A política algarvia

A política nacional é uma coisa, a regional (a algarvia, naturalmente, que é a que aqui nos interessa) é outra, embora esta faça parte do puzzle – todos compreendemos isso.

Ora, a política algarvia vive essencialmente do que os deputados eleitos pelo círculo fazem e dizem, do que os autarcas (do de menor expressão ao de maior impacto) prometem, decidem e planeiam, do que os dirigentes regionais dos partidos (com mais incidência nos dos partidos com assento parlamentar) proclamam, anunciam e justificam.

Depois, só muito depois, conta a legião de administradores regionais, de directores regionais de áreas governamentais e de delegados de ministérios, que não podem nem devem exceder os limites das suas competências e atribuições e que na maioria dos casos, porque a autonomia é administrativa, embora possam não devem falar de motu proprio, à revelia da tutela ou em nome de políticas divergentes.

Ninguém os recrimina por isso, fazem o seu papel e cumprem a sua missão, pois como também todos querem que a cumpram bem sem que o sapateiro vá além da sola, também ninguém aceitará prepotências, autoritarismos e excessos de poder como por vezes tem acontecido ou ido além das marcas - são nomeados e não eleitos, e embora usufruam e exerçam a corrente do poder central eleito, não estão sufragados directamente como os deputados pelo círculo e os líderes partidários dentro dos respectivos partidos.

E por entre os nomeados está obviamente o governo civil que delega, por natureza, o ministério da Administração Interna que nomeia, além de uma função de representação do governo e de informação para o governo, representação emblemática ou simbólica que, num contexto de não-regionalização se aceita mas que não é mais do isso, a não ser que, por exorbitante exercício de populismo por vezes também se faça crer ou leve a crer que é mais do que isso.

Neste quadro, os administradores administram, os directores dirigem e os delegados delegam. Que o façam bem e que conciliem a cordialidade com a transparência - o que se lhes exige e, por certo, o governo quer. Pelo contrário, também inquinam o clima político da região que, não vale a pena dissimular está inquinado.

E o clima político algarvio está inquinado porque, primeiro, já se adivinhavam as consequências do facto dos principais partidos terem imposto, para o parlamento, listas desconformes, sobretudo para os lugares elegíveis.

E como numa democracia o que à cabeça conta é o poder (os partidos não são associações de benemerência, visam a conquista do poder para o exercer) o foco de inquinação obviamente que é mais notado no partido que legitimamente conquistou esse poder e secundariamente no se lhe opõe mais directa e concorrencialmente. Fala-se do PS à cabeça e do PSD, obviamente.

É por isto que não se entende o bordão do líder regional do PS, Miguel Freitas, usado repetidamente para justificar decisões ao arrepio da ética política e até das lições a tirar do exercício de cargos. Tudo, segundo ele, foi “no interesse dos algarvios” e para “o bem da região”. Um algarvio que o seja ou se nisso se tenha tornado e seja aceite, não fala assim perante as evidências.

Carlos Albino

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