As Eleições no PSD e a divisão regional do País

João Miranda no "DN"


MANUELA FERREIRA LEITE

Manuela Ferreira Leite candidatou-se à liderança do PSD. É apresentada pelo PSD elitista como uma candidata para unir e reformar o partido. Mas Manuela Ferreira Leite é um dos rostos mais visíveis de uma das facções em luta pelo poder dentro do PSD. Não pode ser um factor de união. Por outro lado, os membros do PSD elitista vêem o partido de acordo com os seus padrões e sentem-se incomodados pelo poder da ala populista. Para a ala elitista, reformar o partido significa limpar o partido dos populistas. Este impulso reformista faria algum sentido se o poder da ala populista resultasse de bloqueios à livre concorrência entre facções dentro do PSD. Mas o poder dos populistas é poder real, que resulta da implantação dos membros do PSD populista nas autarquias locais e nas concelhias e distritais do partido. Limpar o partido dos populistas implicaria reduzir o PSD a um pequeno grupo de elites sedeadas em Lisboa que faz política pela televisão.

A divisão do PSD entre elitistas e populistas reflecte, pelo menos em parte, a divisão do regional do País em dois grandes centros demográficos, a Grande Lisboa, rica e desenvolvida, e a Região Norte, pobre e atrasada. Não é por acaso que o poder da ala populista se centra na distrital do Porto. Quando passaram pelo Governo, os membros do PSD elitista, em vez de contribuírem para reduzir as assimetrias regionais do País, optaram por canalizar o grosso do investimento público para a Grande Lisboa. Esta opção política, que reflecte as ideias que as elites do PSD têm para o País, agravou assimetrias regionais, criou divisões no partido e acabou por alimentar o poder do PSD populista.

Os membros do PSD elitista querem fazer passar a ideia de que a divisão no PSD é sobretudo uma questão de qualidade do pessoal político. Manuela Ferreira Leite apresenta-se como competente e credível. Mas a competência e a credibilidade não fazem um projecto político, não resolvem as assimetrias regionais do País nem respondem às reivindicações políticas que alimentam o PSD populista.
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Entre elitistas, populistas, optimistas e pessimistas, a única certeza que temos é que o desenvolvimento do País continuará irremediavelmente atrasado, se insistir em enveredar por projectos políticos pessoais ou por preferir decisões políticas casuísticas.
Começando pelo princípio, os políticos "elitistas" não se compaginam com qualquer tipo de cedência à intensificação da defesa dos seus interesses, seja qual for a sua natureza, onde a regionalização só poderá ter lugar pólítico se for assegurada a continuidade "elitista e dinástica" nas regiões a implementar, de preferência administrativas, num enquadramento neoliberal técnica e sofisticadamente elaborado. Não é por aqui que a regionalização se pode apresentar como um projecto político de desenvolvimento autosustentado e integrado, onde toda a actividade política se traduz num casuísmo um pouco mais sistemático, do ponto de vista técnico, mas sempre com denominador na defesa de interesses particularizados. Não existe, com este tipo de comportamento político, qualquer laivo de credibilidade junto das populações.
Relativamente aos "populistas", é notória a inconsistência política das propostas que pretendem apresentar à clientela política, onde o casuísmo é a regra básica da sua actuação política para satisfação de interesses ou exigências igualmente particularizadas, num ambiente neoliberal sem qualquer constrangimentos, tecnicamente emobrecido e que as maiorias absolutas acabam por transformar em autênticas ditaduras de roupagem democrática. Não é por aqui também que a regionalização pode ter uma abertura responsável e duradoura para a sua implementação no teritório continental nem para o seu aperfeiçoamento nas regiões autónomas insulares. A credibilidade, com este tipo de comportamento político, resvala sempre para as ruas da amargura, como se tem repetidamente verificado, desprezando a credibilidade política.
A parte mais controversa desta análise reside provavelmente no caso dos "optimistas", característica bem própria dos políticos que exercem o poder, ao viverem na tentação (não é ilusão porque eles sabem o que estão a fazer) de o conteúdo das suas mensagens do "tudo bem no melhor dos mundos" passar uma tangente à irresponsabilidade política. Esta irresponsabilidade política, às vezes, é tanto maior quanto as mensagens optimistas se encontram desfazadas da realidade crua e dura que as populações vivem permanentemente, continuando a verificar que a luz que ainda vêem ao fundo do túnel continua a ser a do comboio. Também com este comportamento, dirigido para as parangonas da comunicação social e para destinatários que só gostam de ouvir tais tipologias de mensagens como se fosse música erudita, não conseguem credibilidade junto das populações (o tal eleitorado que devia eleger pessoas e não somente os filiados em partidos), nem se vislumbra interesse estratégico num projecto político da envergadura da regionalização administrativa quanto mais autonómica (basta analisar a última legislação sobre áreas metropolitanas, comunidades intermunicipais, etc.).
Os "pessimistas", se não exagerassem na persistência das suas mensagens sempre negativas (porque nem tudo é tão negativo como às vezes propalam, felizmente), poderiam ver aceite com maior razoabilidade o conteúdo das suas mensagens que relatam a permanência de problemas em realidades sociais que afectam muitas vezes a vida das populações. E quando essa razoabilidade toma assento nas suas intervenções, existe uma capacidade de entendimento por parte das populações ou de uma grande parte delas, com grande capacidade da sua mobilização para a resolução dos problemas tidos como politicamente importantes. Este tipo de comportamento pode, em certas circunstâncias, ser receptivo à aceitação e proposição de projectos políticos da dimensão e importância da regionalização, se não forem ponderados por uma partidarismo execerbado e inflexível a uma convergência de posições políticas. Neste caso, poderia dar um contributo à regionalização tanto administrativa como de preferência autonómica e, por esta via, apresentar soluções para eliminar o nosso atraso crónico em termos de desenvolvimento.
Se tais comportamentos abundam no espectro politico-partidário do nosso País e têm impedido tomadas de posição política e estratégica rumo ao desenvolvimento político, económico, social, cultural e de outros tipos, o "casuismo" nas decisões é de uma irresponsabilidade política tal que justificava uma imputabilidade compatível com a realização de eleições intercalares e destinada unicamente a remover os seus executivos "casuísticos" do exercício do seu do poder político, o qual não é um poder absoluto mas mandatado.
Neste enquadramento se encontra o designado "projecto político pessoal". Este último tipo de projectos não incorpora qualquer tipo de estratégia política de médio e longo prazo, a não ser de natureza pessoal, para os quais devemos sensibilizar a nossa especial atenção face aos resultados que já demonstraram na sociedade portuguesa. Antes de serem pessoais, os projectos terão de ser genuinamente políticos, isto é, voltados directamente para a defesa dos interesses das populações, através da eleição de altos desígnios nacionais a prosseguir sem hesitações, num quadro de inteira subsidiariedade nacional para eliminação das assimetrias e das mega centralidades existentes, as quais acabam por "megar" tudo sem as suas populações o pedir, enquanto as populações do resto do País têm de EXIGIR: investimentos, emprego, melhor nível de vida material e cultural, etc., etc.
Tais desígnios são fáceis de eleger, à semelhança do que repetidamente tenho escrito neste blogue e que mais uma vez, sem qualquer cansaço, o faço novamente:
(a) Soberania Nacional
(b) Desenvolvimento Económico e Social
(c) Conhecimento e Tecnologia
(d) Equilíbrio Social
Por tudo o que foi referido, já conseguimos vislumbrar o triste espectáculo dado pela política à portuguesa e, ao afirmá-lo, não estou a referir-me sequer às mais recentes diatribes partidárias, nem mesmo de longe, infelizmente.

Assim não fosse, mas continua a ser, infelizmente.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)

PS - Apresente-se primeiro um projecto político e, depois, escolham-se as personalidades políticas melhor capacitadas para o realizar. Que melhor projecto político pode ser apresentado às clientelas partidárias e, depois, às populações, que o da regionalização autonómica, baseado na criação e implementação das 7 Regiões Autónomas?
O melhor pelas seguintes razões: (a) Não é mais do mesmo,
(b) Permite inovação nas soluções,
(c) Exige melhores e mais conhecedores protagonistas políticos,
(d) Obriga a conhecer e a calcorrear as regiões do nosso País,
(e) Os representantes a dialogar mais directamente com os representados,
(f) Incentiva a aprofundar as incompatibilidades funcionais ainda por definir e
(g) A absolutizá-las (as actuais são relativizadas e ainda insuficientes),
etc., etc., etc.
Anónimo disse…
ASNEIRA:
"A divisão do PSD entre elitistas e populistas reflecte, pelo menos em parte, a divisão do regional do País em dois grandes centros demográficos, a Grande Lisboa, rica e desenvolvida, e a Região Norte, pobre e atrasada."

Pois é, lá estamos nós a deturpar a realidade. Se me falassem em elitistas em Lisboa e Populistas no Minho e Douro Litoral, ainda era capaz de aceitar. Agora, balelas como a região "Norte"? Olhem para Trás-os-Montes, que o Porto quer a toda a força "anexar": vêem lá tanta população, riqueza e políticos importantes como isso? Lentamente, quer-se implantar esta falsa "região Norte". Até já se diz que as comunidades autónomas espanholas têm o mesmo tamanho das regiões portuguesas: como se fosse possível comparar um Entre-Douro e Minho com uma densidade populacional de quase 1000 hab./km2, com uma Andalucía, com apenas 90 hab/km2.
Não se pode ser ambíguo nestas matérias. Como todos sabemos, uma coisa é aquilo a que genericamente chamamos Minho, que engloba, grosso modo, os distritos do Porto, Braga e Viana do Castelo, e outra coisa é Trás-os-Montes. São regiões diferentes, com problemas diferentes, realidades geográficas, económicas e sociais completamente distintas, e uma identidade muito própria. Por isso não pactuo com esta anexação. Porque Trás-os-Montes não é nenhuma Polónia.

Transmontanos, vamos todos unir-nos contra o centralismo de Lisboa e do Porto.
Anónimo disse…
Caro Anónimo,

Pelo que vejo, demorou a reagir a certas posições regionalistas que parecem sê-lo mas não o são.
Mas refiro-lhe que ainda foi muito a tempo, declarando-lhe que tem toda a razão em defender a separação das regiões do litoral das do interior por razões que aqui já expliquei sobejamente: daí que tenha de existir, sem qualquer hesitação política, uma Região Autónoma de Entre Douro e Minho e outra Região Autónoma de Trás-os-Montes e Alto Douro, para todo o território situado mais a norte e com limite sul na bacia hidrográfica do rio Douro.

Declaração de interesses: sou natural e residente no Concelho de Vila Nova de Gaia, integrado no actual Distrito do Porto e, futuramente, na Região Autónoma de Entre Douro e Minho, vizinha pelo oeste da Região Autónoma de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Assim seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)