Portofobia

Muito refrescante a entrevista de Rui Moreira na edição de ontem do “Sol”.

Tantas vezes acusado de “excesso de disponibilidade” e de se colocar acima da instituição a que preside, Rui Moreira mostrou que o que verdadeiramente não lhe falta é frontalidade e sentido de serviço perante a sua região e o País.

Depois do “mea culpa” feito acerca da posição no último referendo de regionalização (hoje tal como eu, concorda que pior do que uma má regionalização, só mesmo não haver nenhuma), Rui Moreira faz severas críticas ao sistema político e à forma como não tem sabido integrar o Porto e o Norte num projecto e desígnio de um Portugal europeu.

No que se refere aos investimentos públicos Rui Moreira põe o dedo na ferida da crise, para justificar (e bem!) a insistência na alternativa “Portela mais um” e desmistificar a necessidade da ligação ferroviária Lisboa-Madrid por TGV.

Para não falar deste “novo-riquismo” de continuar a expandir a sumptuosa rede rodoviária que já hoje temos, num País onde existem cada vez mais pessoas no limiar da indigência.

Enfim, com coragem e racionalidade, Rui Moreira falou da “portofia”, essa doença de sobranceria e arrogância, que os construtores da capital cortesã têm perante o resto do País, a que chamam desdenhosamente de província. O ponto mais alto desse referencial provinciano é o Porto e os portuenses.

Por isso só nos resta, como diz Rui Moreira, resistir - ser uma espécie de gauleses que se sentem obrigados a defender, com bravura, o seu terreiro e as suas tradições.
(...)

por, António de Souza-Cardoso

Comentários

Anónimo disse…
Vale para este "post" o meu comentário sobre a realização das Expo em Espanha, em cidades diferentes de Madrid, a cidade-capital espanhola.
No entanto, com o devido respeito pelo Dr. Rui Moreira, meu colega de faculdade, a combatividade em prol do desenvolvimento das regiões não se pode esbater na crítica a projectos nacionais como o novo aeroporto de Lisboa (não me interessa como regionalista e o melhor que tem são as partidas de avião para o aeroporto de Pedras Rubras, apesar do seu elevado preço, o TGV (projecto que não defendo porque antes ter-se-ía de aproveitar as infraestruturas ferroviárias actuais), a gestão privada do aeroporto de Pedras Rubras (não é de interesse regional e público, mas de interesse local e privado, digam o que disserem os seus defensores) e a distribuição das verbas do QREN (sempre o fantasma das "massas", antes de se produzir seja o que for).
Com este posicionamento, deixamos passar ao lado os aspectos mais importantes do desenvolvimento e aqueles que directamente mais nos interessam ao defender-se e impementar-se a regionalização. Não uma regionalização que serviria para mudar o que garantisse continuar tudo na mesma, como aconteceria com a regionalização administrativa, mas uma regionalização suportada pela autonomia política de 7 Regiões Autónomas, com base na experiência melhorada proporcionada pelos exemplos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Com as posições alinhadas por alguns líderes associativos e até políticos locais, as propostas que apresentam correspondem a começar pelo fim e a não construir alternativas reais de desenvolvimento assentes numa estrutura e numa política e estratégica capaz de assegurar uma real e sustentado desenvolvimento.
Só depois é que aparecerá a "distribuição de verbas", com uma produção regional especializada, valorizada e assegurada, complementada com uma política de subsidiariedade nacional que o Governo deveria já começar a aprender a aplicar.
Por isso, a entrevista do Dr. Rui Moreira não me pareceu refrescante nem trouxe nada de novo à principal exigência que os responsáveis locais e regionais devem apresentar junto do Governo Central e Centralista: a implementação da regionalização autonómica e nada mais.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)