A primeira euro-região ibérica

"JN"

As fronteiras são as cicatrizes da história na pele da Terra. A Galiza e o Norte de Portugal partilharam a cidadania romana e permaneceram unidas até ao século XII; a fronteira então traçada é a mais antiga, e portanto pacífica, da Península. Depois de terem vivido separadas e como estranhas durante demasiado tempo, a União Europeia reuniu-nos de novo numa cidadania comum e tornou possível que nos tenhamos agrupado como a primeira euro-região ibérica.

A Europa começa em cada casa e a sua única razão de ser é a procura do bem-estar dos seus habitantes. O seu modelo de governação multinível procura activar todas as energias para que as fronteiras interiores sejam meras linhas nos mapas administrativos, não divisórias nas condições de vida dos cidadãos.

Há menos de um mês, o presidente da Xunta, Emilio Pérez Touriño, e o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte de Portugal, Carlos Lage, formalizaram o nascimento do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza-Norte de Portugal. No futuro, a cooperação entre as autoridades de um e outro lado do Minho não terá um carácter episódico e pontual, mas um curso constante e estruturado.

Do Cantábrico até à bacia do Douro existem enormes oportunidades para aproveitar. Uma reserva de inteligência e talento, de actividade económica e emprego. As dimensões desta euro-região são realmente importantes; uma população de seis milhões e meio de habitantes, uma superfície de 51 mil quilómetros quadrados e um PIB de 90 mil milhões de euros que superam os parâmetros de, pelo menos, oito estados-membros da União Europeia e configuram a terceira área da Península Ibérica.

A euro-região é uma alavanca para dinamizar o intercâmbio, a cooperação e a acção conjunta. Os objectivos de fomentar o conhecimento e a inovação, de construir um espaço atractivo para investir e trabalhar, de criar mais emprego e de melhor qualidade e de trabalhar em favor de um modelo energético sustentável que contribua para combater a mudança climática são comuns.

Para concretizá-los, não só se disporá dos 100 milhões de euros aprovados no Plano Estratégico de Cooperação Territorial, como se contará com mais de 10 mil milhões de euros procedentes dos respectivos programas operacionais no âmbito do Objectivo Convergência e dos diferentes fundos estruturais da União Europeia. Sem esquecer o impulso de meio milhão de PME e o potencial de 200 mil estudantes universitários.

A euro-região nasce com uma importante contribuição pública para o seu desenvolvimento. Porém, a iniciativa privada e a sociedade civil serão indispensáveis para que este projecto tenha êxito. Aspiramos a que se converta numa experiência exemplar, com o melhor encaixe em termos de união ibérica e da cooperação de um mundo luso-hispânico composto pela terceira e pela sexta comunidades linguísticas do Mundo. Nem mais, nem menos.
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Se bem se lembram, há meses que se anda a reclamar paridade nas condições de desempenho político entre as regiões do lado de cá e as regiões do lado de lá da fronteira, dado que a intervenção das CCDRS's não conduzirão à prossecução de nenhum objectivo político comum.
Por outro lado, sem prejuízo dessa cooperação e para reforço da unidade nacional actual e futura, será conveniente e necessário que essa paridade política seja conseguida o mais rapidamente possível, através da implementação da regionalização autonómica por eliminação das más tentações associadas à criação das regiões administrativas.
A referência aos milhões de Euros na acção política conjunta das regiões não é sinal de bom agoiro ao estar desvinculado de projectos de desenvolvimento político de base regional (económico, social, educacional, cultural, etc.), para não termos mais instrumentos políticos de comprovada ineficácia como o PIDACC e assegurarmos uma efectiva convergência real para com os países mais evoluídos.

Com tenho sempre referido, sem mais nem menos; em vez de "nem mais, nem menos".

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Ainda a propósito deste texto, gostaria que a Doutora Elisa Ferreira procurasse estar inteiramente disponível para lutar a favor da regionalização, de forma a compensar os tempos em que quase nada foi feito quando integrou o Governo do Engenheiro António Guterres.
É que se receia que a esperada candidatura à Presidência da Câmara Municipal do Porto corresponda a uma neutralização da iniciativa e capacidade políticas a favor da regionalização.

Assim não seja, amen.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)