PS dá o pontapé de saída para a discussão sobre a regionalização



Lusa
14:58 Sexta-feira, 11 de Dez de 2009

Lisboa, 11 Dez (Lusa) - O grupo parlamentar do PS vai dar início à discussão interna sobre a concretização de um referendo à regionalização ainda na presente legislatura, durante as suas jornadas parlamentares, entre segunda e quarta-feira, em Beja.

Como tema central das Jornadas Parlamentares do PS, que serão encerradas quarta-feira pelo secretário-geral, José Sócrates, estará a questão do desenvolvimento regional, também na perspectiva do aproveitamento dos fundos comunitários.

"A minha intenção é promover a partir do interior do grupo parlamentar do PS uma discussão séria, serena e atempada sobre o tema da regionalização. É um compromisso eleitoral do PS, consta do programa do Governo e a sua discussão deve ser feita com ponderação e com rigor", declarou o líder da bancada socialista, Francisco Assis.

Comentários

templario disse…
A Regionalização como manobra suicidária, é o que é. A Regionalização como fuga às responsabilidades e disfarce de incompetência. A Regionalização para retalhar o país e entregá-lo à governação de Bruxelas e aos interesses das potências europeias, com a Espanha na primeira linha. É o salve-se quem puder. Incapazes, por estarem dominados pela ganância de ganharem dinheiro, muito dinheiro, na política e, concomitantemente, na esfera estatal, os partidos abrem-se a um entendimento tenebroso para apaziguarem os seus "cheveaux-légers" ameaçados de passarem à reserva para sempre, disponíveis para oferecer os seus serviços ao primeiro que queira mobilizá-los, a um novo "regime"... que por aí se venha a insinuar.

A Assembleia da República arrasta-se em discussões confusas e estéries e consertações suicidas entre todos os partidos sem que se criem conjunções de centros. A Regionalização é o último acto desta Grande Confraria de Interesses que pode, seriamente, pôr em causa a democracia e a independência Nacional e desmantelar o único país antiregional da Europa. O Partido Socialista não vai discutir nada nessas tais jornadas sobre a regionalização. É pura demagogia. O que eles vão fazer é umas sessões públicas sem direito a debate, sem estudos sérios e profundos sobre o tema, sem nenhuma linha de rumo, sem nenhuma base de sustentação das suas propostas, será tudo uma mentira chapada, porque tudo está inquinado, dominado por negociatas partidárias. O que o PS vai fazer é uma manobra de diversão de agenda política, oferecendo aos tais "cheveaux-légers" , bandos desesperados à solta, uma "missão épica" a troco de.... O PS devia ter vergonha de se pôr nos bicos dos pés sobre uma questão que irá criar o maior perigo de sempre para desmantelar uma nação a partir de dentro.

José Sócrates, PS e o Governo, acossados por uma oposição cujos partidos no seu conjunto votam as mesmas propostas em que cada um deposita nelas pensamentos e esperanças contrárias de outros tempos, mesmo antagónicas, desajustados do pão dos nossos dias, numa jogada estratégica que não irão dominar; o mais certo é enfeicharem-se gravemente no despiste já iniciado. De facto, cada partido deposita também nesta questão da regionalização, pensamentos e esperanças contrárias e antagónicas de outros tempos e em relação aos tempos de hoje.

É preciso desviar as atenções do que está aí para rebentar a curto prazo: estagnação salarial, redução salarial que vai atingir os interesses dos que se opõem a qualquer reforma (na adm. pública em geral), desemprego que pode aproximar-se do milhão, aumento impostos. Culpados? O Sistema partidário no seu conjunto e não este ou aquele partido. São todos culpados.

Peçam ao sistema partidário que faça um relatório público das ilicitudes das práticas dos seus dirigentes de topo e intermédios, e do seu funcionamento em geral. Seria um escândalo público.

Até o mais novo partido da Assembleia da República (Bloco de Esquerda) dá, sobre isto, um requintado exemplo: elegeu um chefe de bancada de qualidade, segundo por aí se afirma, e faz figura de corpo presente na AR. Mete dó!... Só falam os chefes dos seus bandos épicos.
templario disse…
Corrijo: onde se lê

"cheveaux-légers"
deve ler-se

"CHEVAUX-légers"
Caro templário:

A Regionalização teve o dom de unir nações que estavam em perigo de se extinguirem e mergulharem em guerras civis quase separatistas:

Espanha, Suíça, Itália, e tantas outras, hoje já não existiriam se não fossem regionalizadas.

Mesmo a Madeira e os Açores, se não fossem autónomos, já tinham certamente declarado independência há décadas.

Acha mesmo que em Portugal Continental a regionalização iria "desmantelar o país"?

Pense bem: seríamos caso único no Mundo, provavelmente, ao dizer que a Regionalização põe em perigo a unidade nacional. Será que o templario está a ver o Algarve ou Trás-os-Montes a declarar independência? Isso é um receio completamente infundado.

Assim como não é verdade que Portugal seja um país anti-regional. Se der uma vista de olhos pelos livros dos geógrafos portugueses, vê o que eles acham sobre o assunto. Aconselho especialmente Amorim Girão, e a sua obra "Geografia de Portugal".

Essa posição de "orgulhosamente sós" que o caro templario apregoa, já nós a assumimos há muitas décadas. E não tem dado bom resultado...

Portugal tem um problema crónico de subdesenvolvimento que é mais regional que nacional. Hoje, as regiões de Portugal parecem a sociedade do Antigo Egipto, uma pirâmide com as classes de tal maneira vincada, onde se distinguem claramente os beneficiados e os desfavorecidos, em termos regionais, com o facto de Portugal estar "orgulhosamente só" na defesa do centralismo. A tal pirâmide, metáfora da distribuição do investimento e da riqueza nacional, tem contornos óbvios:

Lisboa

P o r t o

Restante Litoral

Regiões do Interior

Tal como na sociedade egípcia, no actual estado de centralismo a progressão entre classes é muito difícil: as regiões do Interior não conseguem atingir os níveis de desenvolvimento do Litoral, este não consegue atingir os níveis de desenvolvimento das áreas metropolitanas, o Porto está estagnado, e Lisboa cada vez mais se afirma no topo da pirâmide, claramente beneficiada com a situação em questão, e com ajudas europeias que, embora sejam destinadas aos países da "base da pirâmide" (que necessitam deles para melhorar linhas ferroviárias e estradas, construir hospitais e universidades, promover o turismo, a indústria e a agricultura), são na realidade entregues ao seu topo (quer através de mega-investimentos como a 3ª travessia do Tejo, o aeroporto de Alcochete ou a 3ª auto-estrada Lisboa-Porto, quer através de investimentos localizados como a Frente Ribeirinha de Lisboa, a expansão do metro de Lisboa, ou as sucessivas candidaturas da capital a tudo o que é evento internacional).

É esta a situação que temos em Portugal. É com ela que queremos continuar, no futuro?

É que, se a resposta for afirmativa, estou muito preocupado com o futuro da minha, da nossa pátria. Portugal tem de se desencravar deste subdesenvolvimento para ter credibilidade e atractividade perante a Europa e o Mundo. E só o conseguirá se resolver os seus problemas estruturais. E o maior problema estrutural de Portugal é, sem dúvida, a existência de enormes assimetrias regionais, da tal "pirâmide", porque a existência destes problemas é a causa para a maioria dos outros.

Se estes problemas se prolongarem por muito tempo, aí sim, temos a nossa unidade nacional em perigo, pois cada vez mais portugueses defenderão a anexação por Espanha, e cada vez mais pessoas, particularmente do norte do país, defenderão o rompimento das relações com Lisboa para se ligarem a uma Galiza bem mais desenvolvida que a maioria das regiões de Portugal. Porque podemos dar como certo que as pessoas, por muito que sejam patriotas, e tenho a certeza que o são, preferem ver o desenvolvimento chegar e ter os seus impostos aplicados em seu proveito, do que continuar passivamente a ver o trabalho que têm, o dinheiro que entregam ao Estado, ser utilizado em proveito de outros.

De uma coisa estou certo: não é isto que quero para a minha pátria, Portugal.
templario disse…
Caro Afonso Miguel,

Agradeço seu comentário. Os pontos que toca exigem uma resposta muito alargada e como para mim, escrever é um sacrifício, deixo para outra altura.

Apenas três notas:

-Diz que a regionalização serviu para unir nações e diz muito bem. Pergunto: a que nação quer unir Portugal ou quais são as nações que a sua regionalização vai unir?

-Para não ficarmos "orgulhosamente sós", diz também: desculpe mas não joga a bota com a perdigota.

-Com todo o respeito, até porque na globosfera o tenho como o mais sincero regionalista, o que lhe deu para remontar à antiga civilização Egípcia? Percebo e aplaudo o seu esforço de pesquisa na História, mesmo nas civilizações clássicas de há 3, 4, 5 mil anos, quando - e tome isto como uma brincadeira, apenas isso - as galinhas ainda tinham dentes...

Se seguisse por aí, ripostava-lhe com a Grécia Clássica de há 2.500 anos, berço da nossa cultura, com as suas cidades-estados; e aí sim, eram factores geográficos, físicos onde talvez os geógrafos (da geografia física) que leu, deviam, então, ir beber. Mas aí, curiosamente, foi a cultura, nomeadamente a filosofia, e a língua, por exemplo, que os uniu, mesmo contra os seus deuses oficiais (das cidades-estados). Não se esqueça que há outro género de geógrafos, os da geografia humana, e também temos hoje as contribuições da sociologia e de uma nova aborgagem da História por parte dos historiadores. E não esqueça que acerca do conceito de "Região" num país como o nosso, se pode perder se se cingir apenas à Geografia Física.

Fico-me por aqui. Tenho que ir ver o Benfica, já que o Sporting perdeu, graças a deus.... - ...que sou do Benfica, que não é regionalista, como o Porto, antes um símbolo de cultura e unidade nacional que também une este nosso Portugal único e indivisível, uma só língua, um só povo - há quase mil anos!!!

Um abraço.
Caro templario:

Em relação aos três pontos que citou:

-Portugal, obviamente, não se vai unir a nação nenhuma. A regionalização, como reforma que permitiu inclusive manter unidas nações que estiveram à beira da fragmentação, vai, isso sim, ser indispensável para manter a unidade do nosso país, face aos problemas e ao descrédito crescente que infelizmente enfrenta.

-O facto de estarmos "orgulhosamente sós" na defesa do centralismo é facilmente perceptível: o único país da Europa Ocidental que se mantém centralista é, ao mesmo tempo, aquele cujas situação económica e social é pior: este facto é, em grande parte, resultado de uma má organização do país, que torna a crise de Portugal mais regional que nacional. É aí que entra a regionalização como reforma indispensável para resolver este problema.

-Antes de mais, obrigado pelo elogio. Não precisei de uma pesquisa histórica para falar nos egípcios, uma vez que o que aprendi na escola pública chega e sobra para me sentir preparado para referir o assunto. Apesar de ter passado tanto tempo sobre o apogeu e a queda da civilização egípcia, coisas há que não mudaram ao longo do tempo. E, utilizando obviamente a pirâmide social do Antigo Egipto e das sociedades clássicas como metáfora, e aplicando-a à realidade regional portuguesa, esta assenta que nem uma luva na profunda estratificação regional em que o nosso país cada vez mais se vê mergulhado.

Quanto à Grécia Antiga, como diz e muito bem, apesar de as suas cidades-estado gozarem de ampla autonomia, havia uma identidade a uni-las. O mesmo aconteceria em Portugal, que é um país com uma identidade e cultura forte, mas com variações regionais, e que só ganharia no reforço do mosaico cultural que compõe a identidade portuguesa (porque a cultura portuguesa, ao contrário do que o nosso país promove no estrangeiro, não se esgota no fado de Lisboa nem nos pastéis de Belém: é também o fado de Coimbra, o folclore desde o Minho ao Algarve, os caretos transmontanos, a capeia arraiana, e outras tradições tantas vezes esquecidas por estarem longe de Lisboa). Queremos a regionalização, porque todos nos queremos sentir portugueses, sem sermos rotulados de "provincianos", que é como somos tratados. E, tal como a Grécia Antiga, Portugal também estará unido se se respeitar as diferenças, o espaço e os direitos de cada região. Se acontecer o contrário, que é para o que caminhamos pelo centralismo, é que a unidade nacional fica em perigo...

Cumprimentos,
Caro templario:

Esqueci-me de falar na questão dos geógrafos. Apresentei aqui uma perspectiva baseada na Geografia Física, mas a Geografia Humana e os seus estudiosos têm, também, na sua maioria, uma perspectiva regional para Portugal, e dados que apoiam a regionalização. O próprio Amorim Girão apoiou-se não só na Geografia Física, mas também na Geografia Humana para as regiões que propôs e tão bem caracterizou.

Cumprimentos,
manuel amaro disse…
Que lindos textos!!!...

Vou copiar e guardar para quando passar por Terras de Bouro ou Lages das Flores, explicar àquelas gentes, a razão da regionalização.

Coisa linda!!!...

Espero e desejo que o Francisco Assis, a Elisa Ferreira, o Luis Filipe Menezes e o Mendes Bota, não deixem de ler.
Espero que saiba, sr. Manuel Amaro, se está a falar ironicamente, que as pessoas de Terras de Bouro ou de Lajes das Flores, ou seja donde sejam, são tão capazes, e têm tantos direitos, como as pessoas do Porto, de Lisboa ou de Coimbra. Ás vezes são chamados de parolos, mas eu bem sei que, na maioria das vezes, alguns que se acham das "elites" citadinas, têm uma mentalidade, isso sim, bem mais parola e tacanha que as pessoas do Interior.

Pensar assim é desrespeitar a democracia.
Anónimo disse…
Oh sr. Afonso Miguel!
Essa de chamar parolos aos meus amigos de Terras de Bouro e Lages das Flores, ofende-me.
Mas nós estamos habituados.
Claro que eu também sou parolo. Pelo menos, tanto como eles.
Mas eles sabem que eu falo com as elites citadinas e questionam-me.
E eu não me faço rogado, respondo.
A eles e a muitos outros por esse país fora, desde a Fajã de Baixo a Tentúgal. De Porto Moniz a Cabanas de Tavira...
E vou continuar...

Manuel Amaro