O exemplo espanhol

A Espanha, que não é um estado mais um conjunto de estados, soube aproveitar a diversidade para, nos momentos que verdadeiramente interessam, usar a seu favor a unidade

A Espanha passa dias de grande dificuldade: o desemprego é brutal e os cortes impostos pela crise económica e financeira são pesadíssimos. O Governo de Zapatero vive o seu pior momento, depois dos anos de ouro que estouraram quando a bolha do imobiliário rebentou com (esperado) fragor. Lá como cá, o futuro pinta-se com cores escuras. Esperança não é palavra que, por estes dias, baile assiduamente nas cabeças dos espanhóis. E das nossas.

Pode a conquista do ceptro de campeão do Mundo de futebol ajudar a minorar a azia? Pode. Um estudo mostra que a alegria resultante do título deverá provocar um aumento de 0,25% no Produto Interno Bruto (riqueza produzida), por via da subida do consumo. Ocorre, no entanto, que isso será sempre sol de pouca dura…

Este lado efémero da vitória de Espanha no Mundial contrasta, porém, com o lado mais persistente (e consistente) das suas conquistas em variadíssimos outros desportos. Nas páginas 4 e 5 desta edição procurámos lançar algum luz sobre o que pode explicar o sucesso espanhol em modalidades que vão do andebol ao futsal, do basquetebol ao automobilismo, da vela ao futebol… Nos últimos anos, a vitrina espanhola encheu-se de troféus que enchem de orgulho aquele país monárquico. E que deve servir de exemplo a muitos outros países...

As vitórias e os sucessos de muitos atletas espanhóis têm seguramente a ver com o estado de desenvolvimento da Espanha, no desporto como em muitas outras áreas. Este país, que não é um estado mas um conjunto de estados, soube aproveitar a diversidade para, nos momentos que verdadeiramente interesssam, usar a seu favor a unidade.

O melhor exemplo disso mesmo: a espinha dorsal da seleccção vencedora do campeonato do Mundo de futebol (e antes do campeonato da Europa) é formada por sete jogadores do Barcelona, a equipa que os catalães erguem até aos céus (e cheios de razão, nos últimos anos) como símbolo da independência há tanto tempo reclamada.

De volta ao ponto: não é certo que a criação de regiões administrativas garanta a Portugal lugar no pódio nas mais variadas modalidades desportivas. Mas, à luz do caso espanhol, é quase certo, arrisco dizê-lo, que os equilíbrios territoriais e económicos que as regiões podem proporcionar ajudarão, seguramente, à criação de mais e melhores condições para que mais pessoas possam fazer melhor. Com uma vantagem adicional: não havendo, por cá, tensões separatistas, o caminho parece mais fácil.

| Paulo Ferreira - JN|

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