Inovação na Beira Interior

Unidade, do grupo TAVFER, produz dois megawatts de energia e custou oito milhões de euros

Primeira central de biomassa funciona em Belmonte


O grupo TAVFER inaugurou no domingo, em Belmonte, a primeira central termoeléctrica de biomassa florestal da Beira Interior. A unidade já injecta energia na rede da EDP desde Janeiro e tem capacidade produzir mais do que os dois megawatts atribuídos no concurso público lançado pelo Governo em 2006.

A central representou um investimento de oito milhões de euros e está a funcionar com os desperdícios florestais produzidos em Belmonte, Covilhã, Guarda, Sabugal e Penamacor. Foram criados 12 novos postos de trabalho directos, sendo que o promotor estima que sejam gerados até 500 empregos indirectos na recolha e transporte da biomassa. O complexo foi inaugurado pelo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural que ouviu o empresário Fernando Tavares Pereira pedir menos burocracia, alguns apoios e o ordenamento da floresta portuguesa. «Este projecto foi inteiramente financiado por capitais próprios, não beneficiou de incentivos do QREN ou do Estado, pois este sector não é elegível», referiu o promotor, agradecendo à Câmara de Belmonte «o único apoio» recebido através da cedência, pelo prazo de 25 anos, do terreno onde está instalada a unidade.

«É mais um projecto nosso no interior e deveria haver outros similares nas zonas mais desertificadas para fomentar a fixação da população», desafiou o empresário, para quem este investimento é «uma mensagem de confiança no futuro do país». No entanto, Fernando Tavares Pereira chamou a atenção para a necessidade do Estado ordenar a floresta nacional, de cuja matéria-prima dependem as centrais de biomassa. «Se a reflorestação não for bem feita, investimentos como este podem estar em risco, além de que não estamos a contribuir para o enriquecimento das populações», afirmou. O empresário também pediu que se desburocratizem os procedimentos da administração pública, dizendo que alguns empreendimentos do grupo estão atrasados devido «a práticas de governantes e funcionários desconhecedores da realidade empresarial». Para Amândio Melo, autarca de Belmonte, o grupo TAVFER tem «todo o mérito», pois tem revelado «uma capacidade empresarial notável e contribuído para o desenvolvimento destes concelhos do interior».

Já o secretário de Estado sublinhou que os investidores são fundamentais para Portugal sair da crise: «Quem é que vai criar riqueza e postos de trabalho?», interrogou, elogiando o empresário por «acreditar nos portugueses» e numa região que «ainda tem um contributo muito grande a dar para o desenvolvimento do país», acrescentou.

«A floresta, a energia e o ambiente são fileiras que estão na ordem do dia na União Europeia e Portugal está na linha da frente, mas ainda há muito a fazer. Temos um potencial imenso do ponto de vista florestal», afirmou Rui Barreiro. A biomassa é feita a partir de mato, resíduos florestais, árvores, produtos agrícolas como a beterraba, cereais ou gás animal. É encarada não só como uma oportunidade de negócio e de criação de emprego em zonas rurais, mas também como um dos instrumentos de luta contra os incêndios, através da limpeza das florestas. Com o concurso público lançado em 2006 para a instalação de 15 centrais termoeléctricas de biomassa no país, a Direcção-Geral de Geologia e Energia esperava aproveitar até um milhão de toneladas de biomassa por ano para produzir electricidade e atingir os 150 megawatts de energia.


in O Interior (Guarda, Beira Interior), 27/05/2010

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