NO INÍCIO do ano que agora termina, publiquei uma reflexão na qual considerei que no debate sobre a regionalização deveriam ser dadas garantias de que por um lado o modelo a implementar não poderia implicar o aumento de custos de funcionamento da Administração Pública e por outro lado o modelo das cinco regiões (que está em cima da mesa) deveria garantir como objectivo essencial a homogeneidade de cada uma das regiões (nomeadamente entre litoral e interior).
Foi esta a premissa da minha intervenção nas Jornadas Parlamentares do PS que nos passados dias 15 e 16 decorreram em Beja sob o tema, Desenvolvimento Regional, Competitividade e Sustentabilidade.
Sem dúvida que nunca, como nos últimos 35 anos do Portugal democrático, tanto se investiu no interior de Portugal, quer nas infra-estruturas viárias ou ferroviárias, quer na cultura, na educação, nas redes de abastecimento de água, no saneamento, ou mesmo no lazer e qualidade de vida das pessoas.
Todavia não deixa de ser verdade que longe de se ter conseguido inverter a perda de população, iniciada nos anos 50 do século passado, em quase todos os concelhos do interior se continua a perder população e riqueza.
Não deixa igualmente de ser verdade que nos últimos anos muitas cidades do interior se afirmaram no cenário nacional pelas suas universidades, politécnicos e mesmo pela afirmação de fileiras tecnológicas e industriais.
Este caminho não só não é suficiente como é incapaz de suster a desertificação do interior e a prova disso é que em Portugal, se concentraram no litoral, e numa faixa de território entre Braga e Setúbal cerca de 80% da população e da riqueza do país e, em Lisboa quase toda a capacidade de decisão.
Durante décadas, os sucessivos dirigentes políticos, quer da ditadura quer da democracia e de todos os partidos não utilizaram qualquer estratégia vencedora e consensual que impedisse este movimento contribuindo para a realidade em que quase todas as vilas e aldeias do interior estão, e se nada se fizer, condenadas a desaparecer.
Não entendo, ao contrário de muitos, que a regionalização seja o remédio milagroso para o problema: perdeu-se muito tempo, perdeu-se muita gente e acima de tudo o país perdeu uma grande oportunidade de crescer de uma forma sustentada: grandes cidades como Lisboa e Porto também não são nenhum exemplo pela forma como cresceram desordenadamente.
Num período de crise mundial, em que ninguém será capaz de prever qual será a configuração da economia mundial para os próximos anos ninguém duvide de que Portugal precisará de regiões fortes e equilibradas. A economia pede-o e a democracia exige-o.
Numa Assembleia da República, onde agora a discussão e o debate político estão reforçados espero uma legislatura capaz de trazer o interesse do interior e das regiões mais desfavorecidas à agenda política. Espero que com responsabilidade e sem os habituais populismos de quem apenas age pensando no imediato.
Jorge Seguro Sanches, deputado do PS (eleito pelo círculo de Castelo Branco)
Comentários
O Alentejo, qualquer que seja o mapa, sejam 5 ou 7 regiões, sairá sempre beneficiado. Mas que não se ponham agora os Alentejanos a querer que se utilize um critério a norte do Tejo e outro a sul do Tejo.
Essa discussão tem a ver com a nossa realidade, e, infelizmente, penso que só quem conhece a realidade de Trás-os-Montes e na Beira Interior sabe qual o peso da interioridade. O resto do país, "assobia para o lado", não é nada com eles.
E que em consequência não nos esforçamos,o que nos leva a estar onde estamos? E os que nos (des)governam,não são também portugueses? Tenho muita dificuldade em descobrir razões que me façam orgulhar de ser português. Cumprimentos para si e para o seu Alentejo,onde vivi uns anos agradaveis.
Porque razão existe em Campo Maior a maior torrefacção de cafe’ da Europa?
Será que e’ a regionalização o problema ?Ou o atraso do interior tem que ver com a falta de empreendedores no mesmo interior?
Antes de mais, obrigado por seguir o nosso blogue.
Campo Maior é um verdadeiro "oásis" no Interior, em termos de empreendedorismo. Basta ver que é das poucas, senão única, vila que cresce a olhos vistos em todo o Interior, fruto da inteligência de um grande empresário que é o Comendador Nabeiro.
É certo que no Interior falta empreendedorismo (embora ele exista, como demonstra a existência de algumas empresas de renome nacional, como a Farinha Branca de Neve em Alcains, a Danone em Castelo Branco, a Gelgurte/Yoplait na Guarda, etc.), mas isso acontece porque, ao longo de décadas as pessoas com mais capacidades da Beira Interior foram "empurradas" para o Litoral. Esta situação toca-me particularmente, porque aconteceu na minha família que teve de migrar de Vilar Formoso para o Porto (onde acabaram por ficar) para que os filhos pudessem ter, hoje, habilitações superiores. Esta injustiça, motivada pela concentração do poder no Litoral, a par da enorme emigração por motivos económicos, arrasou com a Beira Interior, Trás-os-Montes e Alentejo, que hoje têm de se regenerar. E tal só será possível se forem dados ao interior recursos e poder efectivo que permita, em primeiro lugar, impedir que a pouca população jovem que resta migre para o Litoral ou para o estrangeiro; e numa fase posterior tentar atrair população e investimento, fazendo as apostas certas e melhorando as infra-estruturas.
De outra maneira, no Interior, não há empreendedorismo que aguente. É que daqui a pouco, nem operários há para trabalhar nas fábricas, e os custos da Interioridade são tão grandes que, em alguns casos, fazem subir os custos de produção. Para além disso, falta promoção das regiões do Interior perante os empresários, e incentivos à fixação das empresas e das pessoas. E isso só será possível com a Regionalização.
Cumprimentos,