Entrevista a Elisa Ferreira

"Público"- Local 24.03.2008, Filomena Fontes e Carla Marques

(...)

PÚBLICO - A reforma da regionalização deveria avançar sem referendo?

ELISA FERREIRA - A regionalização foi um assunto que, da maneira como foi abordada em Portugal, quase apodreceu antes de ser colhida. Isso é mau. Acho também que os referendos precisam de ser revisitados, porque nenhum dos que foram feitos acabou por ter o mínimo que o torna legalmente vinculativo, o que significa que os portugueses não o querem utilizar. E eu entendo isso. Os referendos têm de ter perguntas muito claras, que as pessoas percebam se é sim ou se é não. Agora, em assuntos em que colocar a questão dá origem aos maiores dislates, aos maiores oportunismos políticos, às tantas vale a pena fazer um balanço e ver se faz sentido, porque a mensagem dos portugueses tem sido: políticos entendam-se, foi para isso que foram eleitos.


PÚBLICO - Concorda com modelo das cinco regiões?

ELISA FERREIRA - Sempre fui defensora da regionalização com base nas cinco regiões do Continente. O mapa é o problema central, sinceramente eu não vejo outro. Relativamente ao que falta fazer, falta apenas definir quais as competências e quais os recursos. Esse é o único debate que interessa fazer, porque no fundo isto é um mecanismo de boa administração utilizado na generalidade dos países europeus. Não está em causa mais nada a não ser administrar a um nível mais adequado para responder às necessidades das regiões.


PÚBLICO - A regionalização é a derradeira esperança para o Norte?

ELISA FERREIRA - A regionalização é uma pré-condição, não é a solução para todos os males, é um instrumento. Mais do que isso: é preciso que nós percebamos que quando temos políticas nacionais, que têm impactos diferenciados, essas políticas têm que tomar em conta a realidade do Norte, que é diferente da realidade algarvia. Se tivermos uma região em que haja um porta-voz dessa região, essa mensagem é relativamente fácil de passar, mas não havendo...


PÚBLICO - E não há?

ELISA FERREIRA - Legitimamente credenciado não há. E, depois, as mensagens passam por muitos actores de uma forma um bocadinho descoordenada. As políticas nacionais têm que ter como preocupação redinamizar a economia do Norte, em particular, e do Centro. É absolutamente essencial para que o país cresça. Porque Lisboa está a crescer, o Algarve está a crescer, a Madeira também, o Alentejo está com alguma dinâmica, o Norte e o Centro estão estagnados, em perda. O país está a ser puxado para o fundo pelo facto de haver uma apatia neste momento no Norte. O que significa que algumas políticas de proximidade, de redinamização deveriam e precisam de ser lançadas.


PÚBLICO - O Governo está a dar resposta para inverter essa perda?

ELISA FERREIRA - Grande parte das respostas está nas mãos de funcionários públicos, funcionários muitos especiais que são da CCDR que estão a pegar no QREN e a tentar formatá-lo. Mas estão dependentes da administração central, não há controlo sobre o que estão a fazer no sentido até de serem apoiados politicamente. Eles, que não são visionários, fazem muita auscultação, mas podem não conseguir espoletar as dinâmicas de que a região precisa. E também não têm todos os instrumentos na mão: podem ter dificuldade em lançar lagunas estruturas de capital de risco, de inovação, em lançar algum microcrédito, a formação profissional que interessaria, em potenciar totalmente as boas iniciativas.


PÚBLICO - Isso é um bocado assustador, sendo um dos patamares principais deste QREN a inovação...

ELISA FERREIRA - Não, estou a dizer que há um risco na estrutura. Ao contrário, o presidente e os vice-presidentes da CCDRN são pessoas empenhadíssimas e competentíssimas. Temos uma oportunidade. Se houvesse uma região, é evidente que havia um controlo sobre as coisas e uma capacidade de iniciativa que nas actuais circunstâncias não há. Dito isto, acho que há condições para pegar naquilo que existe, redinamizar e, com os instrumentos que existem, fazer o melhor que formos capazes. Politicamente é preciso que se pense que não há hipóteses para o país se o Norte não arrancar. Isso é um facto do qual estou absolutamente convencida.
.

Comentários

Anónimo disse…
Parabéns! É isto.
Cinco Regiões, sim.
Falta definir competências e recursos.
O resto é conversa de bananeiro para enganar mapuatas.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas, Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Esta entrevista tem um valor acrescentado nulo para o projecto da regionalização. Sabendo da personalidade de quem se trata gostaria de não pensar que estamos igualmente diante de um "político de turno", ao não evidenciar uma posição mais estaratégica que funcionalista.
Por outro lado, continuam os vários intervenientes a sustentar as suas posições com incidência na zona territorial do norte (a regionalização tem de ser para todo o País) e na solução das 5 Regiões Administrativas, solução válida há 32 anos, como tenho insistido, mas actualmente sem qualquer valor político estratégico, apesar de ser um pequeno e limitado avanço em relação à situação actual.
Trata-se, na verdade de um PEQUENO E LIMITADO AVANÇO porque vai dar continuidade à prática habitual de políticas centralizadas e centralizadoras, adoptando 5 extensões regionais do poder central e nada mais.
Tudo o resto é encenação e formalismo, mudando alguma coisa para ficar tudo na mesma, infelizmente.

Assim não seja, amen

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)

PS - SOLUÇÃO POLÍTICA ALTERNATIVA E ESTRATÉGICA: 7 REGIÕES AUTÓNOMAS; se não for assim, quando acordarem já será tarde; depois, só terão de deixar entrar as carpideiras habituais.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,
(em especial o)
Anónimo disse das 03:45:00 PM

Espero incluí-lo no grupo das carpideiras habituais, daqui a alguns anos.
Felicidades para o seu negócio de bananas a enganar mapuatas, negócio de que deve ser profundo conhecedor.

Assim seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
É impressionante o modo como estes polícos portugueses, nomeadamente estes "boys" e "girls" do Partido "Socialista" viram o bico ao prego e mudam de opinião... Gostava de ver se Elisa Ferreira falava assim quando o Engº António Guterres era Primeiro-Ministro... É impressionante como o discurso mudou tanto em tão pouco tempo...

-----------------------------------

Li esta entrevista de Elisa Ferreira e, sinceramente, acho que é mais do mesmo: como já disse, sou da Beira Interior, mais propriamente da zona de Vilar Formoso, distrito da Guarda, mas tenho raízes em Entre-Douro e Minho, mais propriamente em Paços de Ferreira. Conheço três perspectivas diferentes em relação ao nosso país:

-Por um lado, a perspectiva "Lisbonocêntrica" que os responsáveis políticos e a comunicação social nos tentam impôr desde sempre: poder concentrado em Lisboa o mais possível, e não à Regionalização por causa da "unidade nacional". Retenção dos fundos comunitários supostamente destinados à coesão nacional Norte-Sul e Litoral-Interior na Área Metropolitana de Lisboa e arredores.
CONCLUSÃO: "Portugal é só Lisboa, o resto é paisagem"

-Por outro lado, a perspectiva "Portocêntrica": o Porto deve-se afirmar como a capital económica do país (até aqui nada a obstar), deve-se tirar o máximo poder a Lisboa, tudo bem, mas trazendo-o para o Porto. Regionalização é indispensável, mas no modelo das 5 Regiões, para o Porto continuar a dominar o interior transmontano, enchendo-o de "tachos" do Porto, alargando a área de influência política da cidade a toda a zona a norte do Douro (isto intressa a alguns políticos, para os "jobs for the boys", bem sei...).
Argumentos: mais que 5 regiões dão despesa a mais (que conclusão disparatada!!!!).
Resultado: Retenção dos fundos comunitários, supostamente destinados à coesão Litoral-Interior, na Área Metropolitana do Porto e na zona litoral da região a norte do Douro. Grande evolução do litoral, o interior fica indefinidamente encravado, cada vez mais pobre e despovoado.

Perspectiva "Coimbrocêntrica" exactamente igual à que acontece no Porto.

Conclusão do cidadão do Interior perante estas perspectivas(que, geralmente, nunca é ouvido nestas coisas):
A Regionalização só serve os interesses do Litoral, de que nos interessa que o dinheiro deixe de ficar em Lisboa para ficar retido no Porto ou em Coimbra? De que nos serve a nós a Regionalização, se o poder continua a estar longe e os problemas do interior (envelhecimento, empobrecimento, desemprego, falta de serviços) continuam? Visto desta maneira, até parece que a Regionalização só serve o interesse de meia dúzia de caciques tipo Valentim Loureiro na zona do Porto...

Infelizmente no Interior, esta é a realidade. Se em 1998 a Regionalização foi inquinada pela desinformação e por interesses políticos, agora é inquinada por interesses das grandes cidades. Depois os responsáveis políticos admiram-se de verem a Regionalização rejeitada no Interior, onde é mais necessária...

Não se pode cair no erro de fazer uam Regionalização apenas para "calar" as massas críticas do Porto ou de Coimbra: é preciso agir concretamente, e onde é mais preciso agir é no Interior. É preciso trazer gente para cá, atrair empresas, aumentar a população, e não é por falta de condições que o Interior está despovoado: cada cidade média do Interior possui já instituições credenciadas aos níveis da saúde e educação, e em todos os concelhos já existem infra-estruturas em geral melhores que as existentes no litoral. Isto prova a capacidade das regiões interiores de gerirem o seu próprio futuro e a vontade de deixar de ser reféns do Litoral.

Por tudo isto, 7 Regiões:
*Entre-Douro e Minho
*Trás-os-Montes e ALto Douro
*Beira Litoral
*Beira Interior
*Estremadura e Ribatejo
*Alentejo
*Algarve

Afonso Miguel (Anónimo, Beira Interior)
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,
Caro Anónimo (Beira Interior),

Vai haver necessidade de mais tempo, insistência e capacidade explicativa para poderem compreender a importância de se evitarem policentrismos de grande dimensão que a regionalização administrativa só pode potenciar com as 5 Regiões Administrativas, suportadas pelas actuais 5 CCDR'S de má memória.
Este policentrismo disforme (no máximo, 5, muito pior que o capital centralismo por manifestações provincianas) é a expressão de uma feira de vaidades intolerável já no século XX quanto mais no século XXI e tanto mais provinciana quanto irracionalmente reclamante na versão administrativa da regionalização.
Esta constatação só pode gerar tristeza em quem quer apostar no desenvolvimento harmonioso e autosustentado do nosso País, dando razão àqueles que sustentam que "CADA POVO TEM AQUILO QUE MERECE".

Assim não fosse, amen.
Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)