Portugal, a Europa e as portagens


Nenhum país da Europa arranjou as auto-estradas sem portagens como bode expiatório para pagar a crise. Também verdade seja dita que nenhum país (à excepção de Inglaterra) se lembrou de um modelo tão mal feito como este para financiar a construção e manutenção das estradas gratuitas. Mas os outros países, alguns em situação igual ou pior que a nossa, foram por outro caminho. Aumentaram a eficiência da máquina fiscal, taxaram a banca, cortaram no Estado Central, diminuíram os salários dos gestores públicos...

Em Portugal, encaram-se as AE's como um bem de luxo, enquanto na Europa se encaram como estruturas fundamentais.

Em França, que tem fama de ser o país onde tudo se paga, têm-se construído AE's fundamentais (como a A75, no eixo Paris-Barcelona) sem portagens. Para além disso, a rede de nacionais é francamente boa, e há muitas vias reservadas com limite 110 km/h que em Portugal seriam imediatamente classificadas como AE e portajadas.

Na Espanha 80% da rede é gratuita, e, mesmo com esta crise, só se fala em acabar com portagens em algumas zonas. No Interior de Espanha, encaram-se as autovías como modo justo de promover as deslocações interurbanas que viabilizam economica e socialmente o Interior.
Em Portugal, ouvem-se declarações inacreditáveis a encarar Porto, Lisboa e Litoral exactamente da mesma maneira que o Interior.

Em Itália, as auto-estradas das zonas mais pobres (sul) não são pagas, como meio de discriminação positiva. (aqui em Portugal, vigora o "se eu pago, porque é que tu não pagas também?")

Na Dinamarca, só há portagens nas grandes estruturas rodoviárias (que aqui em Portugal teimam em achar que são estradas iguais às outras).

Na Holanda, Bélgica, Alemanha,... não há auto-estradas com portagens.

Como se não bastasse, somos um país periférico, que precisa mais de acessibilidades ao estrangeiro que os outros, e estamos a querer acentuar a nossa posição periférica por causa de guerras regionais, sem olhar às diferenças entre as regiões.

Enfim... Acho que é tempo de pensarmos um bocado, e aprendermos com o resto da Europa. Já era tempo de deixarmos de olhar apenas para o nosso cantinho, e aprender com quem tem mais experiência, analisando aquilo que se faz lá fora. E, principalmente, já era tempo de se ter uma visão global do País, como mosaico de realidades diferentes que devem ser tratadas de maneira diferente.

Se o fizéssemos, facilmente se perceberia em Portugal o porquê de se ter de discriminar positivamente o Interior, ou de manter boas vias de acesso gratuitas às fronteiras... E entenderíamos que esta política de portagens é um tiro no pé da nossa economia, acentuando um dos nossos principais problemas que é a periferização.

É neste ponto que a regionalização se torna um imperativo. Para que o poder decisório não conheça apenas a realidade das grandes cidades, mas tenha representantes em todo o território.

(nas imagens, troços de auto-estradas sem portagem em países da Europa Ocidental:
1ª: A75, na zona de Clermont-Ferrand, França;
2ª: A-21, na zona de Pamplona, Espanha;
3ª: A9, Berlim-Munique, Alemanha;
4ª: A3, na zona de Salerno, Itália;
5ª: Frederikshavnmotorvejen, Dinamarca)


Afonso Miguel

Comentários

Pois amigo Joao Marques, digo isto porque também sou Joao Marques da Costa.
Eu vivo na Holanda vai quase 12 anos, tenho cá minha casa e mulher e também o trabalho, o que quero dizer é o seguinte:
Eu tenho um carro a diesel é Alfa Romeu 147, pesa 1230 Kilos, sabe quanto eu pago por mês de imposto:
120 euros, ou seja 1440 euros por ano, veja bem a brutalidade de imposto que se paga aqui.
Parqueamento nas cidades o minimo que voçe paga é as vezes 1 euro por 30 minutos, e em certos sitios paga 1 euro por cada 12 minutos.
Amigo João Gostei do seu Blog, um grande abraço, mas infelizmente temos de viver com o que nos dão, por isso mesmo há os muito ricos e os muito pobres, não é verdade?
Um grande abraço para si
Anónimo disse…
EU TAMBEM SOU PORTUGUES;ATUALMEMTE VIVENDO NA ALEMANHA.AQUI NA ALEMANHA TAMBEM E COMO ESSE AMIGO DA HOLANDA CITOU.MAS DE UMA MENEIRA OU OUTRA NOS VIVEMOS NOUTRAS SITUACOES QUE NAO SE PODE COMPARAR COM A SITUACAO QUE VIVEM EM PORTUGAL.MAS DE QUALQUER MANERA;ESSE AMIGO DA HOLANDA PUXA A;BRASA A SUA SARDINHA. obrigado