Farto do centralismo lisboeta

no, "Absinto"

Gosto muito de Lisboa. Adoro passear no Chiado naqueles Sábados com uma luz que só Lisboa tem. Adoro o rio. Qual pacóvio provinciano que sou, adoro passar na ponte 25 de Abril, só para desfrutar da beleza da vista. As pessoas são muito simpáticas e prestáveis.

Mas estou cheio do centralismo dessa cidade que subjuga o resto do país.
Quando foi o referendo da regionalização, votei não com toda a convicção. Porque Portugal é um Estado-Nação; porque é um país pequeno demais para ser retalhado; por causa dos velhos e novos caciques mais respectivos poderes acrescidos, tachos, despesas e todos esses argumentos.

Mudei de ideias: venha novo referendo que eu voto sim de caras. Estou farto de ter que ir trabalhar para Lisboa se quiser ganhar aquilo que as minhas qualificações e experiência merecem, que as decisões que afectam o país todo provenham do Terreiro do Paço, que se enterrem biliões em novas estradas, túneis e sei lá que mais e quando lá vou, a merda é sempre a mesma, se não pior. Estou farto de todas as exposições, espectáculos e demais oferta cultural serem um exclusivo de Lisboa. Estou farto de os políticos, assim que assentam arraiais em Lisboa, se esquecerem de onde vieram (já alguém ouviu algum político do Norte com sotaque quando está em Lisboa ?). Da fantochada das listas eleitorais para as legislativas, da qual o exemplo mais gritante é precisamente o Paulo Portas por Aveiro, mas não é o único.
Cheguei à conclusão de que não somos um Estado-Nação. Somos um Estado-Cidade.

Venham os círculos uninominais, já.

Quero ter um dia por mês que seja, para ir pedir contas do trabalho que os “meus” deputados estão a fazer na Assembleia da república.

Quero que enquanto se constroem e projectam em biliões de euros mais pontes para Lisboa, a da minha terra não seja remendada in-extremis.

Quero que os espectáculos subsidiados pelo Estado sejam obrigados a fazer uma digressão pelo país.

Quero que seja uma qualquer Assembleia a decidir as prioridades para a minha região e não um gajo qualquer que está em Lisboa e que nunca cá veio ver as modas nem conhecer as realidades.

Os Portuenses mais antigos, dizem que o Salazar mandou construir a Estrada da Circunvalação para que o Porto não pudesse crescer mais e ameaçar Lisboa e já começo a acreditar que se calhar, têm razão.

Vem este artigo a propósito de uma razão mais do que comezinha: o filme Blade Runner ter voltado ao grande ecrã na sua versão final e a província, mais uma vez, ter ficado a ver navios. “Pá, em Lisboa ainda enchemos uma sala ou duas, na província vai ser só prejuízo, que se lixem”. Vão-se quilhar, conhos lisboetas, tenho muita pena de não o ter podido rever no cinema, mas revi-o em DVD no meu plasma.

A razão é realmente comezinha, mas fez-me escrever isto que tinha engatilhado há muito tempo.
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Reporto-me novamente à minha intervenção nos "post": "O 25 de Abril e as Autarquias".

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)