O Algarve, a Qualidade e a Regionalização

Vamos abordar a nossa paixão comum: o Algarve

Mal tratado por uns, elogiado por outros, durante o Verão o Algarve é que conta. São aqui as grandes festas, estão aqui todas as caras larocas que pululam durante todo o ano pelas televisões, jornais e revistas, a maior parte dos políticos anuncia aos quatro ventos que vem passar cá as suas férias, enfim o País real muda-se de armas e bagagens para o Algarve (cada vez durante menos tempo e de forma mais económica que isto da crise toca a quase todos...).

Passada a chamada época alta, o Algarve volta a ser uma região pacata. Acabam as confusões, sobe o desemprego, fecham alguns estabelecimentos e a região hiberna até às vésperas do próximo Verão.

Sim, a sazonalidade é um mal gravíssimo na nossa região, identificado por muitos e combatido por poucos. Para o combater temos o turismo do golfe, de negócios, para a terceira idade, observação da natureza, desportivo, etc. Cada um faz o que considera mais adequado para si, mas não existe um esforço comum para efectivar estas tendências (talvez com excepção para o golfe). A parte cómica, se não fosse triste, é que cada vez que se aproxima um Quadro Comunitário de Apoio (QCA) ou um QREN são elaborados planos espectaculares sobre o que o Algarve deverá ser. E vamos conseguir ser isto, desenvolver aqui, revitalizar aqueloutro. Muda o QCA e muda o plano de desenvolvimento (não podiam apresentar o mesmo não fosse a União Europeia ter guardada uma cópia do antigo e dava logo pela marosca...).

Agora vamos apostar nisto, naquilo e no outro. E pronto está justificado mais um camião de dinheiro para a região gastar...

O problema destes planos de desenvolvimento da região é que ninguém lhes liga nenhuma! Melhor, quando se faz uma candidatura tem que se relevar os nobres objectivos do plano, mas ninguém quer saber do plano. As entidades regionais limitam-se a seguir as actividades apoiáveis (leia-se onde há dinheiro). Se há dinheiro para formação profissional para jovens, faça-se! Se há dinheiro para formação profissional para idosos, faça-se também! Há apoios para a internacionalização, vamos! Há apoios para aumentar a dimensão no País, vamos também!

Primeiro há que saber onde está o pilim. Depois basta adequar uma estratégia (que na realidade nunca existiu) num documento bem elaborado (daqueles com muito parlapier e gráficos, muitos gráficos) à nossa actividade alvo e está feito.

O grande problema é a inexistência de um Governo regional do Algarve que pudesse claramente identificar as áreas de interesse para a região, tivesse capacidade para juntar os principais actores em palco no Algarve e decidir uma estratégia comum. Uma estratégia para ser levada a efeito durante 8/10 anos e que tivesse a ver com a região e com as aspirações dos algarvios.

Isto dos apoios ainda é mais complicado, pois poucos são geridos na região e a maioria em Lisboa. Não se compreende que existam programas de apoio que não tenham em conta a realidade regional. Será que a economia do Minho e do Alentejo tem os mesmos problemas e oportunidades do que a Algarvia? Se são diferentes, o bom senso aconselha que tenham respostas diferentes. Mas como isso era dar uma grande trabalheira ao pessoal do Terreiro do Paço, optam pela “chapa cinco” e tratam todos por igual.

Também estes apoios nacionais deveriam ser enquadrados regionalmente, mesmo que geridos na capital. Que actividades apoiar e que freguesias discriminar positivamente deveriam ser assuntos de competência exclusiva de um governo regional e não definidos pelos burocratas do costume, muitas vezes sem sequer consultarem as regiões.

Já vimos que apesar de haver sempre planos para o desenvolvimento da região, não existe qualquer estratégia pública que incentive/mobilize/arraste fortemente toda a região a seguir um determinado caminho. E aqui coloca-se a questão da qualidade.

Regionalização para que se possa gerir o território e as pessoas de acordo com as especificidades da região e para que possamos escolher o nosso caminho. Aposta forte na qualidade, pois os recursos são escassos e consomem-se, devendo ser utilizados para gerar fortes mais-valias para a região.

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

"Muda o QCA e muda o plano de desenvolvimento (não presentar o mesmo, não fosse a União Europeia ter quardada uma cópia e dava logo pela marosca ...)".

A transcrição desta frase do "post" oportuno e certo publicado no "Algarve Mais" traduz um sentimento que vai pairando por todo na forma como os programas de apoio comunitário são tratados no nosso País.
O autor aborda um tópico demasiado importante para ser politicamente esquecido ou menosprezado, o qual está relacionado com "a identificação de interesses para a Região", tenham "a ver com a Região" e correspondam "às aspirações dos Algarvios". Tudo isto, trocado em miúdos, corresponde a afirmar que os recursos existentes em cada região não podem ser ignorados ou desprezados numa política de desenvolvimento como se tem praticado até hoje (até os actuais dirigentes políticos parece não "ligarem" muito aos planos e só executam o que dá "massa"; faz-me lembrar uma experiência empresarial passada, na qual um projecto de investimento rentável ficou por realizar apenas pela simples razão de não proporcionar subsídio financeiro comunitário). Não sendo alguns ignorados, o autor considera que é necessário enquadrá-los regionalmente em face da diversidade encontrada em cada Região, regra básica e primária de reconhecimento mínimo por quem costuma andar nestas bolandas da política, tal como tem sido repetidamente mencionado nas intervenções do signatário deste comentário. O nosso País dá-se à comodidade e à irresponsabilidade de desprezar os seus recursos próprios distribuidos diferenciadamente por cada Região (mesmo na parte que diz respeito ao Algarve, os principais recursos não são exclusivos do turismo), constituindo mais um desafio político e uma empolgante oportunidade de desenvolvimento (para os políticos-estratégicos) do que uma limitação a qualquer tipo de desenvolvimento (como defendem os políticos-de-turno).
O nosso problema de desenvolvimento tem como origem uma nefasta atitude política e uma preguiça profissional e intelectual fielmente traduzida pela chamada "chapa 5", como muito bem escreve o autor aqui transcrito, porque evita perdas de tempo e burocracias e trona-se muito mais fácil aceder aos fundos comunitários (acedeu-se de tal modo aos fundos que não saímos de lá).
O que precisamos, para além da diferenciação política representada pela criação e implementação das Regiões Autónomas (7 ao todo), com os seus Governos Autónomos, Assembleias Legistativas, períodos de legislatura e actos eleitorais (sem qualquer Representante da República) é de introduzir novas metodologias rigorosas, assertivas e inovadoras que, PARTINDO DO ZERO, contemplem decisivamente o aproveitamento dos nossos recursos próprios, diferentes de Região para Região, com eliminação completa da metodologia "chapa 5", preguiçosa, incompetente, balofa, interesseira, sempre do mesmo e para os mesmos, subdesenvolvida, inimiga do desenvolvimento e da maturidade e mobilidade das populações, potenciadora de grandes, profundas e graves desigualdades (onde já somos um dos campeões ao nível da OCDE) e contrária ao equilíbrio social e das contas externas (o défice externo já aumentou 38% até o final de Agosto, em relação a idêntico período do ano passado).
Ainda bem que se começa a ter companhia nesta matéria e, diga-se em abono da verdade e do desenvolvimento regional e nacional, UMA BOA COMPANHIA.
Parabéns ao colega algarvio.

Assim seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Os Algarvios não querem saber da Região. Querem saber do trabalho e do dinheiro que lhes entra, ou não, no bolso.
Os políticos algarvios, os actuais, são figuras engraçadas para caricaturar, para se descobrir defeitos e dizer mal.
O Algarve não tem quem o represente em qualquer forum de discussão. Não é ouvido, porque não é falado.
O PS é um deserto e o PSD tem apenas Macário Correia, que, tendo optado pelo método "popularucho" tem dificuldade em ser aceite fora de Tavira.
Além disso o Algarve tem muitos lóbis, muitas "familias"... mas não tem qualidade.
Quando eu era jovem, o Algarve tinha os intelectuais, Profs Magalhães, Elviro Rocha Gomes, Mário Lyster Franco, os políticos, Jorge Correia, João Cardoso, Sebastião Ramirez, Pearce de Azevedo e tantos outros, incluindo o "reviralho" de onde saíu a primeira fornada pós-25A.
Hoje, depois de 34 anos de democracia, a colheita cabe num "cestinho de verga"...
A política, aquilo a que se pode e deve chamar politica, no Algarve, nem com viagra...
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

É pena. Mas não se queixem, depois.
Já alguém não se tem cansado de dizer que "cada povo tem aquilo (políticos, professores, dirigentes, amigos, inimigos, profissionais, presente, futuro, etc.) que merece".
Provavelmente com muita razão.

Sem mais nem mneos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)