A regionalização não é só "sim ou não"


A regionalização esteve em debate na Casa do Alto, na passada sexta-feira, durante toda a noite. O encontro de ideias, promovido pela Juventude Popular da Maia, reuniu em Pedrouços várias figuras da vida política e social da Maia e do país. Sentados à mesma mesa estiveram o deputado do CDS/PP eleito pelo círculo do Porto João Almeida, assim como o dirigente do PCTP/MRPP, Garcia Pereira, e pelo administrador do TECMAIA, António Tavares.

Para fazer o debate sobre a regionalização saltar da esfera do sim ou do não, a sessão na Casa do Alto serviu para se discutirem mais a fundo os vários argumentos a favor – ou não – da regionalização, para que a questão não se resuma à "guerra" de extremos. Com este debate, subordinado ao tema "Regionalização – Perspectivas e Desafios", a Juventude Popular da Maia quis analisar qual o modelo geográfico que traria mais benesses ao país, o estado das relações entre o poder local e o Estado numa hipotética fase pós-regionalização, quais os graus de autonomia das diferentes regiões, entre outros temas.

O repto foi lançado e os oradores aceitaram. Um deles foi Garcia Pereira. Embora tenha considerado "pouco habitual" um dirigente do PCTP/MRPP participar num debate organizado pela Juventude Popular, no outro lado do quadrante político e ideológico, Garcia Pereira achou "um sinal dos tempos" e "saudável para a democracia" a participação no evento. No entanto, e à semelhança de outros assuntos como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, Garcia Pereira considerou que o debate sobre a regionalização por parte do Governo serve apenas para "retirar atenção de outros assuntos", como é o caso do défice excessivo e o do desemprego.

Garcia Pereira assumiu que é "abertamente contra a regionalização" num "país à beira da inviabilização". E já que estava no norte, aproveitou também para falar na "traição nacional" que é "desprezar o papel do Porto no quadro da União Europeia". Em vez da regionalização, Garcia Pereira defendeu uma boa rede de transporte ferroviário de mercadorias, que possa "unir todos os portos" do país e ligar o porto de Sines, "o único de águas profundas da Europa", aos restantes países do espaço europeu. Alertou ainda para a discussão urgente de um plano económico-social para sair da actual conjectura do país.

O administrador do TECMAIA, António Tavares, começou por lembrar que "o país já está dividido em duas regiões: Lisboa e o resto" e lembrou que Portugal é "o segundo país mais centralizado dos membros da OCDE". Neste mapa imaginário mas de contornos reais, "o Norte é a região que sai mais prejudicada" por ser "mais vulnerável" à entrada de capital e bens estrangeiros. Num discurso a versar nos problemas da região norte do país, António Tavares fez notar que "o Norte é mais populoso que alguns países europeus" e tem potencial para crescer economicamente. Deu o "bom exemplo" da região autónoma da Galiza como um modelo a seguir e considerou que o Norte "tem massa crítica suficiente" para vingar.

O recém-eleito deputado da Assembleia da República pelo CDS/PP, João Almeida, chegou uma hora atrasado ao debate mas ainda a tempo de dizer que "o debate sério sobre a regionalização deve ser feito a seguir às eleições presidenciais". O deputado eleito pelos centristas começou por lembrar que já foi "mandatário contra a regionalização" no primeiro referendo sobre o tema.

O discurso de João Almeida incidiu na organização de poderes autárquicos e considerou que o mapa de freguesias está mal distribuído, com algumas "de população superior a alguns concelhos do distrito do Porto". Dentro das grandes urbes, a distribuição também está errada, no entender do deputado. "Há concelhos no interior do país com dezenas de freguesias e isso dificulta o seu funcionamento". Por isso, considerou João Almeida, "antes de debater a regionalização é preciso discutir toda a organização geográfica" do país.

|Primeira Mão|

Comentários

ravara disse…
Porque razão se coloca hoje, no nosso país a questão da regionalização? Porque ontem como hoje, a questão sociológica não existiu, para cumprir a sua missão, para evitar o que é hoje a nossa realidade, bem diferente da europeia; ontem foi a ditadura do estado novo, hoje é a ditadura de quem?
Então porque razão a questão sociológica foi uma realidade na Europa? Para fazer face aos conflitos de interesses, colocados pela emergência da Revolução Industrial. Em França foi Comte um dos que mais trabalhou na elaboração de teorias que garantiam os direitos e os valores nacionais; com políticas socialmente justas integradoras e não diferenciadoras e discriminatórias, por isso aceites pela maioria da população Mas cada país tem a sua especificidade, em Inglaterra foi Spencer o teórico e na Alemanha Karl Marx, vejam lá há quantos anos isso não foi, até o muro já caiu.
É um docomento destes para o sec.XXI e para um país Portugal, que alguém mais sociólogo que político, deve lançar à discussão.
Paulo Rocha disse…
Sim ... porque razão se coloca hoje, no nosso país, a questão da regionalização?

Certamente, porque há, cada vez mais, gente descontente com o actual modelo centralista de gestão do território