Partido do Norte - um mau caminho?

Políticos dizem que partido regional é um mau caminho

|CARLA SOARES - JN|

Políticos da Esquerda à Direita rejeitam a criação do Partido Norte, considerando que não faz sentido no sistema português e que irá, inclusive, prejudicar a defesa da regionalização. Por sua vez, o movimento propõe uma alteração constitucional que facilite esta reforma.

O Movimento pró-Partido Norte, liderado pelo socialista Pedro Baptista, colhe a mesma crítica do PSD, do PS, do PCP e do BE.

O líder distrital do PS/Porto, Renato Sampaio, argumenta que, para além da Constituição não permitir criar partidos regionais, "não há necessidade de mais nenhum partido, quer seja no Norte, no Centro ou no Sul". "É uma aberração", reage, alertando, por outro lado, que "discursos tão regionalistas" e "radicais afastam as pessoas da regionalização", reforma defendida pelo movimento.

O deputado social-democrata Agostinho Branquinho considera "errada a limitação constitucional à criação de partidos regionais". Porém, "neste momento, não se justificam" e seriam "irrelevantes" na actuação política. No caso específico do Partido Norte, julga que seria lesivo para a regionalização "porque, ideologicamente, é um saco de gatos" e "pode descredibilizar o processo".

Rui Sá, dirigente do PCP, crê que "os partidos regionais podem dificultar o processo de regionalização porque um dos papões apresentado tinha a ver com o desmembramento do país". E vê "associadas ao eventual partido" as forças partidárias que, "em Lisboa, mais criaram dificuldade" ao desenvolvimento do Norte.

Para João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, um partido regional "é péssimo para a região". "Penso que os próprios impulsionadores estão apenas a fazer pressão sobre os partidos para que se dediquem à regionalização. Não acredito que avancem para um partido", disse, ao JN.

Adepto da regionalização, nota que ela "não serve para criar um partido". E quem "aspire ter representação no Parlamento precisa de pronunciar-se sistematicamente sobre todos os temas". Além disso, lembra que o chumbo no referendo de 1998 deveu-se aos "argumentos extremamente bairristas". E "não é com este tipo de postura que nós vamos lá".

Também Fernando Gomes, ex-presidente da Câmara do Porto, crê que um partido regional "não é o melhor caminho" e "pode levar a que o país fique ainda mais dividido do que aquilo que estava no referendo" sobre a regionalização. O que é preciso, defende, "é convencer os dirigentes dentro de cada partido", em vez de "dar argumentos" a quem está contra.

Silva Peneda, antigo ministro social-democrata, nota que "Portugal não tem tradição deste tipo de fenómeno (partidos regionais). E "para criar regiões, o que é preciso é um grande entendimento".

Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, diz que o novo partido "é o resultado das pessoas já não acreditarem que vá haver regionalização" e concluírem que "é preciso, ao nível do sistema político, encontrar solução para o centralismo".

Paulo Morais, social-democrata que apoia o movimento mas continuará no PSD, pede uma alteração constitucional que permita criar partidos regionais e considera benéfico um partido que "defenda os interesses do Norte".

Pedro Baptista admite, porém, que o movimento poderá não esperar por uma revisão, criando o Partido Norte já em Outubro. Crê que a interpretação do texto constitucional deixa margem suficiente para isso e, em caso de chumbo, irá "recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos".

Em breve, apresenta "um mini-projecto de revisão constitucional" para retirar do referendo sobre as regiões a exigência de dupla maioria. Mas garante que o movimento "defende mais" do que a regionalização, "instrumento de desenvolvimento do Norte e do país". E acusa os partidos de "nada" fazerem por esta reforma.
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Comentários

douro disse…
Olha a surpresa!
Melhor caminho deve ser o desses partidos e desses políticos, que desde a Constituição de 1976 falam muito de Regionalização mas não atam nem desatam. São engraçados.
Caro Douro,

Que mais não fosse, pelo menos já teve o condão de agitar as águas.

Cumprimentos,
Anónimo disse…
Pois claro, não admira que reprovem o partido regional. Se lhes mexe no eleitorado e no peso, é claro que se cartelizam em coro contra o mesmo. Mas é precisamente isso que tem de dar mais força ainda ao Partido do Norte!
Rui Farinas disse…
Peço que considerem exposto aqui o comentário que deixei no blogue do Movimento. É que os ataques despropositados e de má-fé que os políticos "encartados" desferiram contra o Movimento,em minha opinião não podem ficar sem resposta.
templario disse…
Pelo andar da carruagem do debate sobre a regionalização, podemos imaginar o que seria do país se ela fosse implementada no terreno -balcanização pura e simples.

A luta entre lobbies e outros grupos ressabiados da "classe" política portuguesa, em luta pelo poder e pela gamela do OE, já estão em guerra:

-Ah vocês querem ser os chefes dos novos terreiros do paço e não contam connosco?!... Pois tomem lá disto, vamos criar um partido.

-Ah vocês querem criar partidos regionalistas?!... Pois fiquem sabendo que os vamos acusar de porem em causa a unidade nacional.

Todos eles andam ao rabisco, todos eles estão apostados em alcandorarem-se nas cadeiras do poder de onde garantirão a gamela para toda a vida e futuro para os seus filhos e restantes familiares.

Ó senhores regionalistas, digam lá, digam à gente, não tenham receio, para que querem afinal as regiões?

A procura de uma identidade distrital ou regional é uma quimera neste nosso Portugal. Os distritos não passam de uma herança napoleónica, centralista, contra o poder local.

Existe hoje um novo conceito o conceito de rede, que substitui (e desvanece) qualquer réstea de eventual identidade regional, especialmente num país como Portugal, que é antiregional.

Perguntem a um português de onde é que ele é. Poucos responderão que são da terra onde vivem. As pessoas estudaram numa terra, foram jovens noutras, constituiram vida e família noutra e, em muitos casos vão passar a reforma numa daquelas ou, até, noutra diferente.

Os sentimentos de pertença são muito complexos e variados no nosso país: economicamente posso sentir-me pertença de uma região, afetivamente noutra, mas culturalmente é duma média região europeia - Portuguesa.

Só por oportunismo provinciano podem falar de regiões homogéneas. E então hoje, com as novas tecnologias e redes rodoviárias. Estais mesmo a sonhar.

E fiquem sabendo: a regionalização em Portugal é um desígnio maçónico ibérico, como o é de partidos totalitários, que se regem pelo conhecido centralismo democrático. Já sabem quais são.

Como média região no quadro da UE, Portugal perderia influência e força no mundo global de hoje, onde cada um andava para seu lado até que engalfinhassem à batatada.
Pedro Matos disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Matos disse…
Completamente errado Templário.

A Regionalização é precisamente a solução ideal num mundo globalizado.

Provinciano e desajustado estruturalmente é o centralismo português.
Caro templario:

Ainda incrédulo com o seu comentário, de tanto irrealismo polvilhado que, mais uma vez, me põe a pensar se o senhor e eu viveremos mesmo no mesmo País, só vou deixar no ar duas questões, face a duas frases suas que me chocam ainda mais que o resto.

Citando-o:

"Existe hoje um novo conceito o conceito de rede, que substitui (e desvanece) qualquer réstea de eventual identidade regional".

Pode explicar-se? E, já agora, dizer onde é que esse suposto "conceito de rede" foi aplicado, os seus resultados e, mais ainda, se coincidiu com um reforço do poder central.

"Como média região no quadro da UE, Portugal perderia influência e força no mundo global de hoje, onde cada um andava para seu lado até que engalfinhassem à batatada."

Holanda, Dinamarca, Suíça, Áustria. Tudo países mais ou menos das nossas dimensões, "médias regiões no quadro da UE", segundo palavras suas. Todas regionalizadas. Vê alguma delas perder influência? Vê "batatada" em alguma delas"?
Responda com sinceridade. A sério. Pelo menos concretize uma vez que seja, caro templario.

Quanto ao resto, basta olhar para o que foi e é a evolução dos países centralistas e dos países regionalizados, dentro e fora da UE.

Sim, porque exemplos concretos são sempre melhores que conversas demagógicas baratas, e as pessoas devem sempre constatar os factos pelos seus próprios olhos, em vez de se lhes efectuar a "lavagem ao cérebro" que certos centralistas pretendem fazer ao aterrorizar (digo-o sem pejo nenhum, é um facto), as populações, fazendo da Regionalização uma personificação do diabo.

Enfim...

PS:
Com sinceridade lhe digo que, como Português, me sinto ofendido quando o oiço dizer que "Portugal é uma média região no quadro da UE".
Então uma pessoa como o templario, que se diz patriota ao ponto de assentar o seu discurso anti-regionalista na "defesa da unidade nacional", e que tanto gaba a nossa diferença e o nosso passado enquanto País, diz uma coisa destas?
Sendo assim não o posso considerar patriota. E custa-me muito chamar-lhe Português, pelo menos com letra maíuscula.

Tanta incoerência e demagogia nesse seu discurso, caro templario...
templario disse…
Senhor "PED",

Provincianismo e desajustado é a nossa irresponsabilidade, a nossa incompetência, o nossa mania de nos querermos pendurar, como anões, aos ombros de gigantes imaginários que não passam de quimeras, a nossa falta de exigência, a nossa permanente crença de que o Estado, como aparelho burocrático, resolverá todos os problemas (e por isso a fixação à volta de mais dimensões de poder), a nossa crença de que o Estado com mais órgãos de poder político nos vai resolver as nossas ambições, a nossa tendência oportunista de que tudo estará bem para nós se lá estiver o partido do meu amigo que está na Câmara, na JUnta de Freguesia, no organismo oficial tal e tal, a nossa satisfação de que aquele gajo que é nosso amigo e nos reconhece na rua, nos trata como um dos deles e que é pessoa de hierarquia oficial, é um gajo porreiro, muito popular e que, afinal, não percebe nada de nada, não tem capacidade para nada, é um analfabeto político, não tem qualidades e cresceu por maquinações traiçoeiras, sempre a falar em servir o povo. São destes gajos que andam à nossa volta que nos arranjam um emprego para o filho, para o irmão, pagos pelos nossos impostos, pelo nosso trabalho, e que continuam a ser eleitos; e passamos a chamar de oprtunistas, carreiristas, servidores dos capitalistas às pessoas que surgem com alternativas e capacidade para serem eficientes e bons servidores da causa pública - que desprezamos.

Mas isto vai direitinho, em primeiro lugar, para o interior do nosso sistema partidário. É aí que é preciso atacar, combater.

Nunca criar partidos regionais, onde se vão enfiar as franjas ressabiadas do actual sistema partidário.

É preciso uma revolução no interior dos partidos - pilares da democracia. Essa revolução tem que ser feita de fora para dentro.

Divulgue a página do Face Book:
"Adesão massissa aos partidos políticos"

É preciso entrar dentro dos partidos, ir para lá, pedir a palavra, exigir métodos democráticos e gritar para os caciques que por lá andam, que eles são inimigos do povo e da Pátria. É preciso! É preciso!

Os que querem criar partidos regionais são iguais ou piores do que de pior existe no sistema partidário - e querem desforra. Sabem lá eles o que é bom para o povo ou para o país! O que eles sabem de partidos é que são boas agências de emprego e como as coisas não lhe correram ou não lhes estão a correr bem, querem para eles esse tipo de instrumento, da mesma maneira que querem novos terreiros do paço.

Tão simples como isto.








O nosso provincianismo está na cobardia de não querer combater nesse campo, enfrentá-los, apoiar gente honesta, de estudar pouco, trabalhar só o suficiente, term
templario disse…
A última linha do meu anterior comentário era suposto tê-la cortado, o que não aconteceu.