Os novos cartazes do Douro

|JN|

Opinião:
ISABEL PIRES DE LIMA, DEPUTADA DO PS E EX-MINISTRA DA CULTURA

Foi assinado, há dias, um convénio entre as regiões Norte de Portugal e Castela e Leão para o desenvolvimento dum plano estratégico de cooperação transfronteiriça. Uma das prioridades é o fomento de projectos estruturantes no Douro. Eis uma boa notícia: é que o desenvolvimento eternamente anunciado e adiado do Douro passa por políticas transversais e integradas de investimento e de cooperação internacional, e nacional, acrescente-se.

O Douro, como outras regiões do interior, vive a contradição entre desertificação populacional e empresarial e virtualidades de desenvolvimento económico que passa pelo foro do turismo patrimonial. Lembro que são Património Cultural da Humanidade, reconhecido pela UNESCO, quer o Douro Vinhateiro quer o Parque Arqueológico do Côa.

Não basta apostar nas vias de comunicação entre litoral e interior se se pretende fixar e atrair populações a essas regiões. Há que criar emprego e oportunidades empresariais no campo das micro, pequenas e médias empresas. O domínio do turismo cultural é solo fértil e vasto, mas cultivá-lo implica investimento amplo, planeado e subordinado a critérios inovadores, longe de constrangedoras visões paroquiais.

Alguns desses investimentos estão feitos - o caso dos museus do Douro e do Côa. Importa agora torná-los parte activa dum desenvolvimento integrado.

Abriu recentemente, na Régua, a sede do Museu do Douro, projecto com 15 anos que por fim este Governo concretizou. Trata-se dum equipamento belíssimo, que tem tudo para ser uma âncora de desenvolvimento da região até pela sua vocação de museu polinucleado de território (abriu, entretanto, o pólo de Tabuaço sobre o Imaginário Duriense). Isto é, um museu centrado na preservação e promoção da riqueza patrimonial material e imaterial da região, do vinho ou da amêndoa, às lendas ou ao cancioneiro, e que funcionará em rede.

Ainda este ano, espera-se, abrirá o Museu do Côa, montra de um dos nossos mais importantes, se não o mais importante - e estou a medir bem as palavras - bem patrimonial cultural: as gravuras rupestres do Vale do Côa.

Portugal foi capaz de ganhar o resgate deste património, único no Mundo, quando, nos anos 90, conseguiu fazer sobrepor os interesses culturais aos hidro-eléctricos. Não foi, porém, capaz de o impor como a jóia rara da família aos olhos dos portugueses e das populações locais.

O Parque Arqueológico do Côa é hoje mal amado pelos portugueses, mesmo de sectores cultivados, e isso em parte por culpa própria, porque se fechou excessivamente sobre si, mas também por falta de investimento e de planeamento de políticas transversais. Por isso, hoje não deixam de pairar ameaças provenientes dos sectores hidro-eléctricos sobre aquele santuário da arte rupestre.

Para além da valia científica do que se estuda no parque e se estudará no museu, eles só serão sentidos como fonte de desenvolvimento para a região se forem acompanhados por outros incentivos ao crescente turismo cultural e ambiental: oferta diferenciada de alojamento e gastronomia, de produtos da terra ligados a saberes e sabores tradicionais, de experiências da natureza, de transportes por via terrestre, fluvial e ferrovia, etc.. Ora, tudo isto exige, como ficou dito, investimento subordinado a critérios inovadores e políticas transversais coordenadas.

Museu e parque, se não quiserem ter a vocação de "coisa" de elites para elites, terão de encontrar, sob a liderança do Ministério da Cultura, um modelo de gestão que integre os sectores da Ciência, Ambiente e Turismo, para além das autoridades municipais da região dos dois lados da fronteira.

Os espanhóis estão interessados. Por que será? Lisboa e Madrid ou o Porto e Salamanca ficam a distâncias idênticas de Foz Côa… As gravuras podem ser um cartaz turístico excepcional como são na vizinha Espanha ou em França sítios arqueológicos muitíssimo menos importantes. Haja vontade e planeamento interministerial, intermunicipal, transfronteiriço.

Se não, tudo continuará como antes, oportunidades desaproveitadas e o Douro parado.
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Comentários

Anónimo disse…
OPINIÃO

Mas isso não é uma tilização para ricos?

A minha reforma não chega para tanto.

Não se pode colocar as coisas nests termos: os espanhóis estão intressados, porque SERÀ?
È Óbvio. Mas para os portuguese o artigo não trouxe soluções. E é isso que queremos.

M.Cunha
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Basta lembrar-mo-nos das vicissitudes por que passou a finalização e oficialização do Túnel de Ceuta, na cidade do Porto, protagonizada pela senhora ex-Ministra da Cultura, para se concluir que desta individualidade nada de novo nem de bom poderá influenciar uma política de regionalização, muito menos autonómica.
Por outro lado, não foi preciso o Douro ser forçado a "aproveitar oportunidades" para ser reconhecido como património da Humanidade.
Esta classificação correrá o risco de ser "desactivada" se a RUD (Região Única do Douro, como a classifiquei há mais de 16 anos num trabalho sobre a nossa história económica, desde o século XV - após os Descobrimentos) for submetida a um esforço intensivo de investimento que descaracterize a região no cerne das suas actividades, desde que foi criada a respectiva Região Vinícola Remarcada, por decisão políitca, estratégica e estrutural do saudoso Marquês de Pombal, o Senhor Sebastião José de Carvalho e Melo, a reinar ao tempo o Senhor Dom José I, de saudável esquecimento.
Não se desfaça, por meras razões conjunturais, egoistas e hipócritas, o que bem perdura há mais de 250 anos.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)