«O Algarve, investimento ou negligência?»
por, Paulo do Rosário Dias
O Algarve, a região espelho.
É possível traçar paralelismos entre Portugal Continental e a região do Algarve, sobretudo no nível demográfico:
Interior desertificado e esquecido, litoral desordenado, dependência energética e do automóvel, economia de carácter especulativo e não produtivo, transportes ferroviários e aeroportuários desvalorizados.
Existem no entanto grandes diferenças:
O índice de população envelhecida é 25% superior ao da média nacional. Há mais taxa de natalidade, de mortalidade e de divórcio. Em contraposição, a taxa de nupcialidade é bastante inferior à média nacional.
O número de médicos por habitantes é inferior em 20% à média nacional. Isto numa região que regista 40% de toda a capacidade hoteleira e dormidas de Portugal (exceptuando as camas paralelas).
O Algarve e o efeito-ilha.
A geografia confere à região uma localização periférica, no extremo sudoeste da Europa, situação agravada pelo facto de confinar com regiões pouco desenvolvidas no contexto dos dois países Ibéricos, o que provoca óbvias dificuldades acrescidas.
Ao contrário das regiões vizinhas, o Algarve vai deixar de receber fundos estruturais, ainda que sendo uma quebra progressiva de verbas ao longo dos próximos seis anos.
Associando o facto de as duas regiões vizinhas, o Alentejo e sobretudo, a Andaluzia manterem o seu estatuto actual (de beneficiários), verifica-se que se cria um outro efeito-ilha com o Algarve.
O Algarve terá então relativamente menos recursos externos para potenciar o seu desenvolvimento económico e social e os instrumentos financeiros de atracção de empresas também serão menos favoráveis
Há que racionar e racionalizar os fundos que restam à região. A cooperação interregional e os factores de competitividade no que respeita à atracção de investimento e recursos, tornam-se assim uma aposta chave na estratégia para os próximos anos.
O Algarve, altamente deficitário em recursos de toda a ordem (derivados de petróleo, alimentos variados, materiais de construção, etc.) vê-se limitado pelas fragilidades logísticas de uma ilha, sem contudo aproveitar a sua maior vantagem, o próprio mar.
Por sua vez, a anatomia actual do Algarve fá-lo figurável a um grande resort turístico inserido numa “grande vila rural do interior”. Sofrendo pois os precisos problemas dessa conotação:
- Longe das cidades, longe das infra-estruturas e longe das soluções. Isso limita todo o potencial do resort.
- Sendo o litoral o único território adaptado ao turismo, o turista acaba na maioria das vezes passando um mês na região sem conhecer mais que não seja um curso de golfe, uma praia, um hotel.
- Os factores de insegurança do litoral transpõem-se para toda a região, contudo, contudo, ao proteger-se somente o litoral turístico, instala-se um exponencial sentimento de insegurança na restante região.
- Os decisores, para gerar mais e melhor riqueza focam exclusivamente o litoral turístico, o resort, sublimando grosso modo o resto da “vila” que assim se vê limitada à mera manutenção (se tanto).
Prescindir do potenciamento da região em si, para desenvolver este ou aquele aspecto particular da oferta turística, é a má política que descalça o progresso sustentável!
Se potenciarmos a região, estaremos automaticamente a promover o interesse no investimento e a dar valor acrescentado quer ao que se perspectiva quer ao que já existe.
O Algarve, uma região turística!
Foi com a aterragem dos primeiros aviões comerciais em Faro a partir de 1965, e com a inauguração da ponte Salazar (25 de Abril) em 1966, que se determinou que o Algarve iria deixar de ser apenas uma terra de pescadores, conserveiros e fazendeiros para começar a ser a força nacional da nova economia emergente, o Turismo.
(...)
Leia documento todo em PDF
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por, Paulo do Rosário Dias
O Algarve, a região espelho.
É possível traçar paralelismos entre Portugal Continental e a região do Algarve, sobretudo no nível demográfico:
Interior desertificado e esquecido, litoral desordenado, dependência energética e do automóvel, economia de carácter especulativo e não produtivo, transportes ferroviários e aeroportuários desvalorizados.
Existem no entanto grandes diferenças:
O índice de população envelhecida é 25% superior ao da média nacional. Há mais taxa de natalidade, de mortalidade e de divórcio. Em contraposição, a taxa de nupcialidade é bastante inferior à média nacional.
O número de médicos por habitantes é inferior em 20% à média nacional. Isto numa região que regista 40% de toda a capacidade hoteleira e dormidas de Portugal (exceptuando as camas paralelas).
O Algarve e o efeito-ilha.
A geografia confere à região uma localização periférica, no extremo sudoeste da Europa, situação agravada pelo facto de confinar com regiões pouco desenvolvidas no contexto dos dois países Ibéricos, o que provoca óbvias dificuldades acrescidas.
Ao contrário das regiões vizinhas, o Algarve vai deixar de receber fundos estruturais, ainda que sendo uma quebra progressiva de verbas ao longo dos próximos seis anos.
Associando o facto de as duas regiões vizinhas, o Alentejo e sobretudo, a Andaluzia manterem o seu estatuto actual (de beneficiários), verifica-se que se cria um outro efeito-ilha com o Algarve.
O Algarve terá então relativamente menos recursos externos para potenciar o seu desenvolvimento económico e social e os instrumentos financeiros de atracção de empresas também serão menos favoráveis
Há que racionar e racionalizar os fundos que restam à região. A cooperação interregional e os factores de competitividade no que respeita à atracção de investimento e recursos, tornam-se assim uma aposta chave na estratégia para os próximos anos.
O Algarve, altamente deficitário em recursos de toda a ordem (derivados de petróleo, alimentos variados, materiais de construção, etc.) vê-se limitado pelas fragilidades logísticas de uma ilha, sem contudo aproveitar a sua maior vantagem, o próprio mar.
Por sua vez, a anatomia actual do Algarve fá-lo figurável a um grande resort turístico inserido numa “grande vila rural do interior”. Sofrendo pois os precisos problemas dessa conotação:
- Longe das cidades, longe das infra-estruturas e longe das soluções. Isso limita todo o potencial do resort.
- Sendo o litoral o único território adaptado ao turismo, o turista acaba na maioria das vezes passando um mês na região sem conhecer mais que não seja um curso de golfe, uma praia, um hotel.
- Os factores de insegurança do litoral transpõem-se para toda a região, contudo, contudo, ao proteger-se somente o litoral turístico, instala-se um exponencial sentimento de insegurança na restante região.
- Os decisores, para gerar mais e melhor riqueza focam exclusivamente o litoral turístico, o resort, sublimando grosso modo o resto da “vila” que assim se vê limitada à mera manutenção (se tanto).
Prescindir do potenciamento da região em si, para desenvolver este ou aquele aspecto particular da oferta turística, é a má política que descalça o progresso sustentável!
Se potenciarmos a região, estaremos automaticamente a promover o interesse no investimento e a dar valor acrescentado quer ao que se perspectiva quer ao que já existe.
O Algarve, uma região turística!
Foi com a aterragem dos primeiros aviões comerciais em Faro a partir de 1965, e com a inauguração da ponte Salazar (25 de Abril) em 1966, que se determinou que o Algarve iria deixar de ser apenas uma terra de pescadores, conserveiros e fazendeiros para começar a ser a força nacional da nova economia emergente, o Turismo.
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Comentários
É uma vergonha termos em Portugal auto-estradas com portagens enquanto na Alemanha, Reino Unido, Suíça, Holanda,etc. serem gratuítas. Preferiria pagar uma taxa anual como fazem os suíços (uns 30 EUR/ano) e poder circular livremente. Já há aldrabões que cheguem!
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,
Embora com níveis de gravidade assimétrica e dimensão diferentes, as soluções para a sua eliminação na futura Região Autónoma do Alagarve em nada diferem das políticas a implementar para as restantes regiões que têm estado permanentemente "divididas" entre o litoral e o interior.
Mais uma vez, como o texto o exemplifica muito bem, nenhuma estrutura produtiva subsiste se não for dinamizada, modernizada tanto em termos tecnológicos como formativos dos recursos humanos e se não privilegiarem os recursos intrínsecos a cada região (o ter deixado de ser não significa que não possa voltar a ser: pescadores, conserveiros e fazendeiros), mesmo ao nível da actividade turística (analisem o comportamento empresarial do Grupo André Jordan, neste domínio).
Parabéns pelo texto deste "post" a Paulo Rosário Dias.
Investimento ou negligência? Dir-se-ía, as duas coisas: investimento e negligência.
Sem mais nem menos.
Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Só agora encontrei esta publicação do post. Agradeço desde já os comentários.
Quanto à questão das portagens, a ideia que quis transmitir mas a suncinticidade não transpareceu foi de que é possível investir na actual SCUT do algarve.
Claro que é preciso primeiramente cumprir com a requalificação da EN125 (com mais variantes) e com a restruturação da ferrovia complementada com comboio ligeiro.
Mas se tudo fosse feito com cabeça (o que infelizmente não tem sido), poderiamos depois requalificar a via do infante para uma verdadeira autoestrada que amenize os problemas do Verão e das horas de ponta.
Estou convicto é que se há região com especial necessidade de autonomia sobre as restantes, esta seria primeiramente a do Algarve.. a região de futuro em que todos os dias alguém pensa investir mas que desiste devido à distância burocrática a Lisboa.
Enfim, que melhores dias venham.
Bem haja a todos.