Quem tomaria decisões de desenvolvimento regional na nossa região?
Com que critérios teriam sido afectos os fundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)?
Quem decidiria sobre a prioridade de alguns investimentos públicos que têm sido decididos para a nossa região?
Quanto teria custado ou que benefícios teriam os portugueses com a existência de regiões administrativas?
Será porventura difícil fazer um exercício deste género – imaginar como seria a nossa vida se a nossa região tivesse, desde 1998, capacidade para tomar, por si, decisões.
Onze anos depois, e por força da moção de José Sócrates ao Congresso do PS, o tema volta às nossas agendas com o “objectivo de chegarmos a um consenso alargado quanto à instituição em concreto das regiões e quanto ao modelo a adoptar”[1] e de “procurar o apoio político e social necessário para colocar com êxito, no quadro da próxima legislatura, e nos termos definidos pela Constituição, a questão da regionalização administrativa, no modelo das cinco regiões”[2].
Se, na nossa região, cruzarmos a fronteira com Espanha, a diferença é evidente. Os nossos vizinhos espanhóis optaram por um país regionalizado e, nos últimos 30 anos, a Espanha afirmou-se pelo seu progresso e pela redução de assimetrias internas.
Portugal, pelo contrário, concentrou no litoral, numa faixa de território entre Braga e Setúbal cerca de 80% da população e da riqueza do país e, em Lisboa, quase toda a capacidade de decisão.
Em particular, a nossa região tem vindo nas últimas décadas a perder população, riqueza, poder e massa crítica. Foi assim inicialmente com a emigração nos anos 50 e 60 mas também - e de forma mais radical - com a transformação de grande parte do sector primário do nosso país e com a criação – nas grandes cidades do litoral – de um novo e cada vez maior sector terciário.
Durante décadas, os sucessivos dirigentes políticos, quer da ditadura quer da democracia e de todos os partidos não utilizaram qualquer estratégia vencedora e consensual que impedisse este movimento.
A regionalização, um objectivo constitucional, foi sempre adiada e todos, quase sem excepção, aceitaram por omissão aquilo que a todos nos salta à vista: um interior cada vez mais vazio onde apenas as maiores cidades, com alguma escala, conseguiram evitar o seu esvaziamento. Em contrapartida quase todas as vilas e aldeias do interior estão, e se nada se fizer, condenadas a desaparecer.
Não entendo, ao contrário de muitos, que a regionalização seja o remédio milagroso para o problema: perdeu-se muito tempo, perdeu-se muita gente e acima de tudo o país perdeu uma grande oportunidade de crescer de uma forma sustentada: grandes cidades como Lisboa e Porto também não são nenhum exemplo pela forma como cresceram desordenadamente.
O modelo que podemos construir nos próximos anos, mais que uma oportunidade para a nossa região é uma grande oportunidade para o país.
Cabe-nos, enquanto agentes políticos, acertar com o modelo descentralização administrativa que sirva o país e que não dê qualquer azo aos que procurarão, como em 1998, utilizar a demagogia, o populismo e a hipocrisia.
Nesse sentido deixo desde já duas ideias: o modelo de regionalização aprovada não poderá implicar o aumento de custos de funcionamento da Administração Pública e por outro lado que o agora proposto modelo cinco regiões garanta como objectivo a homogeneidade de cada uma das regiões (nomeadamente entre litoral e interior).
Agora resta-nos fazer valer os nossos direitos e os nossos deveres com o futuro.
Jorge Seguro Sanches
Deputado à Assembleia da República pelo distrito de Castelo Branco
[1] Programa do XVII Governo Constitucional.
[2] Moção de José Sócrates ao XVI Congresso Nacional do Partido Socialista
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Comentários
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,
O novo modelo de desenvolvimento terá de assegurar a valorização dos recursos próprios de cada região, potenciar a produção própria dos sectores de actividade económica com melhores condições para o fazer e só essas, promover uma política de fixação das populações às terras de origem e assegurar uma sustentabilidade de todas as actividades características de cada Região Autónoma, em complementaridade com as restantes com base no princípioda subsidiariedade.
Sem mais nem menos.
Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)