Regionalização do Algarve

Regionalização do Algarve começa pelos museus, sem pedir licença ao Governo

Como nasceu e evolui o reino do Algarve que ainda não é região. Esta é a narrativa que vai ser revelada pelos museus que decidiram agrupar-se para melhorar poderem contar Mil anos de História, a partir de 13 exposições montadas em diferentes pontos da região, com início no dia 18 de Maio. A iniciativa visa superar a falta de apoios da administração central para criar um projecto cultural mobilizador dos recursos existentes, valorizando a oferta turística.

"Está na hora", proclamou o director do museu municipal de Portimão, José Gameiro, ao apresentar a criação da Rede de Museus do Algarve. O apoio do Estado aos museus, disse, "termina em Évora, e o Algarve sempre esteve isolado" neste domínio. Ao longo de um ano, os responsáveis pelos museus da região conceberam o projecto de criação da Rede de Museus do Algarve. Agora, decidiram dar a conhecer a primeira manifestação daquilo que pensam vir a ser o esboço de uma iniciativa que ultrapasse as promessas partidárias de uma futura região administrativa: "Este é um caminho pioneiro para responder às circunstâncias políticas", justificou José Gameiro, um dos coordenadores da rede de museus.

Cada euro investido nos museus, lembrou Jorge Queiroz, do museu municipal de Tavira, tem um retorno de 2,5 euros nas actividades económicas ligadas ao sector turístico. A exposição Algarve - do Reino à Região: mil anos de história e cultura algarvia vai decorrer em 13 concelhos do distrito de Faro, existindo permuta de peças para tornar a mostra mais atraente. Alcoutim, por exemplo, vai dar a conhecer as estórias da Terra de Fronteira, tendo como fio condutor o contrabando, Silves mostrará a "sociedade islâmica" e em Albufeira serão revelados os "outros olhares" da antiga aldeia piscatória.

O director do museu municipal de Loulé, Luís Guerreiro, lembra, por seu lado, que a iniciativa que se vai prolongar por seis meses revela peças inéditas, "que só foram descobertas pela boa colaboração que se estabeleceu nas relações entre os museus". No seu caso, destacou a mostra sobre Mendes Cabeçadas e a Primeira República no Algarve, a inaugurar a 25 de Maio, integrada nas comemorações dos 100 anos da República. O museu de Portimão é aquele que, nesta altura, tem maior projecção. Recentemente foi distinguido pelo Conselho da Europa com o galardão "Museu do Ano", justificado pelo trabalho que desenvolveu no sentido de "aumentar a consciência de uma região muito marcada pelo turismo de massas".

A Entidade Regional de Turismo do Algarve está a promover o programa Allgarve, mas esta exposição não está contemplada. "O programa Allgarve abrange só a arte contemporânea", justificou o director do museu de Tavira. Porém, entende que, "passo a passo", a Rede de Museus do Algarve pode vir a "adquirir uma outra dimensão". Para já, a ideia é promover a "troca de experiências" para poder contar a história da região, a partir do período islâmico.

Em termos de acesso aos fundos comunitários, o Algarve sofreu uma forte redução no último quadro de apoio. Por isso, a criação de um museu, à escala do foi desenvolvido em Portimão, "muito dificilmente" poderia acontecer nos próximos tempos, admitiu José Gameiro. Para a cidade de Quarteira já foi apresentado um projecto para um centro cultural, da autoria de Souto Moura, que incluiu uma componente museológica dedicada ao turismo, mas a sua concretização ainda não tem prazos definidos.

|Publico|

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