Continua o debate: o que ganha o Interior com as 5 regiões?

Estatísticas que magoam


Continuamos a bater palmas a esses falsos messias e a votar em vendedores de ilusões…

Há uns dias atrás, publicou um diário dados estatísticos referentes ao poder de compra dos diferentes concelhos do País, reportados a 2005 e 2007. A listagem não era completa e apenas indicava os vinte e um concelhos mais pobres e os quinze mais ricos. Esses valores de modo algum nos surpreenderam, principalmente os que dizem respeito a Trás-os-Montes, mas há particularidades que nos merecem alguns comentários.

Se nos debruçarmos sobre as listagens dos concelhos mais pobres, constatamos que no universo dos vinte e um, oito são transmontanos, sendo seis do distrito de Vila Real e dois de do distrito de Bragança.

Relativamente a Vila Real, verifica-se que, em relação ao ano de 2005, apenas Mondim de Basto e Ribeira de Pena figuravam na lista negra. Em 2007 estes dois concelhos, além de verem piorar a sua situação, passaram a ter a companhia de Valpaços, Boticas, Montalegre e Santa Marta de Penaguião. O que mais surpreende é a inclusão dos concelhos de Valpaços (jovem cidade), de Boticas e Montalegre, onde os seus dinâmicos presidentes de câmara, nomeadamente com a organização de feiras e outros eventos, não conseguiram evitar essa despromoção.

Em relação a Bragança, o panorama é um pouco mais animador. Se em 2005 tinha três concelhos nessa lista, Freixo de Espada à Cinta, Carrazeda de Ansiães e Vinhais, em 2007 apenas os dois últimos continuam a ser referenciados. Freixo de Espada à Cinta deu um verdadeiro salto qualitativo, pois de segundo mais pobre em 2005, deixou de integrar esse grupo em 2007. O concelho de Vinhais aparece-nos como o de menor poder de compra.

É certo que as estatísticas valem o que valem. Como normalmente resultam de dados que não são representativos, não podem reflectir a realidade. Não deixam, no entanto, de ser um bom indicador. Neste caso mau, para nós transmontanos e para os nossos vizinhos da Beira Alta.

Embora os nossos governantes venham apregoando há muito tempo a descentralização e o combate às assimetrias regionais, para o qual têm recebido ajudas comunitárias, tudo isso não tem passado de vãs promessas. Cada vez essas desigualdades são mais acentuadas, enquanto os de Lisboa vivem à rica e à europeia, ultrapassando em muito a média nacional. A norte do Douro só o Porto e Matosinhos figuram entre os quinze concelhos mais ricos. Existem, por outro lado, 235 abaixo da média nacional.

É esta uma realidade bem dura. Dura, mas que os transmontanos se habituaram a roer sem indignação. Não porque tenham melhores dentes, mas talvez bons ouvidos e por isso se deixam encantar por cantos de sereia. Se uns sofrem, outros desesperam e então é vê-los partir à procura de melhores dias em terras que nada lhe devem. Muitos combateram, arriscaram a própria vida na defesa daquilo que lhe diziam ser a Pátria, mas essa mãe injusta não soube reconhecer alguns dos seus melhores filhos. Nem trabalho lhe conseguiu arranjar. As maiores vítimas são naturais precisamente dessas regiões mais pobres, onde não havia dinheiro nem escolas secundárias ou liceus para poderem estudar e por isso o seu destino na tropa foi o mato, como soldados rasos.

Os fundos comunitários, que podiam, não digo acabar, mas pelo menos atenuar essas assimetrias, são desviados e gastos na capital, no litoral e nas localidades mais desenvolvidas. Ninguém se revolta, mesmo assistindo à desertificação das nossas aldeias e vilas. Continuamos a bater palmas a esses falsos messias e a votar em vendedores de ilusões para que nos esqueçam e continuem a encerrar serviços e a retirar qualidade a outros, enquanto se vão servindo de bons tachos e alambazando à mesa do orçamento.

Lembram-se de nós se nos podem sacar recursos naturais, através das barragens, dos parques eólicos, etc. Mas essa produção de energia não é para termos a luz eléctrica mais barata, nem para ajudar ao desenvolvimento da nossa região. Vai enriquecer os mesmos de sempre. O trabalho acaba com o final das obras e não é para transmontanos.

Quando se falou nas vias estruturantes que estão projectadas e em início de execução, logo a líder do partido mais votado em Trás-os-Montes veio dizer que não se justificava tão grande investimento. Em tempo de crise era dinheiro mal gasto. Quando se esbanjam milhões em regiões mais ricas, porque não podem os transmontanos ter direito a algum capital mal gasto?

Volta-se a falar na regionalização. Muitos que nunca a defenderam aparecem agora como novos arautos dessa transformação administrativa. É a hipocrisia e o oportunismo de sempre. Se a regionalização for por diante, na configuração que falam por aí, nós continuaremos a ser marginalizados, em vez de Lisboa, pelo Porto. Porque não assumirmo-nos como a região mais pobre, com a sua identidade própria, para melhor podermos reclamar a atribuição de fundos de coesão? Neste momento já somos a sub-região mais pobre da Europa. Integrados na região Norte, com a nossa pobreza e atraso só contribuiremos para que a média de desenvolvimento dessa região baixe e possa justificar outras ajudas, enquanto nós ficaremos a ver navios do progresso ou a servir de muleta a quem tem melhores pernas para andar.

Armando Ruivo

Semanário Transmontano, 24/12/2009

Comentários

portasdolivenza disse…
"ORGULHOSAMENTE SÓS",possivelmente esta frase não é do seu tempo,mas vejamos,sou alentejano de elvas,aplaudo a regionalização em portugal num todo e coeso meio de reduzir a despesa do país e em cada região,NORTE,BEIRAS,LISBOA/VAL DO TEJO,ALENTEJO E ALGARVE (cinco+açores e madeira)deve o governo eleito ter em cada região o seu governador civil que faz a ponte com o governo,defendo uma camara alta composta pelos deputados a assembleia da republica eleitos na região a funcionar como orgão consultivo e que melhor poderá defender os direitos da região na assembleia da república,um conselho executivo formados pelos presidentes de camara da região,que por sua vez irá nomear uma comisão executiva cujos quadros serão recrutados ao estado e autarquias sendo os lugares a ocupar lugares de carreira pela competencia e não cargo politico,terminando desta forma com os usurpadores deste país "OS ASSESSORES",assim reduzindo a despesa local e nacional,porque quem está de fora fica com a ideia que se estão a preparar uns tantos quantos chulos para assaltar este novo poder intermédio e os negócios que envolvem.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Ninguém até hoje apresentou um Orçamento que prove que a regionalziação autonómica é mais "cara" (ou mais barata) que o actual sistema de governação central.
Por isso, quem aqui aparece a fazer contas sem as saber só poder ser um feroz anti-regionalista, mais preocupado com as contas dos outros do que com os resultados que poderão ser atingidos com uma nova política de governação.
Trata-se efectivamente de uma nova política de governação e não de um novo capítulo de "nova" governação. Só quem estiver muito distraído, for ingénuo, incompetente ou defensor de direitos adquiridos (carreirismo, subsídios estatais, etc.) é que se limita a defender uma regionalziação de "segunda", com características puramente administrativas e lamento ter de fazê-lo aqui, admitindo sempre que as excepções existentes que podem ser muitas só irão confirmar a regra.
Aos contestatários da regionalização, directos ou encapotados, que aqui aparecerem a esgrimar argumentos monetaristas garanto-lhes que não lhes responderei nem lhes darei qualquer importância argumentística porque será sempre tempo perdido dado que não conduzirá a nenhum objectivo válido.
É necessário insistri na defesa das teses essenciais ao desenvolvimento equilibrado e autosustentado que somente a regionalziação autonómica irá proporcionar e nenhuma outra. Tudo o resto, continuo a insistir, é pura perda de tempo e de recursos.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)

PS - Gostaria de lembrar, com ou sem regionalizaçãi autonómica, haverá sempre o perigo de inundação na Ribeira do Porto com a ocorrência de Invernos rigorosos como o deste ano e à moda antiga (até a meteorologia se rege também por ciclos).
Anónimo disse…
Orgulhosamente sós?
Portasdolivenza, então porque é que o Alentejo não se junta com o Algarve, para não ficar sozinho???
Anónimo disse…
Dirá que não tem lógica juntar o Alentejo ao Algarve. E não tem.
Pois juntar Trás-os-Montes ao Entre-Douro e Minho e a Beira Interior à Beira Litoral tem tanta, ou ainda menos, lógica.
Discurso um pouco incoerente o seu, não?
Anónimo disse…
Então juntar as Beiras tem menos lógica que juntar Algarve e Alentejo? Você andar a fumar o quÊ?
Anónimo disse…
Compare a Guarda com Coimbra, e Évora com Faro, e depois diga-me o que é que é mais parecido. Veja as estatísticas todas e veja o que é que contrasta mais, Algarve e Alentejo, ou Beira Litoral e Beira Interior? E leia a história regional de Portugal para se aperceber que isso de "Beiras" foi uma invenção. A verdadeira Beira é a Beira Interior; o resto era Estremadura e Entre-Douro e Mondego.

Estou completamente de acordo com o Afonso Miguel.