Finanças Regionais e Regionalização

|Semanário Grande Porto - EDITORIAL|
 Fev, 5



MANUEL QUEIROZ



Com a Bolsa a despenhar-se, o desemprego a agravar-se e o país descrente, a ameaça de uma crise governativa começa a a criar problemas enormes ao país que trabalha e quer trabalhar.

As declarações de Joaquin Almunia, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários, fizeram com que os problemas gregos contaminassem Portugal e Espanha - e se o comissário quis voltar atrás, já nada havia a fazer. A verdade é que a contaminação estava feita - o comissário do euro parecia mais o comissário do dólar, ou do yen, porque a moeda europeia não ganha grande coisa disto tudo. Pelo contrário, só perde. Mesmo que os problemas gregos fossem parecidos com os de Portugal e de Espanha - e apesar de tudo são bastante diferentes - o comissário deveria ter mais cuidado.

Amigos destes o Governo português bem os pode dispensar e o próprio presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, também. Já tinham ambos problemas que chegassem.

Esta crise que se anuncia tem por base a Lei das Finanças Regionais.Que vem do Parlamento madeirense, com os votos a favor de toda a gente, exceptuando o Bloco, mas este quer aprovar a lei no Parlamento nacional...

Para quem defende a Regionalização, este extremar de posições é interessante para análise, Por um lado, no actual estado de coisas quando a esse processo, esta ameaça de crise talvez assuste as pessoas, como é um pouco a opinião de Francisco Assis no “Diferenças” desta semana, que o juntou com Aguiar-Branco num clima, aliás, de grande harmonia.

Mas a verdade é que se pode ler isto tudo de outra maneira. É que ninguém perguntou à Câmara do Porto, ou à de Penafiel se queriam o PIDDAC que fizeram (e para Penafiel foram zero euros...). Com a Madeira e os Açores, como se vê, não é bem assim. Porque têm um estatuto regional que os defende. Porque têm deputados que são oficialmente da Nação mas que não têm pejo em vestir a sua camisola e defender a sua região.

O nosso Estado precisa de mudar - e não é só em número de funcionários. Precisa de conviver melhor com as aspirações de todas as suas componentes, como por exemplo as Assembleias Regionais.

O chefe de Estado queixou-se do Estatuto dos Açores? Pois é, precisamos todos de aprender a viver de outra forma. O dinheiro para a Madeira é demasiado? Se calhar. Mas também o é para muitas outras coisas no Continente. E no fundo, mesmo não gostando de Alberto João Jardim, todos lhe reconhecemos, no fim do dia, a sagacidade para conseguir do Estado central o que mais ninguém consegue.

Todos queremos um só País, porque somos uma só Nação. Mas este PIDDAC, as lutas pelas Finanças Regionais, os estádios do Benfica com dinheiro da Câmara disfarçado, o TGV que só vai para o lado como dantes a A1 só ia até ao Carregado, e tudo o resto mostram que só conquistando poder se detém armas para defrontar a macrocefalia centralista.

Nunca como hoje isso é claro e evidente. Nunca como hoje Portugal precisa de definir um novo rumo para o seu desenvolvimento. E não é com este regime.

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O nosso País deve ser dos únicos que não tem condescendência para quem atrapalhe o trabalho e de quem quer trabalhar e com muita razão.
Só que, por cá, procura trabalhar-se muito, muitas horas, onde alguns procuram convencer que, ao trabalharem mais de 12 horas por dia, entendem que todos os outros também o devem fazer porque trabalhar muito é a melhor solução para resolver os problemas que enfrentamos estruturalmente.
Mas se aparece alguém que afirme que em vez de se trabalhar muito se deve trabalhar bem e cada vez melhor, às vezes aparece alguém aflito como se tivesse sido atingido por tiro perdido a acertar anonimamente no alvo. É bom que não apareça o aparelho do Estado a atrapalhar, tornando-se mais eficaz e eficiente e menos autoritário e arrogante no comportamento dos seus operadores como se estivessem investidos de poderes de soberania, mas também, do outro lado, deveria aparecer alguém que esclarecesse e praticasse que muito mais importante que trabalhar muito é trabalhar muito bem e cada vez melhor, até para ver se os departamentos do Estado passam a ser menos arrogantes nos seus comportamentos, mais colaborantes, deixem de manifestar desconfiança crónica relativamente a tudo o que os utentes lhes dizem e escrevem e tomem um rumo qualitativamente diferente ao colocarem-se diligentemente ao serviço dos cidadãos que lhes pagam os ordenados que nunca falharam ao final do mês, ao contrário de tantas e tantas organizações que não não têm essa certeza, muitas vezes também por culpa própria.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)