Área Metropolitana Porto e as "Low Cost"

O Porto perde uma vantagem comparativa enorme" se as low-cost forem para a Galiza

Temendo que o futuro dono da ANA foque toda a atenção no novo aeroporto de Lisboa, João Marrana, professor de Economia dos Transportes, defende a gestão autónoma do Sá Carneiro Co-autor de um estudo sobre o sistema aeroportuário do Norte de Portugal e da Galiza, João Marrana, da Universidade Portucalense, mantém um olhar atento sobre o Aeroporto de Sá Carneiro.

Não sabendo ainda o que vai decidir o Governo, neste momento temos dois estudos - e o Bonston Consulting Group até participa em ambos - com sinais opostos: à Sonae/Soares da Costa diz-se que a autonomização da gestão do Aeroporto de Sá Carneiro seria interessante; à ANA diz-se que seria muito má, sobretudo para os passageiros que pagariam quase o triplo em taxas. 

Como vê esta contradição?

Há vantagens e desvantagens numa solução e noutra. O problema mais premente é que,
provavelmente, se todos os aeroportos nacionais forem geridos pela mesma empresa, a execução de um grande aeroporto em Lisboa vai absorver 90 por cento da atenção e capacidade de investimento dessa mesma empresa. 

Poderá acontecer que o aeroporto do Porto tenha uma posição menos competitiva no mercado do transporte aéreo. A concorrência é muita apertada. Como qualquer companhia com sede na União Europeia pode definir uma nova rota, mudou a forma como os aeroportos estabelecem as condições para garantirem, ou não perderem, ligações. O mercado das empresas de infra-estruturas não terá acompanhado esta evolução. 

Mas em Espanha a situação é semelhante: é uma empresa nacional que controla os aeroportos todos ou quase todos. 

E concorda com isso?

Sou liberal por formação. Parece-me mais positiva a existência de alguma concorrência, como forma de ver se estamos a ser eficientes. 

Num país relativamente centralizado, poderá haver vantagem em que o aeroporto tenha uma gestão autónoma. A concorrência do aeroporto do Porto faz-se com os aeroportos do Noroeste da península - Corunha, Santiago e Vigo - e é essencial que isso seja acompanhado a par e passo. 

A transferência das low-cost para qualquer um destes pode acontecer com alguma rapidez. E se isso não for acompanhado de perto pelas administrações, o Porto perde uma vantagem comparativa enorme.

Com gestão autónoma, o aeroporto do Porto pode perder 64 milhões de euros por ano e 84 mil
passageiros, como diz a Boston para a ANA?

Primeiro, 84 mil passageiros/ano é muito pouco. O aeroporto tem 4,5 milhões, neste momento.
Provavelmente o TGV entre Porto e Lisboa terá um impacto muito maior. A Ryanair tem, neste momento, um peso de mais de um milhão de passageiros, e o grande risco é que saia ou reduza drasticamente a sua operação no Porto. Isso é que é particularmente critico do ponto de vista da economia regional.

Quanto aos 64 milhões de euros de resultados negativos: poderá ser difícil amortizar os quase 400 milhões investidos, mas a mesma questão pode ser colocada em relação a investimentos semelhantes.

É uma questão de desenvolvimento regional.

Precisamos mesmo da base da Ryanair?

Tem vantagens. Faz aumentar a procura e cria uma relação mais estável do ponto de vista do incoming de passageiros. Isso não quer dizer que fizesse tudo para ter essa base. Estamos a falar de negociadores difíceis, que pedem este mundo e o outro, e nós só temos este mundo para dar. 

Mas seria muito interessante para o Porto. Repare o impacto que a Ryanair já teve na qualidade de vida das pessoas: vêem-se teenagers que vão conhecer Itália por 50 euros, ida e volta.

Qualquer aeroporto galego faria tudo para ter essa base, não?

Com toda a certeza.

Público
2008.09.22

Comentários

Anónimo disse…
Caros regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

As "low-cost" são os serviços mínimos da prestação de serviços aeroportuários por parte das correspondentes estruturas. Por isso, é muito estranho este interesse demasiado intenso na localização ou reforço das "low-cost" no aeroporto de Pedras Rubras, a balizar o negócio muito por baixo e sem qualquer ambição.
Nos voos para inglaterra, a companhia "low cost" em causa não voa para os principais aeroportos da capital londrina, nem me parece que estes estão muito impressionados com a sua ausência. Os que dirigem as infraestruturas aeroportuárias devem ter é ambição suficiente para corresponder às exigências de desenvolvimento, estas como o principal motor de intensificação do tráfego aeroportuário (e de outra natureza). Enquanto não forem reunidas as condições de desenvolvimento sustentado (neste caso, não é suficiente a intensificação da actividade turística) os especialistas e candidatos à gestão aeroportuária contentar-se-ão com as "pechinchas" dos acréscimos de actividade gerados pelo tráfego das "low cost".
Com ambições desta amplitude manifestadas pelos nossos protagonistas (políticos, especialistas, empresariais e sei lá que mais) continuaremos a não passar da "cepa torta" e a apostar nos "serviços mínimos" que é a versão mais sofisticada do tal ditado "tal dinheirito, tal trabalhito".
Enfim, ...

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Já sei o que estão a questionar; como se consegue, etão, esse desenvolvimento?
A resposta é simples e não se pode basear nos "serviços mínimos" da regionalização administrativa, 5 regiões-plano ou lá o que querem que seja (os políticos-de-turno), mas na maior ambição política gerada pela regionalização autonómica: criação e implementação de 7 REGIÕES AUTONÓMAS (dos políticos-estadistas).

Assim seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)