Sob a égide da prosperidade, primeiro do país, depois da região, a Beira Interior iletrada e pobre ruminava, há dez anos, rumo à modernidade. O INTERIOR nascia enquanto a região vivia o primeiro tempo de um novo tempo. Com a mudança de século e de milénio irrompeu a metamorfose de encerrar definitivamente este desassossego de arcaísmos e atraso em que sempre vivemos. Já não eram só palavras, brotaram ideias, rabiscaram-se projectos, actos interventivos que mudaram a paisagem do nosso dia-a-dia. Tudo mudou, mesmo que não tenhamos visto o quanto tudo está diferente.
As auto-estradas aproximaram o que estava longe, trouxeram e levaram. O optimismo forjou uma fé inabalável no potencial da região; o património de afectos e a sentimentalidade catapultaram-nos para uma crença desconhecida: a auto-estima, porque a nossa região tem futuro! O desenvolvimento da Universidade da Beira Interior, e em especial o curso de Medicina, deram e dão projecção e optimismo ímpar, mas também ciência, tecnologia e educação; também o IPG amadureceu e promove a formação e o desenvolvimento; o TMG-Teatro Municipal da Guarda consubstancia a modernidade e urbanismo da Guarda e região, cria, promove e desenvolve culturalmente; a Moagem é o espelho de um novo tempo no Fundão; o Parkurbis viabiliza a ideia de que se pode criar desenvolvimento económico na região (mesmo quando a PLIE se assume como o oposto ao optimismo e não passa de um contratempo neste tempo…); a harmonia que se descobre num Belmonte impregnado de cultura, de história e actividade museológica, de passado, presente e futuro…
Foi curto este tempo. A década conclui-se com “uma lágrima no canto do olho” e a sensação de que tudo está por fazer, mesmo quando sabemos que tanto foi feito. A auto-estima esfumou-se e só o discurso obtuso de alguns a recorda. O atraso social, económico e cultural não se pode vencer numa geração ou numa década. É por isso que todos os projectos que lançaram a região para um novo tempo são essenciais para consolidar este tempo e consolidar os projectos de futuro. Agora que partir volta a ser a única forma de acreditar, e de pensar o amanhã, é preciso quem invente novas ideias e projectos, que concretizem as ambições de prosperidade das nossas terras ostracizadas e abandonadas, que implementem as propostas de desenvolvimento que nos permitam sonhar com um futuro aqui. Para nós e para os nossos filhos.
Luís Baptista-Martins
Jornal O Interior (Guarda, Beira Interior), 11/03/2010
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