Historia da Regionalização - referendo de 1998

A consulta que o PSD de Marcelo ganhou

Meio ano antes do referendo sobre a regionalização, em Maio de 1998, as sondagens apresentavam resultados intrigantes: os portugueses achavam que as regiões administrativas não eram necessárias, mas também acreditavam que o Sim iria vencer na consulta popular.

Afinal, no dia 8 de Novembro, ganhou o Não (com 60,9% dos votos, contra apenas 35% do Sim) e a questão da regionalização ficou adiada.

Nas ruas, as manifestações de vitória foram discretas e permanecia a sensação de que o problema nem sequer mobilizava seriamente o país. De resto, a abstenção foi muito elevada (51%) e não permitiu sequer atingir o patamar necessário para tornar o resultado vinculativo.

Os analistas apontaram de imediato vários responsáveis pela derrota do Sim: o primeiro deles era o mapa.

A proposta que António Guterres levou a referendo apresentava um polémico plano de oito regiões, que assentava numa lógica de pluricentralidade.

Mas esse foi, de imediato, um ponto de discórdia, mesmo entre os defensores da regionalização. “O mapa apresentado foi um erro tremendo e um dos principais motivos da derrota do Sim”, diz Elisa Ferreira, uma regionalista convicta que, tal como muitos outros apoiantes da causa, já na altura mostrava muita desconfiança sobre o processo como a questão foi apresentada e defendida.

O grande vencedor da noite eleitoral chamou-se Marcelo Rebelo de Sousa, então líder do PSD, que montou uma elaborada teia para desarmar os intentos socialistas, numa estratégia de desgaste político da maioria governamental de Guterres.

Mas os militantes socialistas viram a vitória do Não como a expressão do fraco envolvimento do primeiro-ministro na campanha. Aliás, vários dirigentes regionais do PS (sobretudo no Porto e em Faro) queixaram-se disso mesmo para justificar a derrota da regionalização nos seus distritos.

E nem o entendimento com os comunistas (que permitiu a vitória do Sim no Alentejo) salvou a face política do Governo socialista.

|RS|

Comentários

Paulo Rocha disse…
Pode e deve servir de exemplo para o próximo referendo
Rui Farinas disse…
Custa a crer que Elisa Ferreira considere que o mapa apresentado tenha sido uma das principais causas para o chumbo da regionalização. Outros factores foram muito mais determinantes para o resultado do referendo, e é preocupante que tudo indique que vão se cometer os mesmos erros. Será que Elisa Ferreira ainda não se apercebeu disso, e esqueceu que as mesmas causas geram os mesmos efeitos?
Paulo Rocha disse…
Noto que foi precisamente nas regiões de Trás-os-Montes e Beira Interior que o NÃO teve resultados mais expressivos.
zangado disse…
Não foi só Marcelo Rebelo de Sousa. Muitos políticos do Norte (geográfico) como Rui Rio e outros do PSD do Porto e não só votaram contra enquanto alguns dirigentes regionais desse partido eram a favor. Não devemos esquecer os boatos então levantados nem o cartaz miserável que Manuel Monteiro e Paulo Portas afixaram pelo país, com a bandeira nacional rasgada num apelo ao voto no não. Não foi só no Alentejo que o sim ganhou; na cidade do Porto, penso que em Gondomar, e Trofa ou Vizela o sim também ganhou.
O resultado do mapa proposto e dessas campanhas pelo não foram o aumento do centralismo lisboeta que se sentiu "legitimado" para aumentar ainda mais a sua concentração de investimentos e serviços na região de Lisboa, com os resultados que sabemos. Muitos dos que votaram não então, agora não se podem queixar por lhes tirarem as linhas férreas e outros meios necessários. Se tornarem a votar não ficarão condenados, mais uma vez, a ser mera paisagem da capital e depois não se venham queixar. Primeiro apoiem a regionalização e depois procuremos o melhor modelo possível para a realizar.