a regionalização de apenas "criar mais tachos", quase me levam a pensar que a utilidade desse seu pensamento pode estar directamente relacionada apenas com a perda potencial da sua "capacidade competitiva" traduzida no receio de perda dos seus rendimentos; neste domínio, parece serem sempre os até agora mais beneficiados, a recearem posicionar-se no conjunto dos que futuramente mais perdem, os que mais intrincada e injustificadamente acusam; os que até hoje têm perdido, pela prática de políticas centralizadas e centralizadoras, não costumam enfileirar nesse rol de acusações nem de queixinhas e preferem apoiar objectivamente a regionalização.

Assim seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)