Porto - fusão das freguesias do centro histórico

Lançada petição sobre fusão no centro histórico
Objectivo é conseguir acção comum das quatro freguesias

A Associação de Bares da Zona Histórica do Porto vai lançar, esta semana, uma petição apelando à "fusão política" das quatro freguesias da zona histórica. O objectivo é sensibilizar a população e o poder político para a necessidade de uma acção comum.

António Fonseca, presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP), está consciente que vai esbarrar no bairrismo dos portuenses do casco antigo, que compreende as freguesias de Miragaia, S. Nicolau, Sé e Vitória. Todavia, entende que a petição pode levar as pessoas a consciencializarem-se que "têm muitas carências sociais em comum", designadamente equipamentos desportivos e de apoio à infância e terceira idade e condições dignas de habitação.

Para já, explicou o promotor da petição que esta semana vai ser colocada em vários locais públicos, procura-se fomentar a ideia de uma concertação de acções das juntas. Mas António Fonseca admite ser defensor da fusão administrativa das quatro freguesias, embora, numa primeira fase, fique satisfeito se todas elas - governadas por Executivos socialistas - começarem a pensar como se fossem um só território.

Para António Fonseca, acabam por sê-lo, na prática: "Os turistas que visitam o Porto não sabem se estão em Miragaia ou em S. Nicolau, eles estão no centro histórico do Porto". O problema, salienta, é que, pelo andar da desertificação, os turistas poderão ser mais do que os moradores. "Se isto for uma aldeia turística, perde a identidade. E isso é mais grave do que qualquer bairrismo", sustenta António Fonseca.

Ideia não é nova

A ideia da fusão não é nova. Há quatro anos, quando se debatia a lei da reorganização administrativa (que nunca avançou), o então ministro da Administração Interna - e actual presidente da Câmara de Lisboa - António Costa, chegou a falar no assunto a Rui Rio, que demonstrou ser favorável a um processo que poderia conferir "maior eficácia" às freguesias.

O presidente da ABZHP dá como exemplo os equipamentos desportivos e os parques infantis. "É mais fácil fazer um que seja para todos do que quatro, um em cada freguesia", refere. Além da criação de equipamentos deste género, a petição sugere a reabilitação urbana como uma das prioridades dessa desejada "fusão política". E ainda a criação de condições de habitação - como a instalação de gás natural e uma rede wireless gratuita.

Nas freguesias em causa, o JN encontrou várias pessoas favoráveis a uma gestão comum do centro histórico. "S. Nicolau, Miragaia e Vitória não têm um recinto desportivo", assinalou Armando Moreira, comerciante em Miragaia e simpatizante da "fusão política". Na mesma freguesia, Francisco José concorda e entende que "Miragaia não tem meios para se desenvolver sozinha".

Paulo Afonso, neto de um nativo de S. Nicolau e presença assídua na Ribeira, entende que a união trará "um desenvolvimento igual às quatro freguesias". Do lado do contra, falam mais as razões do coração.

Aida Teles, apressada para chegar a casa, junto à Sé Catedral, nem quer ouvir falar de fusões e proclama: "Tenho muito orgulho em ser da Sé e não gostava que houvesse misturas, sou muito bairrista". Maria Clotilde, comerciante na Ribeira, também não gostaria de ver S. Nicolau misturado com as vizinhas: "Deviam era olhar mais por isto, freguesia a freguesia, porque isto parece cada vez mais uma cidade fantasma".

|DORA MOTA - JN|

Comentários

Anónimo disse…
Excelente iniciativa. É incompreensível a existência de freguesias urbanas com menos de mil habitantes. Lisboa devia seguir a mesma iniciativa.