Centralismo aproxima a Beira Interior de Espanha

Para a Beira, a ligação entre Castelo Branco e Espanha é algo de muito importante.

A Beira é uma das zonas menos povoadas do interior, e esta estrada vai facilitar a permanência e fixação de nova população. Esta era a continuação para o texto anterior! Mas eis que a pretexto de razões económicas, a construção desta ligação parece cancelada - (Opções do OE 2011). Não há dinheiro para ligar Castelo Branco á Espanha! Cada vez que vou às Termas de Monfortinho e as vejo utilizadas pelos nossos vizinhos penso:”Óptimo, os espanhóis já cá estão a chegar, agora faltam os portugueses”.

Cada vez que indico as Termas de Monfortinho a quem me pede umas boas Termas, ou indico Monsanto para quem quer um bom passeio, perguntam-me;”Como ir até lá?” e a minha informação é sempre a mesma…-“até Castelo Branco é fácil, a partir daí são menos de 100 Km (caso de Monfortinho), mas muitas curvas e pelo menos mais uma hora de viagem”. E as pessoas não vão!

E depois digo: “ Mas vai haver uma boa estrada “, e as pessoas ficam interessadas. Essa é a realidade dos tempos que correm. Uma boa estrada que nos ligue a Espanha é algo mais importante que o TGV. Uma ligação Castelo Branco - Cáceres é fundamental para a população da Beira! O que é necessário para já, é fazer boas ligações locais, que vão permitir o início e o desenvolvimento do comércio local. Como desenvolver a Beira, o seu turismo e a sua agricultura se essa ligação não for realizada? Que vão fazer as gentes da Beira? Para onde escoar os seus produtos? Para Lisboa? E depois de TGV para a Espanha? Ridículo!

O transporte rápido (TGV), para escoar da capital os produtos do interior parece-me um contra-senso. Não tem o mínimo de interesse para os portugueses. (Façam um Referendo e vejam!)

Desde sempre, (mesmo em termos Nacionais), a ligação preferencial a Espanha seria através da Beira, via Cáceres. A ligação inicialmente chamada IP5 (Estrada da Morte), foi, e ainda é, péssima do ponto de vista rodoviário. Para não referir os custos em vidas ou os económicos, causados pele necessidade de “melhorar” o traçado. Só quem nunca transitou naquela via num dia de Inverno a pode defender.

Uma ligação a Espanha via Beira sempre foi a mais natural e segura. No entanto sempre foi “afastada” em virtude do poderio económico de outras regiões.

A questão é semelhante ao que se passou entre a OTA e Alcochete! Escolher entre o mau e caro, ou o bom e muito mais barato. Só os interesses económicos fazem pender a balança para escolher o mau e evidentemente o mais caro. Escolher o que vai precisar de melhoramentos constantes! Gastos constantes. Mais uma vez, a ligação a Espanha via Castelo Branco está a ser impedida. Sim, impedida é a palavra, pois até do lado de Espanha a querem. Estão a fazer a respectiva ligação até à nossa Fronteira. Não será de admirar que a Beira fique a consumir produtos vindos de Espanha. A facilitar investimento a empresários de Espanha. Vendo a riqueza produzida abalar via fronteira.

Quem chega para investir, vindo de fora, tem dificuldade em entender que o importante são as pessoas. Os que cá vivem. No fundo é isso que se está a preparar, no fundo é esse o interesse dos investidores. A população da Beira, em dificuldades, e dependente, facilmente será explorada. Que os estrangeiros sejam assim, até se entende, mas os portugueses? Os nossos compatriotas? Os nossos governantes? O principal são as pessoas! Não só as que trabalham, mas também as que mandam, e estas têm que se revelar corajosas. Perante as dificuldades defender quem os elege.

Esta estrada é fundamental para o desenvolvimento da Beira Baixa. A sua construção tem que ser defendida a todo o custo. O que é que esta ligação Castelo Branco - Cáceres tem a ver com a história de Medelim? Tudo! Se os governantes não proporcionarem condições às pessoas, elas deixam a Beira. Medelim e outras aldeias vão simplesmente desaparecer, pois deixam de ter o que é mais importante. As pessoas.


João Caldeira

«Crónicas de Medelim»

Jornal Reconquista (Castelo Branco, Beira Interior), 11/02/2010


Comentário: Face aos que defendem que a regionalização prejudica a unidade nacional, a melhor resposta são os factos. E os factos estão aqui bem vincados, neste exemplo perfeito daquilo que acontece tantas vezes em Portugal. As populações do concelho de Idanha-a-Nova, onde se incluem pólos de atracção nacionais de inquestionável valor como as Termas de Monfortinho e Monsanto, a aldeia mais portuguesa de Portugal, vão ficar com melhores acessos a Cáceres, Plasencia e Madrid do que a Castelo Branco, Guarda e Lisboa. Vão ter uma auto-estrada desde a fronteira portuguesa até Madrid, inteiramente gratuita; enquanto para o litoral português apenas têm um caminho onde pontuam estradas nacionais antiquadas e auto-estradas com portagem.

Alguém se admira se o pólo de atracção para estas populações passar a estar do lado de lá da fronteira? Face à incapacidade de reivindicação e acção das regiões portuguesas, aqui concretamente da Beira Interior, e ao sentir-se ignoradas pelo seu próprio país, as pessoas não hesitarão em passar a relacionar-se mais com Espanha, seja migrando para lá, seja trabalhando lá, seja viajando mais para lá, o que implica que mais portugueses gastem o seu dinheiro além-fronteiras, quando o podiam gastar em Portugal, no seu país, na sua região, se esta fosse suficientemente forte e atractiva.

Cada vez mais confirmamos o que a Geografia há muito prevê: com a crescente concentração da população portuguesa nas áreas metropolitanas do Porto e, principalmente, de Lisboa, o interior tem cada vez menos força, pouco ou nenhum poder político e capacidade reivindicativa. O que faz com que, cada vez mais, o desenvolvimento venha do outro lado da raia.

É o centralismo a contribuir para a perda de influência de Portugal em boa parte do seu território.


Afonso Miguel

Comentários

Anónimo disse…
Gallaecia, centralismo e desporto
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Este "artigo" do blogue Reflexão Portista merecia destaque neste blogue ???
Andre Correia disse…
"A Beira é uma das zonas menos povoadas do interior"
Suponho que essa zona de que fala seja a região da Beira Interior (Beira Alta + Beira Beixa) que é a região mais povoada do interior.