Regionalizar é precisíssimo

FERNANDO DOS SANTOS NEVES - Presidente da Universidade Lusófona do Porto
|Grande Porto|

Prestem atenção porque muitas das decisivas lusas revoluções foi por estes sítios que começaram...

É sabido como o “Grupo Lusófona” (grupo de ensino superior, por sinal o maior e, dizem as “boas línguas”, também o melhor de ensino superior privado português) se empenhou na campanha a favor da “Regionalização em Portugal”, aquando do malfadado “Referendo de 1998” (que o Engº Valente de Oliveira designaria muito justamente de “embuste”…), organizando congressos, publicando, nas Edições Universitárias Lusófonas, um livrinho-manifesto intitulado “Contra Leviatão, 11 Teses contra o Estado Centralista…”, etc. etc.

E nunca, no âmbito do “Grupo Lusófona”, tivemos problemas “teóricos” para compatibilizar a unidade do grupo global com a diversidade e a autonomia das diversas unidades locais… Ou seja, teórica e praticamente, temos sabido conciliar e até rentabilizar a “globalização” e a “localização” e se, no caso e ao contrário de vários outros casos, não fomos nós que inventámos a nova palavra, há muito que, quotidianamente, praticamos a realidade da “Glocalização”…

Às vezes até me pergunto se o facto de o meu localíssimo e datadíssimo primeiro livro (Luanda, 1968) ter sido sobre o “Ecumenismo Universal” (que alguns in illo tempore tresleram para “Universal Comunismo”…) me curou definitivamente de toda a espécie de regionalismo provinciano …

Nos últimos tempos, como dizia o poeta (mais precisamente, a poetisa do Porto Sophia de Melo Breyner), “Vemos, ouvimos e lemos, Não podemos ignorar…” tudo o que se tem dito e escrito e vociferado por estas bandas sobre a “Regionalização” e principalmente sobre a falta dela, a ponto de até os maiores adversários se terem convertido nos seus mais acérrimos defensores….

O caso maximamente paradigmático é o do atual Presidente da Câmara do Porto, dr. Rui Rio, que, como diria o Cícero de “Oh Tempora! Oh! Mores”, nesse aspeto, não fala agora menos violentamente nem menos virulentamente que Pinto da Costa e a instituição desportiva que, nos últimos 20-30 anos, simbolizou vitoriosamente a luta anti-leviatânica contra todos os centralismos lisboetas, à imagem do FC Barcelona na Catalunha e do seu emblemático slogan, evidentemente em catalão: “Muito mais que um clube de futebol!”

E quem não se terá surpreendido com os gritos de revolta anti-centralista de personalidades como o dr.Rui Moreira, presidente da prestigiada Associação Comercial do Porto, que fala, chamando a atenção para o sentido próprio das palavras, da necessidade já não da mera “regionalização administrativa” mas sim da “regionalização política” ou como o dr. Joaquim Jorge, o pacífico criador do famigerado “Clube dos Pensadores” e, aliás, ilustre membro do “Conselho Geral Estratégico da ULP” que, há dias (12 de Março de 2010), terminava azedo artigo num jornal da cidade com estas palavras incendiárias “…Só nos resta pedir a independência. Já!”

(E também podia recordar os badaladíssimos comentários do igualmente ilustre aluno da ULP e atual presidente da Associação dos Comerciantes do Porto, Nuno Camilo, aquando da sequestração, em Lisboa, dos aviões da “Red Bull Race”... “Caveant Consules!” Prestem atenção os responsáveis, porque, aparentemente, quero dizer, historicamente, muitas das decisivas lusas revoluções (liberalismo, republicanismo, anti-salazarismo, etc.) é por estes sítios que começaram a germinar…

Mas, dir-me-ão, que tem a ver tudo isto com a Universidade Lusófona do Porto e a celebração do seu dia de festa anual?
Eu responderei com outra pergunta: que rezam os seus Estatutos (...)?
Embora não seja nada politico-economicamente correto falar dos modernos gregos nas presentes circunstâncias, poder-se-á continuar a falar dos gregos clássicos e, concretamente, do super-clássico filósofo Aristóteles, para relembrar que os “objetivos” da contemporânea linguagem são aquilo que Aristóteles, na sua teoria das quatro causas explicativas da realidade (e, segundo parece, a ciência continua a ser a explicação das coisas pelas causas…) designava de “causa final” (além das causas eficiente, material e formal) e que essa causa final, sendo embora a última na ordem da realização, era necessariamente a primeira na ordem da intenção…

Ora, que dizem os “Estatutos da ULP” sobre os seus objetivos ou a sua causa final? “A ULP tem como objetivos o ensino, a investigação e a prestação de serviços nos vários domínios da cultura, da arte, da ciência e da tecnologia, numa perspetiva interdisciplinar, em ordem ao desenvolvimento dos países e povos lusófonos, designadamente, no âmbito da Eurorregião do Noroeste Peninsular.”

(...) Já entenderam que, à imagem e na dinâmica das palavras de Fernando Pessoa que constituem o lema da ULP (“Minha Pátria é a Língua Portuguesa”), poderíamos igualmente parafrasear o seu verso famoso “Navegar é Preciso” e dizer “Regionalizar é Precisíssimo!”. Aliás, com exemplos aqui tão perto e tão frutuosos… Bastará olhar para a Espanha (Galiza, Catalunha) e até … para o Portugal dos Açores e da Madeira!

A ULP, que começou em 2006/2007, devia ter começado, pelo menos, 20 anos antes e foi com essa intenção que, nessa data, oficialmente criámos no Porto (...), com o alto patrocínio do “Senhor Norte” de então, dr. Fernando Gomes, imaginem, a cooperativa “Noroeste Peninsular-Educação e Desenvolvimento”, que deveria constituir a chamada “Entidade Instituidora” da ULP! (...).

De qualquer maneira, esperamos que, em parte por nossa culpa (Oh! Félix culpa, adotando e adaptando a famosa expressão pascal), os tempos mudaram e hoje tanto a “Lusofonia” como a “Regionalização” e a “Eurorregionalização do Noroeste Peninsular” são cada vez mais incontornáveis e a ULP não quererá trair estes desígnios históricos (...)

Porque “Regionalizar é Precisíssimo”!
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Comentários

Agradeço a citação .

Artigo bem escrito e estruturado

Cumprimentos

JJ
Anónimo disse…
Estranho a combinação entre luso ... "qualquer coisa" e noroeste peninsular.

A Lusitania "não andava por aí".
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Este "post" merece ser referido com a substância devida à necessidade por demais reconhecida de descentralização política, uma vez que as soluções administrativas já não bastam para se operar uma transformação qualitativa compatível com as exigências actuais e futuras de desenvolvimento, como sempre tenho escrito neste blogue há mais de 2 anos a esta parte, em confronto permanente com outros posicionamentos incompreensivelmente mais "light" a propósito da regionalização. O "Clube dos Pensadores" tem tido iniciativas de valor intrínseco às exigências de esclarecimento político e de outra natureza necessárias para uma tomada de consciência colectiva e de acção que já começam a tardar. A advertência do Presidente da Universidade Lusófona tem a sua justificação histórica, mas de nada servirá uma revolução que não consiga, desde o seu início, assentar arraiais nos patamares de aproveitamento dos nossos recursos endógenos e diversificados (desenvolvimento, o que falta desde Abril de 1974) pelas 11 Regiões Naturais ou Históricas e sintetizadas nas futuras 7 Regiões Autónomas. Com este enquadramento, o papel de uma Universidade pode revelar-se determinante na sua intervenção cívica a favor da concretização das acções de desenvolvimento e no apontamento das melhores soluções de desenvolvimento para cada uma daquelas regiões. O "Clube dos Pensadores" também poderá dar um contributo decisivo se enveredar por uma diversidade de intervenções que não se limite a convidar quese sempre os mesmos já conhecidos e passe a promover melhor a polémica real e incisiva de forma a colocar em causa o que deve sê-lo e, neste capítulo, há situações demasiadas que, antes de serem esclarecidas, precisam de ser objectivamente confrontadas, sem necessidade de ter medo seja do que ou de quem for. Na verdade, se tais situações forem politicamente bem enquadradas na sua sistematização, não há político que lhe resista, esteja no poder ou na oposição, para seu desespero e nossa esperança. O pior que poderá acontecer é implementar a regionalização desestruturada e à pressa para satisfazer políticos de turno (que os há nas diferentes regiões e capazes de comerçarem a mandar "palpites" intencionados) apressados no exercício do poder político regional.
A solução para quem tiver medo consiste sempre em comprar um cão.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
templario disse…
Este artigo parece um preâmbulo a um projeto de adesão de Portugal à Espanha das Nações.

Refiro-me ao texto: parece um passar de mão pelo lombo, um gritar que "ESTOU AQUI!", um artigo miserando, uma coisita de pacotilha - ainda assim iberista que se farta, contra os mouros, contra Portugal.

Contra os portugueses todos, do Porto em particular.

Ainda não se fartaram das abadas que os portuenses lhes infligiram nas últimas três eleições autárquicas no Porto.
Anónimo disse…
Caro Templário,

É desnecessário apontar suspeições ou intenções a entidades que por nada necessitam de obter qualquer tipo de protagonismo, e muito menos do género saloio, em relação a questões sérias como a política de regionalização autonómica orientada para o desenvolvimento integrado e autosustentado, bem como assegurar convergência real em relação às sociedades mais evoluidas.
As justificações com base na rivalidade ou inimizade em relação a Espanha ou em relação a qualuqer outra Nação, não se identificam nem com inteligência nem com uma razoabilidade exigente e só surtem efeito e acolhimento em mentalidades pouco esclarecidas, recuadas no tempo ou com intenções que apenas teimam em andar sempre para trás. A este propósito, é de evidenciar e de louvar não estar agora acompanhado do seu acólito mal formado e mal educado, cuja antena parabólica está com exactidão sempre virada para as coordenadas que localizam o que de pior caracteriza a convivência social, o posicionamento cívico e a acção política.
Por outro lado, com os exemplos do que se tem escrito por aqui, já era tempo de abandonar critérios classificativos há muito desusados e de enveredar por eleger os atributos que melhor o podem definir e o façam entrar numa linha de modernidade com elegância e esperança justificada numa sociedade melhor do ponto de vista qualitativo. E será assim, para podermos merecer a nossa permanência numa sociedade que teima em manter-se obscura e identificada com o facilitismo de baixo coturno, como atestam as diferentes realidades que comummente vão sendo assinaladas na comunicação social, apesar da preferência desta por sangue, suor e lágrimas exigir algum desconto permanente ao conteúdo noticioso.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Nuno Camilo disse…
Magnifico Reitor,


Agradeço as suas gentis palavras, mas o grito de indignação começa a ser tão forte quanto o centralismo na capital.
templario disse…
Caro pró-7RA.,

O autor do artigo em questão, escreve, referindo-se a Rui Rio:

"...não fala agora menos VIOLENTAMENTE nem menos VIRULENTAMENTE que Pinto da Costa e a instituição desportiva que, nos últimos 20-30 anos, simbolizou vitoriosamente a luta anti-leviatânica contra todos os centralismos lisboetas,"

rematando assim...,

"à imagem do FC Barcelona na Catalunha e do seu emblemático slogan, evidentemente em catalão: “Muito mais que um clube de futebol!”

Que diz o meu Caro pró-7RA. a isto?

Não imagina o que me apetecia escrever e decidi não escrever..., por respeito, essencialmente, por este blogue, que importou tão belo rasgo de inspiração patriótica..., acolitado na mais sublime Ética Republicana!...

Não lhe passará pela cabeça o que ainda me apetece escrever sobre aquele artigo, escrito pelo Presidente da Universidade Lusófona do Porto, do "Ecumenismo Universal"... Mas não escrevo! E num discurso de Saloios, como são conhecidas as pessoas com quem vivo e convivo. Mas não escrevo!

Ninguém cometeria a insensatez de me ter como acólito; da mesma maneira que não tenho bloco de registo de hipotéticos acólitos meus.

No seu caso, por exemplo, defendendo regiões autónomas, disponibiliza-se para prestar serviços à chamada Regionalização Administrativa..., como etapa para o que entende ser mais correto.

No caso do autor do Post em questão, acólito do Gang regionalista do Porto, deteta-se bem que os objetivos são outros. A citação que fiz, fala por si.

Ou é preciso ir a Coimbra para o perceber, como dizem os meus vizinhos, a que chamam saloios?...
Anónimo disse…
Caro Templário,

Respondo-lhe a isso, afirmando que não se pode tolerar a promiscuidade entre política de desenvolvimento e futebol e muito menos entre política e desporto, o qual deve constituir uma actividade da sociedade como outra qualquer, sem pergaminhos especiais quanto a questões de justiça.
Por outro lado, sei distinguir os que defendem a regionalização como política de desenvolvimento, dos que se habituaram a desaguar em qualquer curso político desde que lhes garantam o pior dos protagonismos: os chamados transumantes políticos.
Tolerar tais casos e tais protagonistas tem dado no que se conhece, em que não passamos da cêpa torta nem se abrem tão cedo novas perspectivas para deixarmos de vez a miséria social, humana, política, cultural e económica.
E procure não esquecer-se, assim como interventores neste blogue, que o Porto ou o chamado Norte não representam nenhuma finalidade regionalista, nem sequer e muito menos uma espécie de política de regionalização séria e capaz.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)