Trás-os-Montes: uma região "ao serviço" de um "Norte" injusto?

A criação de fundos comunitários para aplicar em Planos de Desenvolvimento Regional, são feitos a pensar nas regiões da Europa mais deprimidas ou atrasadas, mas na região Norte de Portugal pensa-se logo em aplicá-los onde são menos precisos.

É esta lógica endémica que justifica, em parte, o atraso do Portugal Interior e que preocupa a própria União Europeia.

Sejamos mais claros. O Nordeste Transmontano e o Alto Tâmega interessa à Região Norte, porque fazem baixar o índice de desenvolvimento global e com isso conseguem mais fundos. Mas esses fundos não são aplicados nas sub-regiões que os determinam, mas onde se encontram os burocratas nacionais, no litoral e próximos do mesmo litoral. É como se um município ou o Estado dessem um subsídio a uma família numerosa e carenciada, para melhor poder cuidar, e o casal aplicasse em vinho. Ou se desse o complemento de reforma a uma idosa e o filho ou o neto o desviasse para adquirir droga.

Se formos por esta lógica, cabe aqui a ideia do meu amigo Toninho, quando me diz que conhece dois tipos de ladrões: os que estão autorizados a roubar e os que não têm autorização. É claro que só alguns destes últimos é que vão parar ao xelindró.

Se for por diante o que os burocratas da Comissão da Coordenação da Região Norte (CCRN), que apenas olham para o seu umbigo ou das áreas mais desenvolvidas, podemos dizer que serão uma espécie de ladrões das sub-regiões menos desenvolvidas, desviando os fundos comunitários para as áreas onde são menos precisos.

Assim, a CCRN quer aplicar os fundos do PROT-N (Plano Regional de Ordenamento do Território do Norte) no Porto, Braga e Vila Real, esquecendo áreas mais deprimidas como o distrito de Viana do Castelo (Alto Minho), Chaves (Alto Tâmega) e Bragança (Nordeste Transmontano).

Imaginem um fundo de emergência para salvar uma região assolada pela fome ou pela guerra e a ajuda internacional ser desviada pelos senhores da guerra ou pelos burocratas governamentais! Pois bem, os burocratas da CCRN querem fazer o mesmo aos fundos do PROT-N, preparando-se para os aplicar em áreas mais desenvolvidas e esquecendo as mais «famintas de desenvolvimento»!

Isto é tão escandaloso (há cada vez mais gente sem vergonha) quanto as nossas regiões fronteiriças, Alto Tâmega e Nordeste Transmontano, estão a perder competitividade relativamente às vizinhas espanholas de Ourense e de Castela-Leão. Em Espanha vêem o país como um todo a desenvolver, em Portugal, a CCRN olha apenas para o Douro Litoral e Douro, esquecendo a imensa área de Trás-os-Montes e que representa 40% da área do território da Região Norte. Um escândalo ou uma ladroeira, como preferirem!

Com esta política de abandono criminoso do Portugal mais interior, dentro de seis anos, 70% da população estará concentrada nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, deixando quase ao abandono 2/3 do solo pátrio.

Por quererem esquecer Bragança como Cidade de Equilíbrio Regional, prejudicando, também, os demais municípios da região, está a gerar-se um clima de descontentamento generalizado das forças vivas e empreendedores transmontanas, lutando para que seja corrigida esta bizarria criminosa e geradora de maiores desigualdades de oportunidades entre o litoral e o interior.

É preciso mudar a ideia de que o Norte de Portugal é só o porto e não termina em Braga e em Vila Real, havendo «cérebros» intoxicados na CCRN a dizer que não é preciso sequer a auto-estrada transmontana ou a que serve a cidade de Chaves. Há gente no Porto e na CCRN que querem transformar Trás-os-Montes numa «reserva de caça», o que pode ser classificado como uma forma de racismo exacerbado contra o povo transmontano e que merece ser denunciado, porque estão a ferir de morte a «coesão económica, social e territorial» de Portugal.

Esperamos que se faça ouvir um grande coro de protestos que conduza a uma mudança de atitude das mentes quase doentias que a sorrelfa nos vai espoliando e abandonando.

Jorge Lage
in "Netbila"

Comentários

Rui Farinas disse…
Verdadeira ou falsa,é esta visão que vai reprovar a regionalização em futuro(?) referendo. Por isso mantenho que o propósito do governo em insistir nas 5 regiões,tem como finalidade poder dizer que "o povo português rejeita a regionalização". E acaba mesmo, a menos duma revolução...
Caro Rui Farinas,

Relembro-lhe que no referendo sobre a Regionalização de 1998 a região de Tras-os Montes e Alto Douro era uma das regiões a instituir. Mesmo assim foi rejeitada pelos seus próprios habitantes com um Não rotundo - quase 80% de sufrágios negativos.

Na denominada Beira Interior esta situação repetiu-se.

Curioso ... não dá mesmo para entender o que é esta gente quer!

Cumprimentos,
Anónimo disse…
Votaram "Não" porque era o que a direita defendia.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

As votações apesar de serem sábias não deixam de ser quase contraditórias. E desta contradição resulta a complexidade em compreender os objectivos políticos de desenvolvimento associados à regionalização, os quais ultrpassam as meras inclinações interesseiras e individualistas de quem vota.
Não é de estranhar, portanto, que mereçamos os governos que nos têm governado ao conseguirem (a única que conseguem porque no resto tudo arranjam) nunca fazer sair da "cepa torta" as nossas condições de (sub)desenvolvimento.
E o mesmo irá continuar.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Rui Farinas, muito bem dito.

Estes srs, incluindo o sr. Afonso, que insistem em dividir as unicas regioes viáveis, o mais que irão conseguir é travar o processo que todos queremos. Enfim...