«estamos em risco de transformar um terço do País numa imensa Olivença»

Entrevista a Mendo Castro Henriques

(...)

Portugal vive também uma crise democrática com jogos de interesses entre os poderes instituídos?

É preciso sacudir o peso dos cartéis de negócios na política portuguesa e dos apoderados que vieram de Ministérios da Administração Interna para a gestão de multinacionais. Lá dizia Cícero, nem tudo o que é lícito é honesto…

Precisamos de uma reforma parlamentar, com círculos uninominais e mesmo deputados por regiões naturais (como no Senado Americano), em suma, uma representação com maior proximidade ao cidadão e maior transparência de interesses, a olhar os exemplos das monarquias constitucionais, a começar pela nossa, como tem dito o prof. José Adelino Maltez.

Que avaliação faz da nossa democracia?

Acho que estamos a resvalar para uma democracia de call center: recebe e emite recados a curto prazo sobre questões que não controla. Ora nós precisamos de um pacto de regime com objectivos de interesse nacional permanente; precisamos de uma transição a ser estimulada por forças independentes dentro e fora dos partidos.

Todos os sinais vão nesse sentido; positivamente, desde a famosa candidatura de Manuel Alegre, até às candidaturas independentes em Lisboa; negativamente pela apatia e abstencionismo, sobretudo dos jovens; pelos movimentos de cidadania e pela blogosfera.

Um pacto destes a ser construído por todos, exige um poder independente.

Como avalia a acção do Executivo na gestão desta crise económica e social?

A minha opinião pessoal pouco interessa. Mas no nosso Instituto estamos a preparar dossiers sobre as 28 regiões naturais NUTS III (a situação é melhor nas 2 autónomas) com indicadores graves da crise: Desordenamento extremo do território e da economia.

Extrema precariedade nas redes logísticas. Desajustamento do sistema de formação profissional à procura real da economia. Despreocupação do Estado relativamente ao sobre-endividamento das famílias. Peso excessivo dos transportes e do custo da habitação no orçamento familiar.

Queda acelerada das pequenas e médias empresas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Dificuldade no acesso à informação de largas camadas da população.

Uma das grandes críticas que se têm feito a este Governo é o investimento no betão e o esquecimento do Interior. Concorda com esta visão?

É mais complicado. O grande investimento no sector rodoviário tornou o país mais coeso. Os municípios do interior também receberam fundos para equipamentos de grande valia e podem acolher mais população. Mas depois das infraestruturas falta criar condições de investimento em bens de produção e consumo.

Num estudo do nosso Instituto coordenado pelo Eng.º Frederico Brotas e o dr. Ricardo Gomes da Silva identificámos as seguintes medidas imediatas: Baixar o IRC até 0% às empresas a estabelecer no interior Neutralizar o monopólio dos transportes rodoviários nas longas e médias distâncias.

Programar as reservas logísticas de combustíveis e alimentos nas regiões de consumo. Promover a navegação costeira e fluvial para o abastecimento de novas plataformas logísticas multimodais, no coração das áreas de consumo, e das mais intensas vias de comunicação Norte-Sul. Adaptar a rede ferroviária gradualmente à bitola ibérica.

Continua a achar que estamos em risco de transformar um terço do País numa imensa Olivença? Porquê?

Porque 50% do território do país só tem 20% da população e apenas 10% do PIB. As regiões naturais de Tâmega, Alto Trás os Montes, Douro, Beira Interior Norte e Sul, Serra da Estrela, Cova da Beira, Pinhal interior Norte e Sul, Alto Tejo, Alto, Centra e Baixo Alentejo estão excluídas de muitos benefícios do desenvolvimento e por isso emigram os seus filhos.

Estes números e estas regiões deveriam estar inscritas no rodapé de todos os telejornais até nos apercebermos do que isto significa. Nenhum país europeu permite estas assimetrias, ainda para mais com uma Espanha avassaladora ao lado. Continuamos em risco de transformar metade do país numa imensa Olivença, a zona dos projectos INTERREG !

(...)

In O Diabo

Comentários

Anónimo disse…
Esse simbolo com um rei supostamente cristão e um muçulmano é de um mau gosto, que só podia ter sido arquictetado por um valente FILHO DA PUTA, com todas as letras.Só demonstra quão xenofofos são os defensores do centralismo no Porto.
hfrsantos disse…
Este senhor fez o ponto da situaçao real de Portugal.

A desorganizaçao politica faz-se sentir na economia, na sociedade, na confiança das pessoas, no investimento, na educaçao, na saude.

Quem aproveita com a desorganizaçao politica?
A CORRUPçAO, o Crime organizado, a fuga aos deveres pelas empresas, como pelos trabalhadores.

QUem cumpre sente-se parvo, porque quem nao cumpre é que se safa, diz o povo.

Queremos o poder de decidir o futuro da nossa regiao!

Fazem falta referendos em Portugal.
Fazem falta Governos Regionais em Portugal.

Os referendos embora sejam caros, deviam ser mais utilizados pois passam para o povo o direito de decidir.

Uma vitoria do nao, ou do sim numa determinada questao nao deve encerrar a luta politica e da sociedade. Significa que é necessario reestudar a questao, comprender o que o povo nao aceitou e porque.

A sociedade evolui e o que ha 100 anos a sociedade queria nao é o mesmo que a sociedade quer actualmente.

Referendo a Regionalizaçao é necessario, mas creio que seria bom fazer um referendo em certas regioes do Pais onde é mais consensual a vontade de se governarem a si mesmos.

A politica tem que deixar de ser matriarca do povo e lembrar-se que esta ao serviço do povo.
O que o povo quer é que tem que ser feito.

Portugal é dos portugueses e somos nos que temos que decidir o futuro do nosso Pais.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O teor da entrevista transcrita parcialmente neste "post" e publicada no jornal "O Diabo" não é de estranhar a quem esteja atento ao que se passa no nosso País e nem é, para mim, uma grande surpresa, infelizmente. A dimensão e a natureza das "cumplicidades" existentes há muitos anos (no pior dos sentidos), mesmo e sobretudo depois de instaurado o regime democrático (há mais de 34 anos, portanto) estendem-se não só por organizações públicas como privadas. Se é legítimo falar em "polvo", este tem uma importância e ramificações que pouco deixam livre e incólume.
Por isso, ao considerar-se a regionalização como um instrumento político de grande envergadura para assegurar o desenvolvimento sustentado, em todos os domínios da sociedade portuguesa com garantias de convergência em relação aos países mais avançados do Mundo, a solução só pode assentar na regionalização autonómica e na entrada de novos protagonistas políticos, com maior competência, maior exigência, maior idoneidade, maior capacidade técnica e política e maior preparação cultural para o exercício dos diferentes cargos públicos. O privado que decida por si, obviamente, mas em muitos domínios imita o público, sobretudo quando materialmente lhe convém.
O entrevistado, na complexidade da temática da entrevista, acabou por justificar esta necessidade de alteração qualitativa dos protagonistas, sob pena de nos transformarmos não numa imensa Olivença, mas em mais uma região autónoma espanhola (como sempre tenho dito, até nas empresas onde colaborei, se nós não formos capazes de proceder às alterações das estratégias e dos mecanismos de gestão para competir (nas empresas) ou melhorar as condições de vida das populações (eficacia das políticas adoptadas e dos organismos que as executam) serão sempre outros, os de fora, a fazê-lo e em condições muito piores).
Não se compreende como é ainda possível andarem tantos intelectuais e entendidos da política e de outras coisas a protagonizar verdadeiros "jogos florais" da política, deliciando-se com as suas externalidades como se disso resultasse a resolução dos graves problemas problemas estruturais que ainda subsistem.
Mais ainda, como é possível que os principais partidos políticos não tenham a abertura suficiente (podem dizer o que quiserem, mas NÃO PERDOAM a quem deles divirja ou critique - é isto o revanchismo - exercendo exemplarmente o ostracismo político, pessoal e profissional) para garantir uma discussão incondicional e de livre acesso a temas e protagonistas capazes de, com as respectivas propostas, contribuirem para inovar as soluções políticas desses problemas!?
Por isso, nestas discussões públicas residentes em "fóruns" como este ou outro "blogue" do género, procurar-se-á sempre apontar o que parece serem soluções políticas mais adequadas dentro do conhecimento da realidade disponível, sem abdicar do primado da crítica diferente do tradicional e de nosso mau gosto como o "bota-abaixo" permanente, mas como suporte de soluções inovadoreas e desenvolvimentistas.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Alguém sabe dizer quando chega essa tal de "Regionalização"?
Não conheço, mas pelo que dizem aqui, deve ser uma coisa muito boa.
Vai trazer bem estar para toda a gente, em especial, transmontanos, beirões e outros povos com rendimentos inferiores aos habitantes das zonas "chiques" de Lisboa e Porto.
Faz-me lembrar o programa do MFA e respectivos anexos.
Por isso, digo que a Regionalização deve chegar quanto mais tarde melhor, porque nos últimos dois anos reduziram a minha pensão em quatro euros.
Anónimo disse…
Caro António Felizes,

Lamento profundamente estar-se sujeito a algumas intervenções lastimáveis; uma quanto ao seu conteúdo estupidamente insultuoso, a outra como manifestação do mais mesquinho que uma mente pode aquartelar.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sem mais nem menos)
Anónimo disse…
Caro António Felizes,

Penso que ao permitir comentários de baixo conteúdo não ajuda a engrandecer o seu Blog, seria bom ter mais cuidados.

Cumprimentos
Caro Rui Monteiro,

tanto quanto o meu amigo, lamento muito certo tipo de comentários, mas, por principio, não censuro (apago).

Todavia, registo, com muito agrado, que a percentagem de comentários menos próprios, são meramente residuais.


Cumprimentos,
Anónimo disse…
Caro António Felizes,

Fazê-lo não pode ser interpretado como "censura" mas como acção profilática imprescindível.
Comentários desta natureza, escritos sempre pelos mesmos, resultaram na destruição de outros "blogues" que também nunca primaram por iniciativas a favor da discussão sobre a regionalização.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)