Empresas do Norte

Metade das firmas desaparece
Empresas do Norte morrem primeiro e são mais dinâmicas

A Região Norte cria mais empresas, mas também as vê morrer em maior número e, sobretudo, mais depressa: mais de metade desaparece ao fim de cinco ou seis anos, contra seis ou sete no resto do país. A mortalidade atinge mais a indústria e a construção com poucos trabalhadores.

Os últimos preparativos para o transporte das bandas que vão actuar no Rock in Rio (Lisboa e Madrid), deixa pouco tempo a Ana Caeiro para contar a sua história. Ao contrário de mais de metade das empresas da região Norte, que morrem quando completam cinco ou seis anos, a Drive4You já conta com sete e o negócio continua a crescer.

Mas o limite de esperança média de vida constatado pelas professoras universitárias Alcina Nunes (Politécnico de Bragança) e Elsa Sarmento (Universidade de Aveiro) quase se tornaram realidade, no caso da empresa de transporte. "2007 foi o ano mais difícil, já se sentia alguma crise", disse Ana Caeiro. A necessidade aguçou a criatividade da empresária, que alargou a actividade a outras áreas, como a organização de eventos ou a gestão de marcas. \"Correu tão bem que recentemente criámos uma nova empresa, a The Street, só para essa área\".

A Drive4You é a excepção à regra, na região Norte. As duas professoras universitárias publicaram recentemente mais um estudo sobre a dinâmica empresarial no país, neste caso sobre a sobrevivência das empresas no Norte.

Usando um método que permitirá comparações com outros países, concluíram que um terço das empresas da região morre ao final de três anos de vida; e que, \"no quinto e sexto ano, já mais de metade desapareceu\", adiantou Alcina Nunes. Ao final de 18 anos, só um quinto das firmas continua em funcionamento. Quanto a sectores de actividade, as mais afectadas são \"as empresas da indústria e da construção\", disse.

Mas dinamismo é maior

Apesar de a esperança média de vida das empresas da região ser menor do que no resto do país, o trabalho conclui que o dinamismo dos empresários do Norte é superior. A região "apresenta a maior taxa de crescimento do número de empresas activas entre 2000 e 2007", lê-se no estudo.

Mas também responde pela maioria dos encerramentos, dando origem ao que o estudo classifica de "maior turbulência na dinâmica empresarial". No global, o Norte responde por mais de um terço (35%) das empresas do país.

Concorrência e falta de suportes

O estudo não se debruça sobre as causas da mortalidade precoce das empresas nortenhas, mas António Marques, presidente da AIMinho, realça duas razões que, na sua opinião, a explicam.

Em primeiro lugar, disse, "é a Norte que se encontra o maior número de empresas expostas à concorrência internacional", em concreto empresas industriais, que exportam os seus produtos e que, por isso, têm que concorrer com os preços praticados por outras firmas de outros pontos do Mundo, nomeadamente do Extremo Oriente. Em concreto, refere-se às indústrias tradicionais do têxtil e confecção e calçado, mas também à metalomecânica - as tais empresas industriais mais sujeitas a desaparecer precocemente, como apontado no estudo.

Além disso, "faltam na região investimentos estruturantes em áreas protegidas que sirvam de alavanca a micro e pequenas empresas. É o acontece em torno da Grande Lisboa, como a PT, EDP, Galp ou o Tagus Park", disse.

Alexandra Figueira in JN, 2010-03-08

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