Centralismo ... até quando?!

É pública e notória a inclinação do Primeiro-Ministro para que o país venha a ser dividido em 5 regiões.

Uma regionalização que, a concretizar-se, separa e demarca Lisboa das demais zonas, a saber: Norte, Centro, Alentejo e Algarve.

Como é óbvio, com este modelo, torna-se notório um distanciamento da capital relativamente ao resto do território nacional.

Este, aliás, um propósito já denunciado por Eça de Queirós, esse homem das letras e diplomata de eleição, cuja mensagem legada continua a ser entendida de uma actualidade impressionante, o qual, num misto de revolta e indignação, não se cansava de denunciar que "Portugal era Lisboa e o resto, paisagem".

Assim era e assim continuará a ser, pelos vistos, até porque José Sócrates afigura-se inflexível, ao ponto de considerar que ou há cinco regiões ou, então, a dita cuja - a Regionalização - não sairá do papel.

Ao destacar-se Lisboa do resto do país, significa, à partida, privilegiar toda uma cidade - área metropolitana, de uma província, dividida em 4 fatias ou parcelas territoriais.

Até porque a centralização de serviços de Estado e empresariais já vem evidenciando isso mesmo, tantas e tais são as transferências ultimamente verificadas.

Ao longo dos últimos anos todo o Norte e a cidade - Região do Porto em particular perderam estruturas económicas de enorme relevo social, casos da AEP - Associação Empresarial de Portugal, entretanto rebaptizada de Confederação Empresarial de Portugal, a Bolsa de Derivados do Porto; bancos como o Millenium BCP e o BPI, estes, embora, com as respectivas sedes no Porto, viram os centros de poder e decisão deslocalizados para a capital.

Quanto à Comunicação Social, o Norte e a Província viram desaparecer o jornal diário mais antigo - O Comércio do Porto - e assistem ao definhar de outro prestigiado título, muito ligado às letras e artes, o centenário "Primeiro de Janeiro".

Mais recentemente, até o evento mundial designado de "Red Bull Air Race" foi desviado para as bandas do estuário do Tejo.

Eis a prova-provada de que o que se pretende é esvaziar tudo o que esteja para além das fronteiras onde o poder central se encontra instalado e incomodado, bem ao jeito de uma chusma de importantes figuras públicas que se acantonaram em tudo o que dá prestígio e dinheiro.

Até quando ?!...


A. J. Gomes Ribeiro
Editorial
in Tribuna Pacense, Paços de Ferreira, 08/01/2010

Comentários

Anónimo disse…
A visão que o Senhor Primeiro Ministro tem sobre o papel da regionalização, se é que quer 5 Regiões Administrativas, só confirma o perfil de político-de-turno que lhe assenta como uma luva, sem qualquer ideia capaz de projectar o País no caminho do desenvolvimento equilibrado e autosustentado, em linha de convergência com as sociedades mais desenvolvidas. É que não basta incentivar as exportações, é necessário também substituir importações nos sectores de actividade em que revelamos mais fragilidades produtivas, organizativas, gestionárias e tecnológicas.
Por outro lado, só confirma a intenção dos detentores do prder executivo em se contentarem com um tipo de regionalização que apenas prolongue toda a intervenção política do Governo Central sem a mínima falha através de Governos Administrativos Regionais, na sanha do vai papel e vem papel nunca decisões de desenvolvimento. Precisamente o que fazem hoja as inócuas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional.
Relativamente ao escrito anterior muitos virão dizer que não será bem assim, respondendo que será sempre assim, dando argumentos aos centralistas e a outros anti-regionalistas retrógrados de continuarem a considerar a regionalização como um projecto despesista.
Despesista foi o investimento realizado há 5 anos com os estádios de futebol, em que algumas Câmaras Municipais têm de pagar o que devem e, sobretudo, o que não deviam, mesmo as implantadas em territórios considerados regionais e locais.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)