Palavra aos opositores

Tavares Moreira
Ex-Secretário de Estado do Tesouro
EX-Governador do Banco de Portugal


Regionalização ou Descentralização

Há sinais de que estes temas estão a voltar ao cimo da agenda política.
O PS parece não desistir do velho projecto da Regionalização, apoiado por alguns notáveis, especialmente da região Norte.

Certos sectores políticos aparecem a defender um projecto aparentemente diferente, da descentralização/desconcentração, visando atribuir novas competências aos Municípios em matérias como a educação e a saúde.

Em ambos os casos está subjacente a ideia de que aproximando a Administração Pública dos cidadãos se obtêm melhores resultados, no pressuposto de que com essa proximidade se ganha eficiência na gestão dos recursos públicos.

Melhor conhecimento das realidades implicaria melhor resposta às necessidades colectivas e, em consequência, conseguir idêntico grau de satisfação de necessidades colectivas aplicando menos recursos.

Ou, em alternativa, com os mesmos recursos conseguir maior grau de satisfação das necessidades colectivas.

Tudo isto é hoje muito duvidoso, para além de muito vago.

Parece evidente – quase uma verdade de La Palisse – que a maior proximidade das administrações locais ou regionais dos problemas dos cidadãos lhes confere, em princípio, a possibilidade de obter um melhor conhecimento das necessidades colectivas na respectiva área de competência ou jurisdição.

Mas já será discutível que daí se possa concluir que essas mesmas administrações farão um melhor uso dos recursos públicos na satisfação das necessidades colectivas.
Julgo mesmo que isso só se verificaria forçosamente numa hipótese: da existência de recursos ilimitados para a satisfação das necessidades colectivas.

A situação que temos hoje é todavia muito diferente. Temos recursos escassíssimos para satisfação de imensas necessidades.

Não estou nada certo que, em tais circunstâncias, os responsáveis municipais/regionais se encontrem na melhor posição para assegurar uma hierarquização correcta das prioridades na satisfação das necessidades colectivas.

Creio mesmo que existe uma tendência, algo perversa, para que o investimento na melhoria da satisfação de algumas necessidades básicas – redes de saneamento, sistemas de tratamento de resíduos sólidos, sistemas de abastecimento de água, por exemplo – seja preterido por despesas em obras mais vistosas, que geram uma satisfação mais rápida e fácil nos eleitores locais.

Não quero ser injusto e dizer que é sempre assim. Creio todavia que a experiência dos últimos anos é bem pouco animadora quanto a esta realidade.

Não é minha intenção aprofundar a discussão das vantagens ou desvantagens da regionalização ou da descentralização/desconcentração.

O meu ponto hoje prende-se mais com a constatação de que, tanto a regionalização como a descentralização estarão congeladas por muitos anos por causa da dramática situação das nossas finanças públicas.

Se quiserem, dito doutro modo, a serem levados mesmo a sério, esses projectos teriam como consequência (entre outras) a definitiva impossibilidade de resolução do problema das finanças públicas em Portugal.

É esta, sinceramente, a minha opinião. Pode ser que não tenha razão, mas a ver vamos…
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Comentários

Anónimo disse…
Pois... Esta é a escola do Prof. Cavaco Silva (1985-95).
Creio que hoje poderia ser encontrado um modelo diferente, com base nas cinco Regiões.
Juntas Regionais com orçamentos rigorosos, funções bem definidas, step by step. Para não criar poços sem fundo, elefantes brancos, essas coisas...
O Projecto das NUT´s III faz-me recordar a frase do futebol... "conversa de bananeiro para enganar mapuatas..."
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O conteúdo deste "post" é mais conversa da treta, dado que o Orçamento do Estado não deixa de prever a (re)distribuição de elevadíssimos montantes para satisfazer projectos de investimento grandiosos que ainda não colheram a unanimidade das populações.
Poderão ter a unanimidade de políticos, técnicos, gestores, construtores, parceiros público-privados e tantos outros (os suspeitos do costume), mas não daqueles que acabam por os financiar integralmente, tanto nas contribuições fiscais domésticas como nas contribuições fiscais europeias, mas sempre e todos contribuintes.
A ausência de desenvolvimento acontece mais por falta de capacidade, ambição e vontade políticas do que por falta de recursos financeiros. Os contributos de ex-governantes e ex-qualquer coisa parecem atrair as simpatias de muita gente, rotulando-os até de "palavras sábias", "atitudes corajosas" e já nem sei que mais. Continuem assim e vão deixar entrar novamente as "carpideiras", na próxima oportunidade que será mais cedo do que pensam.
O mais acertado será ignorá-los a todos porque, enquanto o que foram no passado, o seu contributo para políticas inovadoras e corajosas a favor do desenvolvimento e autonomia regionais tiveram valor acrescentado nulo.

Assim não tivesse sido, mas foi e continuará, infelizmente.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)

PS - Com PRACE, SIMPLEX, NOVAS OPORTUNIDADES e outras iniciativas, continuamos um País cada mais de dificuldades, desequilíbrios e JAMAIS DE OPORTUNIDADES.