Pobres e ricos

As grandes empresas do subsector do Estado (CP, Refer, Transtejo, Carris, Metropolitano de Lisboa e o do Porto, TAP, ANA, Águas de Portugal, etc) têm um volume de dívidas que ultrapassa os 15 por cento do PIB português e estrangulam a economia portuguesa.

Pior, estas empresas prestam serviços essencialmente em Lisboa e Porto, mas são suportadas pelos orçamentos da República, situação intolerável, pois para as manter, deixa de haver capacidade de investir no resto do país e, em especial, no interior.

Apesar dos prejuízos constantes dessas empresas, os seus gestores são pagos principescamente, pelo mérito da gestão ruinosa de que são responsáveis. Os administradores de topo auferem muito mais que o Presidente da República ou o Primeiro-ministro, e isto sem terem de se aborrecer… Claro que os altos dirigentes do Estado são os responsáveis pela situação, nomeando administradores das empresas públicas escolhidos entre os principais partidos.

Nalguns países, nomeadamente na Irlanda, os ordenados dos principais dirigentes vão ser reduzidos. Entre nós, apesar dos muitos problemas da economia e o crescimento do desemprego, o assunto nem é discutido. A “agenda” é dominada pelo casamento dos homossexuais (quanto mais depressa se resolver melhor) ou as intrigas entre Presidência e Governo… para distrair o cidadão do que é realmente importante.

Os salários de gestores públicos deveriam, entre nós, merecer análise, discussão e, porventura, actuação em conformidade: Portugal não pode continuar a pagar salários tão elevados. Num país em que o aumento do ordenado mínimo não é exequível (!?), em que muitos jovens com formação superior não conseguem emprego e quando trabalham é com ordenados muito abaixo das expectativas; num país com dois milhões de pobres, em que o salário médio é de 850 euros, em que metade dos portugueses vive com menos de 650 euros por mês, é extraordinário analisar os valores de vencimentos que se praticam nalgumas instituições. Nos organismos do Estado, nas empresas e serviços públicos, nas autarquias, nas empresas municipais, em IPSS’s, em colectividades e associações subsidiadas pelo Estado há salários de milhares de euros – e tudo suportado pelo contribuinte, que no sector privado é quem produz e paga os impostos que servem para pagar os serviços públicos úteis (muitos felizmente) e inúteis (bastantes) - escandaloso. É, pois, da maior urgência analisar e discutir, com razoabilidade, se o país pode continuar a pagar tanto a tão poucos.

Podia apresentar muitos exemplos… fico-me por um: Na última Assembleia-Geral da Águas do Zêzere e Côa foi proposto o aumento da água ao consumidor. Felizmente, a proposta não passou. A água na região é já a mais cara do país… mas, apesar disso, a AdZC vai acumulando prejuízos, provocados pelos investimentos que teve de fazer na captação e distribuição da água e pelos custos elevadíssimos que tem. Não me pronuncio sobre os méritos da gestão, dos seus investimentos ou das suas opções estratégicas, mas sei que o produto (a água) está sempre vendido, que a recolha do lixo é paga pelo consumidor, além da componente social que, em última instância, é paga pelos nossos impostos. E sei que por ali sempre se arranjaram muitos empregos, bem pagos, a apaniguados e afilhados. Que os administradores recebem ordenados chorudos. E que, mesmo os administradores não executivos – dois presidentes de Câmara (os actuais serão substituídos em Março) – recebem senhas de presença por reunião (uma por mês, ordinária) de cerca de 1.500 euros (limpos). O mesmo recebendo o presidente da Assembleia-Geral, actualmente o presidente da Câmara da Guarda (uma por trimestre). Tudo isto contribui para a acumulação de custos e prejuízos cuja factura terá de ser paga por todos.

Votos de Feliz Natal para todos os leitores e amigos.


Luis Baptista-Martins,

O Interior, 24/12/2009

Comentários

manuel amaro disse…
Leio e só posso concordar.
Os prejuizos destes monstros são muito elevados. Mas os seus quadros são pagos a peso de ouro. Vencimentos chorudos, carro, combustível, telefone, cartão de crédito, um autêntico regabofe.
O Governo - PM e ajudantes - nomeiam milhares de gestores "virtuais" com vencimentos obscenos.
Bastava legislar que todos os cargos de nomeação governamental não podiam ter vencimentos superiores ao vencimento de ministro.
Por isso, é que eu tenho receio que o "bando" que se prepara para lançar as garras sobre os cargos a criar na regionalização vá provocar mais 1% no defice público.

Sem qualquer proveito.
Anónimo disse…
Caros Regionalsitas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Não me aquece nem arrefece o que possam ganhar os gestores públicos ou privados. Só sinto uma grande preocupação, ex-ante (porque ex-post quase nada há a fazer, nas actuais e próximas futuras circunstâncias), apenas com dois aspectos de "governação" com os titulares dessa actividade gestionária:
(a) Saber os critérios objectivos que justificaram as respectivas nomeação e remuneração - fixa e variável (os subjectivos nunca os conheceremos, obviamente, talvez por ser o "segredo do negócio" ou não).
(b) Saber se os objectivos sociais (isto é, associados às empresas ou outro tipo de organizações que dirigem) foram plenamente atingidos, de forma regular, ética, sem atropelos de mercado (concorrência e outros relativos ao valor de mercado seja do que for) e com benefício para todos os intervenientes ("stakeholders", com pedido de desculpa pela utilização deste inglesismo).
Tudo o resto não passará de entretenimento ou distracção do essencial que é conseguir implementar a melhor forma de assegurar o desenvolvimento qualitativo (maior bem-estar possível) e quantitativo (o melhor nível de vida possível), num ambiente de equilíbrio social, auto sustentação e de simetria regional.
O único intrumento político capaz de o assegurar é a regionalização autonómica e nenhum outro. Gostaria que se convencessem de tudo isto, mas não vai ser nada fácil.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)