UM INTERIOR DESERTIFICADO

UM INTERIOR DESERTIFICADO: Solidão – a doença dos novos tempos

Portugal atravessa um grave problema, de entre muitos, que se prende com a desertificação das áreas interiores.

Na verdade, bastaram poucas décadas para se assistir à transformação de um território que era, de facto, essencialmente rural. Recuando ao período antecedente aos anos sessenta, observamos um país constituído por um número razoável de regiões, cada uma com as suas próprias características, de onde surge um ajustamento do Homem ao seu meio.

A população rural tem como modo de vida uma “pura subsistência”, o trabalho familiar é levado ao limite e o consumo, o mais restrito possível. Contudo, após este período, muitas destas regiões deixam de ser capazes de assegurar as necessidades económicas das populações.

Surge então o designado “Êxodo Rural”, movimento dos indivíduos das zonas interiores do país em direcção a regiões mais ricas ou com uma dotação de capacidade de emprego maior, procurando assim melhores condições de vida.

O que originou este fluxo?

Muitos são os sinais visíveis. Mas se calhar, o mais evidente, será o envelhecimento da população. Se fizermos uma pequena viagem às zonas interiores de Portugal, o que podemos ver são aldeias transformadas em “centros de dia para idosos”, não há jovens nem crianças. Mas este envelhecimento estende-se também a outras áreas que não o ser humano.

As casas, os caminhos estão degradados, os campos, deixados ao abandono, voltam ao seu estado natural, as florestas crescem e os incêndios invadem os territórios porque não há quem os detenha.

Desapareceu a imagem do Homem nestes espaços, não há contacto entre gerações mais novas e mais velhas, vive só a recordação de um passado e a solidão de um presente.

Voltando-nos para o outro lado, para as áreas de chegada, vemos uma grande concentração da população nas cidades do litoral, com uma área metropolitana de Lisboa “hiper-povoada, hiper-cimentada, hiper-motorizada”, com uma baixa qualidade de vida ligada à grande poluição atmosférica.

Naturalmente, “os indivíduos situam-se onde existe emprego e melhores condições de vida. O emprego está onde residem as empresas, elas fixam-se onde as infra-estruturas são melhores, onde há mais desenvolvimento…”.

É por isso impossível, isoladamente os municípios lutarem contra este grave fenómeno, é necessária intervenção estatal a nível central.

Intervenção essa que pelos vistos e infelizmente não tem resultado. Uma das medidas recentes que se concretizou, foi a redução de IRC para empresas que se estabeleçam nestas regiões interiores. Mas será isto suficiente? Não. É importante os governos elaborarem planos territoriais mais arrojados, onde se consigam resultados mais visíveis que resolvam o problema destas populações.

Contudo, não sou de todo contra certas medidas que o Governo de Sócrates tomou na legislatura anterior. A existência de escolas e unidades de saúde que não garantam um mínimo de procura, é de todo ineficiente do ponto de vista económico, e qualquer pessoa com mínimos conhecimentos de economia deve perceber isso. Mas sei também que a par da eficiência não anda muitas vezes a equidade.

E a pergunta “será esta medida justa?” paira constantemente nas nossas cabeças. No entanto, sou contra as pessoas que só sabem criticar e não tentam perceber o porquê de determinada política. Penso que este passo tinha de ser dado, era uma ineficiência visível, tinha de ser ultrapassada. Mas, a verdade é que muitas outras medidas têm de ser tomadas, e há bons exemplos de vários países europeus que conseguiram diminuir este problema.

Como comentou o nosso presidente, “enquanto não surgirem empresas no interior do país, enquanto não surgirem investimentos, será muito difícil reter os jovens e criar empregos”. É necessário um planeamento estratégico adequado para este tipo de municípios, porque é certo que é impossível termos universidades, hospitais, centros comerciais em todos os sítios de Portugal, a questão passa por criar nesses locais uma estratégia de acessibilidade eficiente e uma capacidade de diferenciação. O turismo é uma boa aposta.

Concluo a minha opinião deixando em aberto a questão da SOLIDÃO que é sentida pela população interior. Algures num blogue, encontrei um pensamento muito pertinente. O autor dizia que, chegados ao Natal, e envolvidos num clima de grande solidariedade, porquê não voltarmos o nosso olhar para estas pessoas? Pessoas essas a quem assusta mais viver do que morrer.

Sónia Esteves
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular Desenvolvimento e Competitividade do Território, do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas, da EEG/UMinho)

|J. Cadima Ribeiro|

Comentários

ravara disse…
Aqui está um excelente trabalho a fazer prova de que temos bons professores e bons alunos, Parabéns a todos!

Mas essa do senhor presidente ficou-me atravessada, é que esse senhor no tempo das vacas gordas tinha obrigação de antecipar medidas, em particular no mundo rural, que permitissem ao país enfrentar agora esta crise sem dramatismos, isso sim; era e é do interesse estratégico nacional. Mas não, nessa altura o senhor armou-se em déspota iluminado, criou o monstro, e o ridículo é que ainda pensa que ilumina alguma coisa.
Anónimo disse…
Caros Regionalsitas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Já respondedi noo "post" seguinte a este.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Rui Correia disse…
Certamente que com internet banda larga e' possivel atrair para o interior uma grande variedade de profissionais que trabalham a partir de casa?

E porque nao promover as aldeias desertas so interior como estancias de ferias para turistas?

Rui, Africa do Sul
Rui Correia disse…
Certamente que com internet banda larga e' possivel atrair para o interior uma grande variedade de profissionais que trabalham a partir de casa?

E porque nao promover as aldeias desertas so interior como estancias de ferias para turistas?

Rui, Africa do Sul